Ação policial
Guerra ao tráfico marca morte 400
Matador de uma gangue do tráfico é morto em confronto durante operação e marca a chegada às 400 mortes violentas na Região Metropolitana
Passava das 6h de ontem, quando a movimentação de policiais na Rua Guará, Bairro São Sebastião, na Zona Norte da Capital, despertou um dos alvos da Operação Matrix, da Polícia Civil. No apartamento da ex-companheira, Plínio César Ribeiro, o Formiga, 32 anos, que tinha um mandado de prisão preventiva contra si, reagiu.
Trocou tiros com os agentes - deixou um deles ferido - e acabou morto com pelo menos oito disparos.
Este foi o 400º homicídio nas 19 principais cidades da Região Metropolitana e Vale do Sinos desde o começo do ano, de acordo com levantamento feito pelo Diário Gaúcho. E confirmou uma constante em 2013: as mortes devido ao tráfico.
Dos 400 homicídios, a polícia sabe os motivos de 234. Destes, 143, ou 61%, tinham relação com o tráfico de drogas.
Executor da quadrilha
Formiga era considerado pela polícia o matador de uma quadrilha, investigada há pelo menos três meses entre Cachoeirinha e Gravataí. Conforme a 1ª DP de Cachoeirinha, ele matou - provavelmente usando a mesma pistola 9mm apreendida ontem -, pelo menos cinco pessoas nos dois municípios desde 2012.
Repressão a quadrilhas
A operação, desencadeada a partir do Bairro Parque da Matriz, em Cachoeirinha, tinha como objetivo reprimir mais um confronto armado entre quadrilhas por territórios do tráfico na Região Metropolitana. Os alvos eram criminosos da facção Os Manos, que resiste ao avanço dos Bala na Cara em Cachoeirinha e Gravataí.
De acordo com o delegado Rafael Liedtke, que comandou a investigação, o bando tem conexões com Porto Alegre e comanda bocas entre a Zona Norte de Cachoeirinha e a Morada do Vale, em Gravataí.
O homicídio 400
- A média de 2,9 homicídios por dia nas 19 principais cidades da Região Metropolitana e do Vale do Sinos desde o início do ano representa 9,3% a menos do que o observado ano passado, quando a morte 400 foi atingida duas semanas antes.
- Em relação a 2011, no entanto, a média é 17% superior. Naquele ano, a morte 400 foi registrada um mês depois.
- Plínio César Ribeiro, o Formiga, 32 anos, respondia criminalmente por roubo e tráfico. Estava com prisão preventiva decretada por tráfico e era investigado por pelo menos cinco homicídios cometidos desde 2012.
Policiais foram recebidos a bala
Nove agentes foram cumprir o mandado na Rua Guará. Formiga os esperou com a 9mm já apontada, por uma fresta na porta do quarto. Ao notar o primeiro policial no corredor, atirou. Segundo o depoimento dos agentes, o policial, da 3ª DP de São Leopoldo, teve sorte e agilidade. Jogou-se ao chão e acabou atingido de raspão no braço direito.
Segundo o diretor do Departamento de Polícia Metropolitana (DPM), delegado Antônio Vicente Vargas Nunes, a atitude perigosa do criminoso justificou o forte aparato de 150 agentes empregados na operação.
- Foi o nosso preparo e superioridade que garantiram, dessa vez, a vitória do lado do bem - afirma o delegado.
Já durante as investigações, a ousadia do criminoso havia sido comprovada pela polícia. Ele executava suas vítimas usando uma moto 600 cilindradas, que lhe garantia uma fuga rápida. A moto foi apreendida na operação de ontem.
Com Formiga, foi encontrado também um distintivo da Polícia Civil.
14 já morreram em confrontos
Desde o começo do ano, conforme o levantamento do Diário Gaúcho, 14 pessoas foram mortas por policiais, civis ou militares, na Região Metropolitana. Uma média mensal 10,7% superior à registrada no ano passado, de 31 mortes. O homicídio de Formiga foi o primeiro caso durante uma operação da Polícia Civil.
Quadrilha tinha até tele-entrega
Na operação, 12 pessoas - entre as quais sete mulheres - foram presas preventivamente por tráfico. De acordo com o delegado Rafael Liedtke, elas administravam as bocas e mantinham contato com o comando do grupo.
- A partir do Parque da Matriz, a droga vinha em carregamentos da Zona Norte de Porto Alegre. Ali, era feito o reparte entre os pontos de tráfico - diz Rafael.
Eram usados motoboys e carros para levar a droga para as bocas. Foram apreendidos carros, uma moto, três pistolas - 9mm, 45 e 22 - e um revólver calibre 38. A polícia ainda procura pelo menos outros três líderes da quadrilha.
Traficantes disputam região palmo a palmo
A operação revelou a repetição dos conflitos do tráfico que polarizam praticamente toda a Região Metropolitana. De um lado, há o avanço da facção dos Bala na Cara. De outro, Os Manos tentam manter seu prestígio. E o controle da situação pelas autoridades fica cada vez mais complicado.
- Não há exatamente uma evolução das quadrilhas, mas, infelizmente, falta perna ao Estado para evitar os conflitos - acredita o diretor do Departamento de Polícia Metropolitana (DPM), delegado Antônio Vicente Vargas Nunes.
Liderança dentro das cadeias
Segundo ele, as ações policiais aumentaram. Mas as prisões de traficantes e o desmantelamento das quadrilhas abrem espaço para novos grupos criminosos. E a guerra recomeça.
- Nosso desafio é conseguir, por exemplo, com os Territórios da Paz, neutralizar o reaparelhamento dos bandos - explica.
A ideia de que as guerras do tráfico estão sendo moldadas nas cadeias ficou evidente nessa semana, com a divulgação de uma estatística da Susepe. De 2008 para cá, o número de presos por envolvimento com o tráfico aumentou, de pouco mais de mil para 13 mil. É quase metade da população carcerária gaúcha.
Foi exatamente nos últimos cinco anos que a facção dos Bala na Cara se fortaleceu nos presídios.
O ranking
Municípios mais violentos (por número de assassinatos):
Porto Alegre - 168
Canoas - 47
Alvorada - 36
Viamão - 28
Novo Hamburgo - 26
Gravataí - 23
São Leopoldo - 22
Guaíba - 14
Cachoeirinha - 11
Sapucaia do Sul - 10
Ver Ranking dos homicídios na Região Metropolitana e Vale do Sinos 2013 num mapa maior