Entre o revólver e a faca
Centro da Capital registra em média quatro assaltos com armas por dia
Mudança no estilo dos ataques a pedestres na área central preocupa a polícia. Levantamento mostra que aumenta o número de roubos com armas
"Eram 20h30min, estava aqui no terminal (Parobé) esperando pelo Nova Gleba quando um cara encostou um canivete nas minhas costas e me mandou passar a bolsa."
Esse é o relato da vendedora Elisangela Fernandes, 31 anos, vítima de um dos 124 assaltos no Centro de Porto Alegre em julho.
O levantamento foi feito pelo Diário Gaúcho, com base nas ocorrências da 17ª DP. Segundo a polícia, a violência na região está aumentando. Os agentes identificam uma mudança no estilo dos ladrões. Mais do que com batedores de carteira e trombadinhas, agora os policiais estão preocupados com os ataques feitos por criminosos armados.
- Tem aumentado o número de assaltos, principalmente com faca, próximo dos terminais de ônibus - alertou o delegado Hilton Müller, da 17ª DP.
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Quatro ataques por dia
Em julho, a cada dia, quatro pessoas foram assaltadas com arma ou faca na região. Outro índice que assusta é o aumento dos homicídios na área. Em 2012, até
2 de agosto, haviam sido quatro casos. Este ano, o levantamento do Diário já contabilizou seis assassinatos.
A faixa de horário campeã de registros é a das 16h às 21h. Foram 35 apenas em julho. E os alvos preferidos dos criminosos são as pessoas que esperam ônibus para voltar para casa, como Elisângela.
Faltam PMs, dizem usuários
Na noite de terça-feira, o Diário percorreu três dos terminais mais movimentados do Centro: Parobé, ao lado do Mercado Público, Rui Barbosa, no Camelódromo, e Conceição, no Viaduto da Conceição. Nos três, os relatos de comerciantes, fiscais e usuários é o mesmo: a violência é frequente, e não se vê nem sinal do policiamento ostensivo.
Terminal Parobé
A boa iluminação e a proximidade com a 1ª Cia do 9º BPM não intimidam os ladrões que agem no terminal Parobé. Foi lá que Elisângela foi assaltada em julho. Na noite de quinta-feira, esperando pelo ônibus, ela avisa:
- Eles surgem do nada. Basta tu pegar o celular na mão, pra olhar ou atender que eles aparecem e passam a mão no teu aparelho.
Uma usuária da mesma linha, que aguardava na fila ao lado dela, concordou e fez coro às reclamações pela falta de policiamento no local.
BM promete reforço
- Realmente, a maior parte dos fatos ocorrem no nosso quarto turno, das 18h à meia-noite - admite o comandante da 1ª Cia do 9º BPM, capitão Euclides Maria da Silva Neto.
Segundo o oficial, ações como a criação de uma patrulha central, a pé, serão implementadas a partir dessa semana.
A instalação de câmeras nos terminais também é um alternativa estudada pelo 9º BPM.
Terminal Rui Barbosa
Foi no Terminal Rui Barbosa que o ferreiro Roger Ferreira Santiago, 20 anos, morreu na manhã de 20 de novembro de 2012, após ser esfaqueado em um assalto na Julio de Castilhos. O medo de passar por situação semelhante é relatado pelos usuários.
Até as 19h, quando o movimento é mais intenso e a presença de fiscais é maior, os bandidos evitam o ponto. Depois desse horário, os assaltos viram rotina. Na parte entre a Mauá e a Julio de Castilhos, onde param os ônibus intermunicipais, é difícil encontrar alguém depois das 23h. Os passageiros esperam do outro lado da Júlio, junto a uma fruteira.
- Eles ficam todos aqui. Quando o ônibus encosta, atravessam a Júlio. Ninguém quer ficar ali, porque sabe que vira alvo fácil - conta um funcionário da fruteira.
Faca e revólver são as armas mais usadas pelos ladrões.
- É muito arriscado pegar ônibus aqui nesse horário - contou um cabeleireiro de
54 anos, às 19h45min de terça.
Terminal Conceição
Às 5h30min, Gilberto Locatelli, 50 anos, abre sua banca no Terminal Conceição, de onde saem diversas linhas para a Região Metropolitana. Há dois anos, ele vende lanches em frente às linhas que vão para o Vale do Sinos.
Gilberto conta que, depois de vários arrombamentos, os comerciantes se reuniram para pagar um vigia particular.
- O que mais tem aqui é pedreiro (usuário de crack) e ladrão. E, se revistarem, vão ver que cada um tem pelo menos uma faca - contou Gilberto.
Os criminosos não atacam apenas na fila do ônibus, mas também dentro dos banheiros do terminal.
Além da falta de PMs, os fiscais chamam a atenção para a precariedade do local. Dos três terminais, o Conceição é mais mal iluminado.
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