Polícia



Policiamento

PMs estão nas ruas, mas cobertor ainda é curto

Falta de patrulhamento provoca insegurança na Capital

13/05/2013 - 07h33min

Atualizada em: 13/05/2013 - 07h33min


Nos dias 8 e 9 de maio, a reportagem do Diário Gaúcho completou 14 horas rodando por 126km entre as principais vias das zonas Sul, Leste e Norte da Capital para conferir a presença do policiamento nas ruas. Com o ingresso de 483 novos soldados na Brigada Militar em Porto Alegre, a garantia do governo estadual era retomar a ideia dos PMs "Pedro e Paulo", aqueles policiais que, em dupla e a pé, ficam visíveis e conhecidos da comunidade.


Até certo ponto, a promessa foi cumprida. Mas, assim como já havia acontecido em outras safras de reforços na Brigada, a realidade do cobertor curto voltou a ocorrer. Se a presença de policiais em avenidas como a Bento Gonçalves e a Assis Brasil trouxe alívio aos comerciantes, em vias nevrálgicas da Zona Sul isso não se repetiu.


Durante o levantamento, no primeiro dia foram vistos a pé 29 policiais e, no segundo, 24 - todos recém-integrados. Circulando em viaturas, foram 36 no primeiro dia e, no segundo, outros 59.


"Eu tenho que ser realista"


De acordo com o responsável pelo Comando de Policiamento da Capital (CPC), coronel João Diniz Prates Godói, a chegada das novas turmas reforçou o policiamento ostensivo.


- Melhorou bastante. Quanto mais gente eu tiver, melhor. Tenho que ser realista, fazer com aquilo que eu tenho e usar da melhor forma possível - disse o comandante.


Além dos 483 novos PMs, Porto Alegre deve receber 95 do Interior, cujas transferências ainda não foram finalizadas. Com isso, o efetivo da Capital chegaria a 3 mil PMs. Segundo estudos, o ideal seriam5 mil policiais militares. Ainda assim, o coronel comemora, pois garante que a população tem dado retorno:


- Eu tenho recebido relatos de pessoas que têm visto policiamento montado, a pé e motorizado pelas ruas. E isso já é um reflexo. Algumas vezes, a gente modifica o policiamento para poder atender determinado evento, ou os PMs saem para levar um preso para a delegacia. Isso sim, pode variar - explicou.


Melhorou, porém o medo ainda persiste


Há duas semanas, desde que o PM Portela foi efetivado no 20º BPM, funcionários da farmácia na esquina da Avenida Assis Brasil com Rua Abaeté, Bairro Sarandi, têm um novo vizinho. A quadra se tornou atribuição dele, que patrulha a região a pé. A presença dele parece ter mudado o clima.


- É um alívio, né? A gente trabalha com muito mais tranquilidade sabendo que temos a quem recorrer. Desde que entraram os novos policiais, melhorou - destaca uma atendente.


Ela não se identifica. Ainda tem na lembrança cenas de uma semana antes da presença do policiamento na avenida. Em um domingo, os funcionários foram mantidos sob a mira de um revólver durante assalto. A Brigada só chegou depois, acionada pelas vítimas.


Mas, se uma das principais vias da Zona Norte se tornou bom exemplo, o mesmo não se pode dizer da vizinhança. Na Avenida Bernardino Silveira Amorim, que separa os bairros Rubem Berta e Sarandi e é uma das recordistas em homicídios, a aposentada Joice Dias, 57 anos, não notou diferença.


- Continua a mesma coisa. Só aparece polícia quando tem desgraça. Brigadiano a pé, eu nunca vi - diz.


PRESENÇA DE PMs


1º dia 2º dia


Getúlio Vargas 2 PMs 3 viaturas 


José de Alencar 1 viatura -


Sepé Tiaraju - 2 


Orfanotrófio - 3 


Dona Malvina - 1 viatura 


Wenceslau Escobar - 1 


Otto Niemeyer - 2 vts e 1 PM a pé 


Cavalhada 1 viatura 1 PM a pé 


Eduardo Prado - 1 PM a pé 


Juca Batista 1 PM a pé 2 PMs 


Edgar Pires de Castro 1 viatura 4 viaturas 


João Antônio da Silveira  3 PMs, 1 vt e uma moto 2 viaturas 


Ignês Fagundes 1 viatura - 


Nilo Wulff 1 viatura - 


João de Oliveira Remião 1 PM 3 viaturas 


Afonso Lourenço Mariante 1 viatura -


Estrada São Francisco - 2 PMs


Antônio de Carvalho 1 viatura -


Ipiranga 4 PMs 2 PMs e uma vt


Protásio Alves 1 PM 2 viaturas 


Wolfram Metzler 1 viatura 1 viatura 


Assis Brasil 7 PMs, 3 viaturas 6PMs, 1 vt 


Farrapos 2 PMs 1 PM 


João Pessoa - 1 viatura 


Azenha - 2 PMs, 1 vt 


Bento Gonçalves 9 PMs, 1 viatura 2PMs, 1 viatura


Diário Gaúcho ouviu a população. Houve melhora em alguns locais, mas em outros...


