Uma das principais vias de Porto Alegre, em frente a um dos mais movimentados centros hospitalares do Rio Grande do Sul, é a campeã de assaltos na região central em julho: a Avenida Independência. Junto com a Rua Professor Annes Dias e com a Praça Dom Feliciano, elas somam 25 ataques com faca ou arma de fogo.

O levantamento foi feito pelo Diário Gaúcho, com base nas ocorrências registradas na 17ª DP.

As duas ruas e a praça, que formam uma das regiões com mais intensa circulação do Centro, ficam junto à Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Diariamente, 30 mil pessoas, entre funcionários, pacientes e visitantes, circulam pelo complexo hospitalar.

Grande parte delas vem do interior do Estado, como a doméstica Rosi Lima Lopes, 39 anos, de Rosário do Sul. Na segunda-feira, ela acompanhava uma vizinha que veio consultar:

- É muito movimento. Isso assusta bastante - contou Rosi.

Alvo preferencial dos bandidos

O fato de não conhecerem o Centro e não estarem habituadas ao grande movimento as torna vítimas preferenciais dos assaltantes.

- Eu venho toda a segunda-feira. Não trago nem relógio, pulseira ou anéis. Só meu crucifixo franciscano. Quanto menos chamativo, melhor - contou a professora de educação infantil Leandra Maria Bertoglio, 46 anos, moradora de Canela.

Ausência de PMs é criticada

A falta de policiamento ostensivo é alvo de críticas por quem circula nas proximidades do hospital.

- Tu podes ficar umas três horas aqui que não vai ver um brigadiano sequer - afirmou um comerciante, que há cinco anos trabalha na Avenida Independência.

Ele já viu uma dupla cometendo assaltos na avenida, próximo das escadarias do Túnel da Conceição. O caminho é muito usado por quem deixa o hospital para seguir em direção à rodoviária ou pegar o trensurb.

Dupla usa faca nos ataques

- Um dá uma gravata e outro encosta uma faquinha. Normalmente, atacam jovens, estudantes, mulheres. Depois, fogem por dentro do túnel e ninguém mais acha. Três anos atrás, tinha dois PMs que ficavam aqui. Agora, nenhum - contou.

Outro comerciante da região ressalta que os roubos ocorrem, em geral, nas proximidades da Avenida Independência com a Annes Dias e também na Praça Dom Feliciano, nas paradas de ônibus.

Ataques em julho

- Avenida Independência: 16 assaltos

- Rua Professor Annes Dias: seis assaltos

- Praça Dom Feliciano: três assaltos

Total: 25 assaltos

- Desde o dia 8 de agosto, o Diário Gaúcho colocou em seu site uma enquete perguntando se a população se sente segura no Centro. Participaram 1.108 pessoas - 94,86% responderam que se sentem inseguras, expostas a assaltos ou furtos.

Quatro ataques por dia no Centro

Na semana passada, o Diário Gaúcho mostrou que, a cada dia de julho, quatro pessoas foram assaltadas à mão armada no Centro de Porto Alegre. O horário preferido dos criminosos é das 16h às 21h, quando muitos trabalhadores retornam para casa. O aumento da violência preocupa a polícia, pois pode culminar em latrocínio (roubo com morte).

No caso dos assaltos praticados no entorno da Santa Casa, o horário preferido dos ladrões é o comercial. Das 8h às 20h, quando acontece a maior parte das consultas, e é o horário de visitas, ocorreram 13 dos 25 ataques.

Na semana passada, o Diário Gaúcho entrevistou o comandante da 1ª Cia do 9º BPM, capitão Euclides Maria da Silva Neto. Ele afirmou que colocará em ação uma patrulha central, a pé, composta de um sargento e três PMs, que não atenderiam chamados do 190, apenas fariam rondas e policiamento preventivo.

Além dos pedestres, carros estão na mira

Não são só os assaltos que preocupam as autoridades naquela região do Centro.

A Sarmento Leite, no entorno do hospital, é a segunda rua com mais furtos de veículos de Porto Alegre. Até maio, 22 veículos foram furtados ali. E outros três, roubados. Perde apenas para a Ramiro Barcelos, já famosa por ser a rua com mais furtos de veículos em Porto Alegre.

A Avenida Independência, que faz esquina com a Sarmento, também figura na lista das 20 ruas com mais ataques. É a 19ª colocada, com nove furtos e quatro roubos em cinco meses.

Para o titular da Delegacia de Roubo e Furto de Veículos do Deic, delegado Juliano Ferreira, o Centro sempre foi uma área com mais furtos do que roubos. Isso porque, em geral, circulam ali carros mais antigos, sem alarmes ou corta-corrente.

- Ali vem gente de todos os locais do Estado, com todos os tipos e modelos de veículos. As quadrilhas procuram esses locais porque sabem da variedade que vão encontrar - explicou o delegado Juliano.

Outro fator que atrai os ladrões é saberem que, como a maioria dos veículos pertence a familiares dos pacientes ou a visitantes, geralmente ficam estacionados por horas.