Medo no campo
Produtores rurais de Glorinha sofrem com furto de animais
Pequenos produtores são alvos de criminosos, que matam animais ainda nas propriedades
Na madrugada de ontem, João Neri Rodrigues, 69 anos, não pregou o olho. Por duas vezes, caminhou até a mangueira onde estavam os bois, ovelhas, porcos e cabras. Ficou ali, escondido no brete, à espreita dos ladrões. Para sua sorte, dessa vez não apareceram, mas o pesadelo persiste.
Tem sido assim com ele e com boa parte dos vizinhos no Bairro Três Figueiras, em Glorinha, nos últimos meses. No primeiro semestre de 2012, a Secretaria Estadual da Segurança indicava 30 furtos na cidade de 7 mil habitantes. No mesmo período deste ano, saltou para 48. A estimativa é de que um terço seja abigeato (furto de gado). Um aumento de cerca de 60% das ocorrências.
- A gente tem esse sítio só para o próprio sustento. Isso é que é brabo, estão roubando de gente que tem pouco mesmo, e carneando pelo campo - diz.
Prejuízos de R$ 10 mil
Na semana passada, bandidos mataram a melhor porca reprodutora do sítio, prenhe. Entristecido, João aponta as marcas de sangue no cercado. Não satisfeitos, os criminosos ainda bateram em outras duas porcas. Uma não resistiu aos ferimentos. A outra, também prenhe, se recupera de uma fratura.
João já perdeu também duas ovelhas e um boi. Fora as cercas rompidas. Um prejuízo estimado em R$ 10 mil.
Luz e cachorro, as proteções
O sítio de 45 hectares, arrendado há dois anos por João e seu filho, já foi alvo dos ladrões três vezes. E houve outras tentativas. Na madrugada de segunda, bandidos rondaram o local, mas esbarraram na primeira providência tomada pelo produtor.
Ele instalou um poste de luz perto da mangueira e deixou ali um cachorro. Para fazer barulho.
- Tenho certeza de que um deles ainda assobiou para o cachorro - conta, indignado.
Aberta para os crimes
A escolha dos ladrões de gado não é aleatória, informa a delegada Adriana Regina da Costa, que investiga os casos pela DP de Glorinha. Segundo ela, os ataques acontecem nas propriedades menores, sem muitos recursos de segurança.
Foi assim no sítio de um pedreiro do Bairro Maracanã, que criava três bois. O plano dele era vender dois, no final da fase de engorda, para reformar o telhado da casa. Não conseguiu. No começo do mês, os bandidos carnearam dentro da propriedade os dois animais.
Amedrontado, outro morador recolheu, à noite, seis bois em um galpão. Foi inútil. Os bichos foram igualmente carneados.
- Largaram as tripas na porta da casa - conta um vizinho.
Monitorar é a melhor alternativa
Quando arrendou o sítio para o pai, a intenção do comerciante Luís Auri Rodrigues, 42 anos, era manter os laços de seu João, natural de Barros Cassal, no Vale do Rio Pardo, com o campo. Mas, agora, se vê obrigado a apelar para a modernidade.
- Não adiantou reforçar as cercas. Tenho medo pela segurança do pai, não só pelos
bichos - diz.
Nos próximos dias, a intenção dele é instalar no sítio câmeras de monitoramento e fazer rondas, principalmente às noites.
Investigação depende de denúncias
Desde o começo do ano, a polícia investiga os casos de abigeato em Glorinha, Santo Antônio da Patrulha e Taquara. Em um ataque no Bairro Três Figueiras, uma pista foi deixada: um carro abandonado, com marcas de sangue, que serviria para carregar o gado. O dono do veículo foi ouvido pela DP de Glorinha e é investigado.
Segundo a delegada Adriana, o abigeato é prioridade na DP:
- Muitos não registram a ocorrência, por medo ou por desconfiança. Estamos fazendo abordagens na região para aproximar esse contato com os produtores. Só com os registros poderemos dar um combate adequado ao abigeato.