Polícia



Porto Alegre

Alunos reféns de criminosos em escola no Bairro Rubem Berta

Ladrões aproveitam o entorno do local para assaltar estudantes. Este ano, 13 casos foram registrados

19/08/2013 - 07h37min

Atualizada em: 19/08/2013 - 07h37min


Estabelecimento estudantil fica em local escuro

Vinte e cinco minutos. Foi o tempo que a estudante de contabilidade Isabela Monteiro, 37 anos, ficou esperando por colegas no corredor de ônibus da Baltazar de Oliveira Garcia. Motivo: percorrer em grupo os 250m que separam a parada da Escola Técnica Estadual José Feijó, no Bairro Rubem Berta, Zona Norte da Capital.

Andar sozinho pelas ruas Nossa Senhora de Fátima e Enéas Flores é dar chance aos assaltantes. Este ano, pelo menos 13 alunos foram assaltados no trecho, nos horários de entrada e saída da escola. 

Com Isabela, outras três alunas subiam a Rua Nossa Senhora de Fátima, às 19h15min de sexta-feira. Tanize Oliveira, 31 anos, contou que, dias antes, o assaltado foi um colega da turma dela, que iniciou o curso com 40 alunos e, hoje, tem apenas 15 estudantes.

- Os colegas abandonam o curso por várias razões, mas a maioria é pela insegurança aqui em volta - contou.

As outras duas estudantes, Patrícia Baldez, 28 anos, e Aline Souza, 31 anos, fazem coro às reclamações. Por medo de subir sozinhas - dos 13 assaltos, em 12 as vítimas eram mulheres -, elas ficam na parada aguardando pelas colegas.

Policiais fizeram salvaguarda

Poucos minutos antes, três estudantes apressavam o passo para subir a via. Mal pararam para conversar com o Diário Gaúcho. Motivo: medo dos assaltos.

- A gente chega a perder o primeiro período para não subir sozinha - relata Isabela.
Na noite de sexta, o percurso foi feito com um pouco mais de calma. Dois PMs, que desde o dia 9 patrulham o entorno da escola, desceram em direção à Baltazar e acompanharam a caminhada das estudantes até a escola técnica.

Na chegada e na saída é onde mora o perigo

A agenda do vice-diretor do turno da noite da José Feijó não tem apenas anotações sobre compromissos e planos da escola. Desde junho, Edson da Silva Jardim,
50 anos, registra detalhes de cada um dos 13 assaltos dos quais os alunos foram vítimas.

Baseado nos relatos, ele notou que os ataques são na entrada, entre 18h50min e 20h10min, e quando os 380 estudantes deixam a escola, às 22h30min.

Das quatro escolas da área, apenas a José Feijó tem aulas à noite. Após as 18h, o movimento reduz nas proximidades.

"Já presenciei dois assaltos"

A pé ou de carro, os bandidos rendem estudantes durante a curta e escura caminhada. Em volta, há uma obra e um terreno vazio, sem iluminação.

- Eu ainda não fui roubada, mas já presenciei dois assaltos na subida do colégio, no momento em que os alunos estão entrando. Tenho uma filha de três anos em casa e preciso estudar, mas estou com muito medo. Meu marido trabalha à noite e é obrigado a sair por um tempo só para me buscar. Esse problema está mudando toda a nossa rotina - contou uma das alunas, que preferiu não se identificar.

No ano passado, dez alunos que aguardavam na parada foram vítimas de um único criminoso.

Deboche aos PMs

Nem a presença de dois brigadianos, colocados para circular na quadra entre as ruas Coronel Ricardo Leal Kelleter, Enéas Flores e Nossa Senhora de Fátima e a Avenida Baltazar de Oliveira Garcia, parece inibir os assaltantes.

Quarta-feira, às 19h30min, enquanto os PMs circulavam na quadra, um aluno foi assaltado por criminosos em um Fox vermelho. Levaram a mochila do estudante, que foi buscar socorro na escola.

- Bandidos aproveitam até o momento em que os brigadianos estão do outro lado da rua e assaltam, nas costas dos policiais - relata a estudante.

Ofício foi enviado ao 20º BPM

Em 2 de julho, o diretor Edson encaminhou um ofício ao comando do 20º BPM relatando os casos e pedindo policiamento. Em 9 de agosto, depois de mais dois assaltos, o pedido foi atendido.

Ficou acertado que o batalhão colocaria dois policiais militares, das 18h30min às 20h e das 21h30min às 22h30min. A ação ajudou. Mas, segundo a escola, não tem sido suficiente.

Ataque aos veículos

Desde que os roubos aumentaram, alunos passaram a estacionar veículos ao lado da quadra esportiva. Para isso, precisam que uma funcionária da escola abra o portão eletrônico.

Na noite de 25 de junho, uma estudante chegava de moto e foi rendida por uma dupla, que na fuga deixou a moto apagar. O barulho chamou a atenção de Edson, que foi até o pátio:

- Um deles apontou uma arma para mim e mandou que entrasse de novo na escola.
Os bandidos conseguiram fazer a moto pegar e a levaram. O veículo foi achado horas depois.

Casos mais recentes:

- 7 de junho - 22h40min
- 25 de junho - 20h10min
- 2 de julho - 18h53min
- 6 de agosto - 19h20min
- 9 de agosto - 19h25
- 14 de agosto - 19h30min

Caso antigo

Em 2007, o Diário Gaúcho chamava a atenção para criminosos que furtavam o Colégio Feijó. Com maior policiamento, o problema foi minimizado. Agora, os ladrões voltaram à carga, desta vez no entorno da escola na Zona Norte da Capital.


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