Polícia



Desaparecimento

Dois anos de um mistério na Zona Sul da Capital

Cristiane Oliveira de Oliveira sumiu quando buscava a filha na escola. Polícia não tem pistas. Mãe ainda sonha encontrá-la viva

29/10/2013 - 07h39min

Atualizada em: 29/10/2013 - 07h39min


Filha de Eloni Oliveira sumiu na Zona Sul

Quase todos os dias, volta à memória de Eloni Oliveira, 55 anos, o som do assobio dado pela filha, Cristiane Oliveira, ao chegar em casa. Ontem, a angústia fez aniversário: há exatos dois anos, Cristiane, que hoje estaria com 34 anos, desapareceu no caminho entre os bairros Lageado e Restinga, na Zona Sul da Capital, onde morava com o marido e a filha.

Escavações, escutas telefônicas, dezenas de depoimentos, perícias em corpo no DML e caminhadas já foram feitos. E praticamente não há pistas sobre Cristiane.

- Se a polícia deixar de investigar, não vou desistir. Se eu achasse ela morta, ao menos a enterraria e significaria um adeus. Mas acredito que ela está viva, sim - afirma.

É movida por essa esperança que a casa da família, na Vila Maria da Conceição, Bairro Partenon, Zona Leste, ganhou retoques nos últimos dias. Na entrada, azulejos tomam o lugar das paredes desgastadas. O plano de Eloni é também reformar a escada de madeira que leva ao segundo piso do lugar onde Cristiane foi criada.

Mulher isola-se nos natais

- Tenho esperança de que ela vai aparecer aqui qualquer dia, passar o Natal com a gente. Ela sempre gostou de decoração de casas, então, resolvi deixar tudo como ela gostaria - diz a mãe.

Nas paredes, praticamente não há fotos da mais velha entre cinco filhas mulheres. É para poupar Eloni. Fica difícil controlar as lágrimas toda a vez que vê imagens da filha. Nos dois últimos natais, ela nem confraternizou com os outros filhos. Isolou-se para chorar.

Investigado, marido diz ter suspeitos

O marido de Cristiane, Rodrigo Velloso de Freitas, 32 anos, figura na lista de suspeitos da polícia. Fato que o bancário considera normal.

- A polícia precisa seguir todas as linhas possíveis, mas tenho minha consciência tranquila - assegura.

Desde o sumiço da companheira, ele já disparou milhares de e-mails, endereçados até mesmo ao governador, cobrando solução para o caso. A partir de investigações próprias, chegou a levantar suspeitas que ligam o sumiço da esposa à ação de uma quadrilha de ladrões de banco - um deles, muito próximo da família.

Horas depois do desaparecimento, seguindo os procedimentos da instituição em que trabalhava, Rodrigo teria avisado o seu supervisor. Imediatamente, suas senhas e chaves de acesso ao cofre foram alterados.

Rodrigo conta que o suspeito (descoberto por ele) estava ao lado dele no momento da ligação para o banco.

- Creio que, naquele momento, acabou o interesse da quadrilha em manter a Cristiane viva. Respeito o fato de a mãe dela acreditar que ainda está viva, mas é muito difícil - avalia.

Polícia fará diligências

Ele afirma que descobriu dois suspeitos, ambos foragidos da Justiça - um deles teria desaparecido justamente no dia em que Cristiane sumiu.

A tese não é confirmada pela polícia, que considera o caso em aberto. De acordo com o diretor de investigações do Departamento de Homicídios, delegado Cristiano Reschke, não há qualquer pista concreta sobre o paradeiro de Cristiane.

- É seguramente um dos casos mais complexos que investigamos atualmente - afirma o delegado.

Ele confirma que há diligências por fazer. Mas não revela qualquer detalhe que aponte uma solução para o caso.

Mãe cita "desentendimentos"

Rodrigo e Cristiane se conheceram ainda nos tempos de escola, no Bairro Restinga. Foram viver juntos e moraram por um tempo em Florianópolis. Lá, acredita Eloni Oliveira, teria começado uma rotina de brigas entre o casal.

- Ela me ligava tarde da noite, mas nunca falava diretamente das brigas. Eu notava, mas preferia não perguntar. Depois do desaparecimento, eu soube que esses desentendimentos continuaram por muito tempo - afirma a mãe.

Há cerca de dez anos, o casal voltou para Porto Alegre e foi viver no mesmo terreno da mãe de Rodrigo. Tiveram uma filha, Gabriela, hoje com nove anos.

Mudança estava planejada

Em novembro de 2011, planejavam se mudar para a casa que estava em construção no Bairro Lageado. Foi lá, na tarde de 27 de outubro daquele ano, que Cristiane foi vista pela última vez - pelos pedreiros. Saiu de bicicleta para buscar a filha na escola. Mas nunca chegou lá.

Telefone dá nova pista

A última pista, pouco concreta, que surgiu para a família veio pelo celular de Cristiane. Há algumas semanas, uma das irmãs arriscou e ligou mais uma vez para o número. Um homem atendeu, se identificou, mas garantiu que não sabia da desaparecida.

Para a irmã, era a mesma voz que, dias após o sumiço, ligou para familiares dizendo estar com Cristiane na região da fronteira com o Uruguai. Afirmou que a moça havia fugido e que não queria falar com a família.

- Não acredito que ela faria isso. É muito ligada à filha - diz a mãe.

Sequelas da angústia

O sumiço deixou marcas irrecuperáveis nos pais de Cristiane. O pai ficou praticamente cego, com o aumento das cataratas. A mãe, que já havia sofrido um AVC (e foi cuidada por Cristiane), teve de aumentar as doses de medicamento. É acompanhada por uma psicóloga. E, mesmo com o desespero de cada alarme falso, não desiste das buscas.

Há duas semanas, ela e o marido voltaram a percorrer as ruas da Restinga. Nessa semana, eles planejam ir à Lomba do Pinheiro, onde a filha teria sido vista.

Entenda o caso

O desaparecimento

- No dia 27 de outubro de 2011, Cristiane Oliveira de Oliveira, 32 anos, sumiu. Pedreiros que trabalhavam na obra da casa da família teriam sido os últimos a vê-la.

A investigação

- Buscas já foram feitas em todo o suposto trajeto feito por Cristiane. Bombeiros ajudaram em escavações e mergulhos em um poço perto da casa no Bairro Lageado.
- Mais de uma dezena de testemunhas foram ouvidas. A polícia também procurou pistas em locais frequentados por Cristiane.

Perguntas sem respostas

- Se Cristiane foi morta, onde está o corpo?
- Se foi sequestrada, por que não houve contato?
- Se desapareceu por conta própria, por que não levou a filha nem contatou a família?


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