Polícia



Vigarice na rede

Saiba como se proteger dos golpes virtuais

A reportagem do Diário Gaúcho se passou por vítima de um golpe virtual. A "evolução" do golpe do bilhete mostra como a falcatrua migra para a internet

22/10/2013 - 11h11min

Atualizada em: 22/10/2013 - 11h11min


A mensagem chegou para um dos e-mails da redação do Diário Gaúcho em 16 de setembro. O texto, em espanhol arranhado, tinha como remetente a "senhora Brandy James". Apresentando-se como funcionária de um banco em Gana, na África, informava que havia uma "sobra" contábil de US$ 4,8 milhões (cerca de R$ 10 milhões).

Para desviar o dinheiro sem deixar rastros, só precisava de um investidor no Brasil. Ele receberia a transferência desse valor e o dividiria. O brasileiro ficaria com 40% da grana.

Vigarice veio da África

Dinheiro aparentemente fácil, mas a porta de entrada para o golpe do bilhete virtual. Ou, como dizem especialistas em segurança na internet, o Golpe da Nigéria.

No país africano, onde originou-se a versão online do golpe do bilhete premiado, é chamado de golpe 149 (equivalente ao artigo 171, estelionato, no Código Penal Brasileiro). O DG resolveu investigar. Durante um mês, foi mantido o diálogo com "Brandy James".

Falsa autorização de saque

O repórter precisou fornecer alguns dados pessoais, telefone, endereço e números de conta. Dados fictícios foram informados. E o diálogo avançou.

Para tornar mais convincente a proposta, Brandy passou a retornar e-mails em um português claudicante: "essa transação é 100% segura. Eu sou mãe solteira e não posso fazer nada que vai machucar minha filha e seu futuro".

Até mesmo um comprovante da autorização de saque da quantia milionária foi enviado. O banco Provident Security existe, de fato, em Gana. A agência funcionaria em uma das maiores cidades do país, Takoradi. Um olhar detalhado, no entanto, demonstra a falcatrua. No comprovante, o carimbo mostra o nome correto da cidade, mas, no cabeçalho do documento, consta "Takarodi".

Pedido de adiantamento

A transação não foi concluída. Provavelmente, o golpista desconfiou. Mas os próximos passos do golpe são conhecidos pelas autoridades. A vítima precisaria fazer um pagamento adiantado em uma conta, provavelmente de Gana, para garantir a transferência dos US$ 4,8 milhões. Perderia uma soma considerável e jamais veria os tais "milhões".

Prejuízo chega a R$ 18 bilhões

- Esse golpe (da Nigéria) é mais velho do que andar para a frente - diz o delegado Marcínio Tavares Neto, titular da Delegacia de Crimes Cibernéticos, do Deic.

Assim mesmo, é um dos mais comuns entre os casos virtuais investigados no Estado. Com um agravante: como a sua origem é, de fato, internacional, a grana perdida jamais é recuperada.

- Em geral, são feitas transferências para bancos na África ou na China. É quase impossível rastrear essas perdas - aponta o delegado.

O Golpe da Nigéria é só uma das falcatruas do mundo virtual. Conforme levantamento da Symantec (empresa especializada em segurança na internet), nos últimos 12 meses, 22 milhões de brasileiros (20% dos usuários de internet) caíram em algum tipo de golpe na rede. O custo disso, estima a empresa, chegaria a R$ 18 bilhões.

Os golpes mais comuns na internet:

Golpe da Nigéria

É semelhante ao antigo "golpe do bilhete". Alguém lhe envia um e-mail informando que tem uma quantia milionária para receber, mas precisa da sua ajuda para isso. A esperança é aguçar a ganância da vítima. E aí, exigir dela um pagamento adiantado para liberar os milhões. O golpe teve origem na Nigéria e já se espalhou para outros países africanos e asiáticos. Pode ter como motivação um crédito fácil, herança, loteria... Atualmente, esse golpe se concentra entre Gana, Nigéria e China.

Como evitar - Desconfie de quantias astronômicas ou quando há exigência de algum pagamento. Em geral, o golpista deixa claro que se trata de uma transação ilegal e que precisa ser feita de forma "sigilosa" e "urgente". A mensagem sempre traz muitos erros gramaticais. Pesquise na internet: geralmente eles seguem um padrão e muitas dessas falsas identidades já estão denunciadas em blogs com alertas sobre o golpe. Delete o e-mail sem retorná-lo.

Golpe da "pescaria"

É um e-mail com link que encaminha o usuário para páginas como bancos, companhias aéreas, Receita Federal, agências de turismo ou de comércio. A isca, em geral, é alguma promoção ou ameaça de restrição de crédito. Ações desse tipo encaminham o usuário para uma página falsa e, voluntariamente, a vítima informa dados como senhas de contas ou de cartões de crédito.

Como evitar - Questione o motivo para uma instituição com a qual você não tem contatos procurá-lo. Se for o seu banco, ligue para a agência e confira. Órgãos oficiais normalmente não enviam mensagens por e-mail. Em geral, o golpista usa mensagens que apelam excessivamente para as vantagens de clicar no link proposto. Não considere que uma mensagem é confiável simplesmente pelo seu remetente. Se considerar necessário entrar no endereço descrito no link, digite este endereço, não acesse o link.

Golpe Malicioso

São os golpes recebidos por e-mail com o objetivo de instalar vírus ou os chamados "cavalos de troia" no computador. Aparecem sob a forma de notificações da Receita Federal, Justiça ou Polícia Federal. Supostamente, o usuário deve abrir um link com o tal documento oficial, mas acaba liberando o arquivo com o vírus. Uma vez infectada a máquina, é possível que o golpista roube senhas e outros dados sigilosos.

Como evitar - Mantenha sempre os programas instalados com suas versões mais recentes e use mecanismos de segurança como antimalware e firewall pessoal. Desconfie ao manipular arquivos, porque muitas vezes a velocidade da falcatrua é maior do que a da prevenção. Lembre-se que órgãos oficiais não mandam comunicações por e-mail.

Golpe do Comércio Eletrônico

Pode ser pela simples compra por meio eletrônico, por compras coletivas ou por leilões eletrônicos. É um site falso com o objetivo de fazer com que o usuário compre algum material e deposite o seu valor. A mercadoria nunca é entregue. Muitas vezes, nomes de empresas sérias são usados para esse tipo de golpe, mas, geralmente, com promoções fora do padrão normal.

Como evitar - Antes de fechar um negócio, pesquise sobre este site, busque referências com amigos, anote dados que lhe permitam identificar e localizar o fornecedor, como CNPJ e endereço. Não faça a compra sem antes manter algum tipo de contato com o vendedor. Imprima todos os comprovantes para uma eventual reclamação. Nunca pague antes de receber o produto. O ideal é parcelar ou acertar no ato da entrega. Evite compras em sites estrangeiros e fique atento às taxas de importação e assistências técnicas no país. Na entrega, exija nota fiscal.

Dica de segurança

- O Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança no Brasil (Cert) tornou disponível na internet uma cartilha de segurança. Nela, além dos golpes mais comuns, há detalhes sobre o modo de agir de golpistas mais arrojados e principalmente dicas para se prevenir ao entrar na rede.

- Acesse em http://cartilha.cert.br/.


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