Polícia



Entre o revólver e a faca

Centro da Capital registra em média quatro assaltos com armas por dia

Mudança no estilo dos ataques a pedestres na área central preocupa a polícia. Levantamento mostra que aumenta o número de roubos com armas

08/08/2013 - 07h22min

Atualizada em: 08/08/2013 - 07h22min


Entre 16h e 21h, o número de ataques é maior. Terminais de ônibus escuros, como da Conceição, são convite para os ladrões

"Eram 20h30min, estava aqui no terminal (Parobé) esperando pelo Nova Gleba quando um cara encostou um canivete nas minhas costas e me mandou passar a bolsa."

Esse é o relato da vendedora Elisangela Fernandes, 31 anos, vítima de um dos 124 assaltos no Centro de Porto Alegre em julho.

O levantamento foi feito pelo Diário Gaúcho, com base nas ocorrências da 17ª DP. Segundo a polícia, a violência na região está aumentando. Os agentes identificam uma mudança no estilo dos ladrões. Mais do que com batedores de carteira e trombadinhas, agora os policiais estão preocupados com os ataques feitos por criminosos armados.

- Tem aumentado o número de assaltos, principalmente com faca, próximo dos terminais de ônibus - alertou o delegado Hilton Müller, da 17ª DP.

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Quatro ataques por dia

Em julho, a cada dia, quatro pessoas foram assaltadas com arma ou faca na região. Outro índice que assusta é o aumento dos homicídios na área. Em 2012, até
2 de agosto, haviam sido quatro casos. Este ano, o levantamento do Diário já contabilizou seis assassinatos.

A faixa de horário campeã de registros é a das 16h às 21h. Foram 35 apenas em julho. E os alvos preferidos dos criminosos são as pessoas que esperam ônibus para voltar para casa, como Elisângela.

Faltam PMs, dizem usuários

Na noite de terça-feira, o Diário percorreu três dos terminais mais movimentados do Centro: Parobé, ao lado do Mercado Público, Rui Barbosa, no Camelódromo, e Conceição, no Viaduto da Conceição. Nos três, os relatos de comerciantes, fiscais e usuários é o mesmo: a violência é frequente, e não se vê nem sinal do policiamento ostensivo.

Terminal Parobé

A boa iluminação e a proximidade com a 1ª Cia do 9º BPM não intimidam os ladrões que agem no terminal Parobé. Foi lá que Elisângela foi assaltada em julho. Na noite de quinta-feira, esperando pelo ônibus, ela avisa:

- Eles surgem do nada. Basta tu pegar o celular na mão, pra olhar ou atender que eles aparecem e passam a mão no teu aparelho.  

Uma usuária da mesma linha, que aguardava na fila ao lado dela, concordou e fez coro às reclamações pela falta de policiamento no local.

BM promete reforço

- Realmente, a maior parte dos fatos ocorrem no nosso quarto turno, das 18h à meia-noite - admite o comandante da 1ª Cia do 9º BPM, capitão Euclides Maria da Silva Neto.

Segundo o oficial, ações como a criação de uma patrulha central, a pé, serão implementadas a partir dessa semana.  

A instalação de câmeras nos terminais também é um alternativa estudada pelo 9º BPM.

Terminal Rui Barbosa

Foi no Terminal Rui Barbosa que o ferreiro Roger Ferreira Santiago, 20 anos, morreu na manhã de 20 de novembro de 2012, após ser esfaqueado em um assalto na Julio de Castilhos. O medo de passar por situação semelhante é relatado pelos usuários.

Até as 19h, quando o movimento é mais intenso e a presença de fiscais é maior, os bandidos evitam o ponto. Depois desse horário, os assaltos viram rotina. Na parte entre a Mauá e a Julio de Castilhos, onde param os ônibus intermunicipais, é difícil encontrar alguém depois das 23h. Os passageiros esperam do outro lado da Júlio, junto a uma fruteira.

- Eles ficam todos aqui. Quando o ônibus encosta, atravessam a Júlio. Ninguém quer ficar ali, porque sabe que vira alvo fácil - conta um funcionário da fruteira.

Faca e revólver são as armas mais usadas pelos ladrões.

- É muito arriscado pegar ônibus aqui nesse horário - contou um cabeleireiro de
54 anos, às 19h45min de terça.

Terminal Conceição

Às 5h30min, Gilberto Locatelli, 50 anos, abre sua banca no Terminal Conceição, de onde saem diversas linhas para a Região Metropolitana. Há dois anos, ele vende lanches em frente às linhas que vão para o Vale do Sinos.

Gilberto conta que, depois de vários arrombamentos, os comerciantes se reuniram para pagar um vigia particular.

- O que mais tem aqui é pedreiro (usuário de crack) e ladrão. E, se revistarem, vão ver que cada um tem pelo menos uma faca - contou Gilberto.

Os criminosos não atacam apenas na fila do ônibus, mas também dentro dos banheiros do terminal.

Além da falta de PMs, os fiscais chamam a atenção para a precariedade do local. Dos três terminais, o Conceição é mais mal iluminado.

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