Avenida Assis Brasil:


Chamavam a atenção os soldados Oliveira e Braga - ambos formados com a última turma da Brigada - montados a cavalo em um cenário dos mais urbanos da Capital, na esquina com a Rua Panamericana.


Eles faziam o patrulhamento a cavalo na região do Bairro Lindoia, por volta das 16h de quarta.


- Essa forma de policiar nos permite ser mais vistos e enxergar muito melhor - explicou o soldado Oliveira.


Avenida Bento Gonçalves:


Da frente de sua ferragem, o comerciante Valdir Fraga, 49 anos, consegue ver o movimento da rua. E nas últimas duas semanas notou uma mudança.


- Nos últimos 15 dias apareceram uns quantos PMs. Ainda é gato pingado, mas é mais seguro do que dias atrás. Acho que todos são da última turma - explicou.


Não foram vistos PMs nas vias Padre Cacique, Jacuí , Moab Caldas, Silvério, Icaraí, Cristiano Fischer, Ângelo Crivelaro, São Simão, Prof. Abílio Azambuja, Santa Isabel, Da Fonte, Dr. Sinval Saldanha, Patagônia, Panamá, Dr. Murtinho, Alfredo Ferreira Rodrigues, Del. Ely Corrêa Prado, Martim Félix Berta, Adelino Ferreira Jardim, Baltazar de Oliveira Garcia, Maurício Seligman, Bernardino Silveira Amorim e Cairu.


Estrada Martim Félix Berta:


A cabeleireira Marli Santos, 57 anos, trabalha há 23 anos no coração do Jardim Leopoldina, Bairro Rubem Berta. Os dez últimos, com a grade fechada.


- Só atendo com hora marcada e clientes que já conheço, é perigoso aqui - resume.


O medo de assaltos faz com que recuse clientes homens e atenda apenas os que conhece ou por indicações.


Perguntada se via com frequência PMs a pé na Avenida Adelino Ferreira Jardim, Marli foi enfática:


- Nem a cavalo, quem dirá a pé. Quando tem um "acontecimento", eles aparecem aqui.


Rua Clóvis Bevilacqua:


- Brigadiano aqui? Nem quando a gente chama eles aparecem - garante a dona de casa Rosimeri Morelli, 47 anos, que mora há 25 no Bairro Bom Jesus.


Por volta das 15h de quarta, a reportagem não localizou sequer uma viatura entre as ruas do bairro considerado um dos mais conflagrados da Capital.


Avenida Delegado Ely Corrêa Prado:


- Toda a segurança aqui é pouco. Graças a Deus nunca me assaltaram, mas eu nunca vi um policial a pé nesse terminal. É um perigo - disse o aposentado Djalma da Silva, 75 anos, enquanto esperava o ônibus no terminal antes das 16h de quarta.


Avenida Getúlio Vargas:


Por volta das 10h30min de quarta, o policiamento nas ruas do Bairro Menino Deus era diferenciado. Dois policiais guarneciam a região com um cachorro. De acordo com os soldados, o cão é um auxiliar de peso, permitindo abordar mais pessoas e com mais eficiência. Desde o ingresso na turma de formação de policial militar, o soldado Estrela já havia se oferecido para atuar com o canil da Brigada. Ele faz parte dos novos PMs.


Avenida Moab Caldas:


Morador há 20 anos na região, o segurança Getúlio Vargas, 62 anos, garante que nada mudou, mesmo com os investimentos na duplicação da via, que a transformará em uma das mais importantes na ligação entre a Zona Sul e o Centro:


- Nunca vi um brigadiano a pé por aqui. É um mundo de gente que circula na nossa região, acho que deveríamos ter mais policiamento que a gente pudesse ver.


Estrada João Antônio da Silveira:


Por volta das 13h de quarta, era horário de movimento intenso na lotérica próxima ao Camelódromo da Restinga. Três PMs, em uma viatura e em uma moto estacionados, garantiam a segurança. Para o aposentado Luis Carlos Bitencourt, 58 anos, ainda insuficiente.


- Aquele policial antigo, a pé e em dupla, faz muito tempo que não vejo aqui. Quando saio para as minhas caminhadas, só vejo viaturas de vez em quando - contou o morador.


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