Polícia



Triste estatística

Roubo com morte aumenta 34,2% em um ano em Porto Alegre e Região Metropolitana

Casos de latrocínio, que são roubos com morte, dispararam. O aumento foi de 34,2% em relação a 2012 - e de 24,3%, se comparado aos números de 2011

30/01/2014 - 10h01min

Atualizada em: 30/01/2014 - 10h01min


Caso da idosa não está nem perto de ser resolvido

Há três anos, o Diário Gaúcho realiza um levantamento com o número de assassinatos
nas 19 principais cidades da Região Metropolitana. A exemplo dos dois anos anteriores, o DG fez, em janeiro, um pente-fino nos números do ano passado. O balanço de 2013 fechou em 1.134 casos, uma queda de 5,6% em relação ao ano anterior.

A má notícia é que os casos de latrocínio (roubos com morte) dispararam. O aumento foi de 34,2% em relação a 2012 - e de 24,3%, se comparado aos números de 2011.
Uma explosão que vem associada ao aumento dos casos de roubos. O crescimento dos latrocínios, além de aumentar a sensação de insegurança nas ruas, expõe uma faceta muito cruel: nos homicídios, 64,7% dos assassinados tinham envolvimento com a criminalidade. Nos roubos com morte, a maioria das vítimas sequer tentou reagir.
Morreram por causa de um carro, de uma bolsa ou, até, por um boné.

De acordo com as autoridades, isso se deve ao fato dos ladrões, cada vez mais, serem inexperientes ou viciados em drogas. Em três anos, os levantamentos do Diário mostram que 3.424 pessoas foram mortas na Região Metropolitana. É como se uma cidade como Tabaí, entre tantas outras do Estado, simplesmente fosse dizimada em pouco mais de mil dias.

Seis meses e... nada

Seis meses depois, a morte da aposentada Aida Maria da Graça Alvares Galmarini, 62 anos, ainda é um mistério para a Polícia Civil e motivo de indignação para a família e amigos. Aida foi uma das 51 vítimas de latrocínio (roubo com morte) na Região Metropolitana, em 2013.

- Na semana passada estive na DP, não houve avanço na investigação. O IGP ainda não mandou a perícia. É muito triste, ela era minha parceira de trabalho - lamenta a advogada Gessi de Sales Dorneles da Silva, amiga e colega da vítima.

Aida, que era enfermeira aposentada e advogada, foi morta em casa na madrugada de
14 de julho. Moradora do Bairro Rubem Berta, ela vivia sozinha no Parque Santa Fé, rodeada pelos cães e gatos que cuidava. Na manhã de 15 de julho, quando pedreiros contratados por Aida chegaram para trabalhar, encontraram o portão aberto.

Chamaram, mas a aposentada não respondeu. Avisado por eles, um vizinho entrou na casa e encontrou Aida caída na cozinha, com marcas de uma pancada na cabeça e cortes no pescoço.

- A única coisa que soubemos é que o laudo do DML apontou lesões nos braços que poderiam indicar que ela lutou. Ela não ia deixar alguém entrar na casa se não conhecesse e não iria entregar nada sem lutar - conta Gessi.

Investigação está parada

Da casa, foram levados um notebook, cartões bancários e uma tevê. Por se tratar de um
latrocínio, o caso foi encaminhado para a 22ª DP. Desde então, a investigação está parada na mesa do delegado Omar Abud.

- Não temos nenhum suspeito identificado. Nós paramos nas informações que chegaram, foram checadas e não levaram a indícios de autoria - admite o delegado, titular da 22ª DP.

Não reaja. E abra o olho!

Não reaja. Esta é ainda é a frase mais repetida pelas autoridades sobre como agir durante um roubo. "Mas só isso já não é suficiente", reforça o titular da 17ª DP, delegado Hilton Müller, responsável pelas investigações dos casos ocorridos no Centro da Capital.

- Nos deparamos com assaltantes, às vezes, tão assustados quanto suas vítimas. Com uma arma na mão, a probabilidade desse roubo terminar em morte é muito grande - diz Hilton.

Violência dos assaltos é maior

O Centro concentra o maior volume de roubos a pedestres. O delegado relata a dificuldade tanto do policiamento ostensivo em evitar os crimes quanto da estrutura policial para identificar e prender suspeitos. Em um dos casos investigados pela 17ª DP, o estudante Vinícius da Rosa de Oliveira, 25 anos, foi morto a facadas quando saía de uma agência bancária, na Avenida dos Andradas, em janeiro do ano passado.

- A violência dos assaltos, sem dúvida, está maior. Pelo volume de roubos que são registradas diariamente, infelizmente, é de se admirar que não aconteçam mais latrocínios - afirma.

Ladrões são inexperientes

A cada dia, cerca de 30 veículos são roubados só na Capital. Um crime, segundo o titular da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos, do Deic, Juliano Ferreira, que já
não é cometido só por especialistas:

- Virou o grande filão para assaltantes, mesmo os mais inexperientes. Um carro simples, roubado, rende pelo menos R$ 500 ao criminoso. E há certeza de ficar muito pouco tempo preso por isso.

Por isso, o delegado reforça a necessidade de prevenção:

- Não reaja, mas também é importante ter atenção constante. Não dá para namorar no carro, parar para conversar, esperar dentro do veículo. Quando tiver que parar, olhe para todos os lados.

Brigada Militar garante: está em alerta

Porto Alegre responde por metade dos latrocínios registrados em 2013 na Região Metropolitana. Se for considerada só a cidade, o aumento deste tipo de crime foi de 47% em relação a 2012. Por este motivo, esta semana, comandantes de batalhões da Brigada na Capital tiveram uma reunião para traçar estratégias em 2014.

- Todo o crime contra a vida preocupa o gestor de segurança, mas este tipo é ainda mais grave, porque mostra o aumento da violência contra o cidadão comum com mais evidência - diz o comandante do policiamento da Capital, coronel João Diniz Godói.

O motivo para o aumento dos latrocínios, segundo o oficial, vai desde a maior presença de jovens armados na criminalidade até reincidentes em roubos, sem temor de alguma punição.

- Quem vai para este tipo de crime já não tem muito a perder - diz o coronel.

Ações intensivas para 2014

Atualmente, o setor de inteligência da BM trabalha no perfil dos casos de latrocínio na
Capital em 2013. Será com base nesses dados que os batalhões deverão trabalhar de
forma intensiva.

- Vamos combater o latrocínio e os roubos adjacentes a ele, como o de veículos, por
exemplo - diz Godói.

Ele antecipa que deve ser intensificada a presença policial em locais de maior incidência de roubos, aumento de abordagens e, principalmente, a antecipação das ações, feita pelo serviço de inteligência da BM.

Pior do que em São Paulo

Os números da violência na Região Metropolitana de Porto Alegre são piores, em alguns aspectos, do que os de São Paulo. Durante o ano passado, segundo divulgou a
Secretaria de Segurança paulista, ocorreram 383 casos de latrocínio em todo o Estado, cuja população é de 41 milhões de pessoas. Pelos dados, a média naquele Estado foi de uma vítima a cada grupo de 107,8 mil pessoas. Na Grande Porto Alegre, onde a população, segundo o IBGE, é de 3,75 milhões, ocorreu um latrocínio a cada grupo de 73,5 mil pessoas.

Os latrocínios

Estatística do Diário:
- 41 (2011)
- 38 (2012)
- 51 (2013)
- Houve um aumento de 34,2% deste crime em relação a 2012 e de 24,3% em comparação a 2011
- Na Capital, foram 25 vítimas em 2013


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