Caos Absoluto
Por falta de vagas no semi aberto, detento é mandado para casa
Alequis Sandro Soares Mello, o Piolho, é uma dor de cabeça para o sistema prisional do Rio Grande do Sul

Pela falta de vaga no regime semi aberto,em 30 de janeiro detento foi mandado para casa pelo Judiciário. Só colocou a tornozeleira eletrônica duas semanas depois. E a quebrou. Baleou uma mulher na cabeça, ameaçou outras pessoas e é suspeito de ter matado homem no Bairro Santa Tereza. Trilha só acabou com prisão em Tramandaí, terça. Outros detentos como ele, que deveriam estar presos, estão soltos por falta de espaço em casas prisionais.
Foram 25 dias da polícia à cata do criminoso conhecido como Piolho. Alequis Sandro Soares Mello, 37 anos, comum extenso currículo no crime, foi favorecido pela incapacidade do sistema prisional gaúcho. A brecha foi aberta quando foi mandado para casa pelo Judiciário, por falta de vagas no regime semiaberto. Desde então, tocou terror no Bairro Santa Tereza, na Zona Sul da Capital.
No dia 30 de janeiro, Piolho foi liberado temporariamente da Penitenciária Estadual de Charqueadas. Ele havia sido beneficiado, uma semana antes, com a progressão de regime para o semiaberto. Sem vagas, a Justiça determinou que, em casa, ele esperasse a abertura de uma.
Em 13 de fevereiro, Piolho recebeu a tornozeleira eletrônica e, apenas três dias depois, desapareceu da área de monitoramento do equipamento, possivelmente rompido. A fuga aconteceu justamente quando a nova prisão dele foi decretada.
- Sabemos que pouco antes da fuga ele foi monitorado na Vila Funil, bairro Tristeza. É lá que provavelmente estivesse recebendo proteção de algum traficante - aponta o delegado Gabriel Bicca, da 4ª DHPP.
Trajetória teve fim no Litoral
Considerado foragidodesde o dia 16, teve sua trilha de crimes às margens a lei encerrada na manhã de terça, ao ser perseguido e preso pela Brigada Militar em Tramandaí, depois de roubar um mercado com a mulher e outro homem.
Ele havia se refugiado no Litoral Norte, provavelmente na noite de segunda-feira, horas depois de cometer, em Porto Alegre, o último homicídio do qual é apontado como autor pela 4ª DHPP.
Um homicídio consumado e dois tentados
Moradores do Beco das Flores, na Vila Pantanal, Bairro Santa Tereza, já conheciam Piolho por suas ações nas últimas semanas - quando deveria estar numa casa prisional. Na manhã de segunda-feira, ele é suspeito de ter entrado no beco, em um Gol branco, e atirado várias vezes.
Matou Tyson Alexandre Flores, 22 anos. Piolho fazia valer o toque de recolher imposto no começo do mês por traficantes, que atuam na vila vizinha, a 27.
Antes da morte de Tyson, Piolho já era apontado como autor de duas tentativas de homicídio no local. A suspeita é de que ele tenha saído da
cadeia com crimes encomendados por um traficante da região.
Piolho foi levado para a Penitenciária Modulada de Osório.Preso em flagrante, e com mandado de prisão preventiva a cumprir, em tese, ficará ao menos 30 dias encarcerado.
Conforme o delegado penitenciário da Região Metropolitana, Alberi Pereira, não há previsão de grandes reformas nas casas prisionais do semiaberto, atualmente interditadas. A tendência, diante do poder que as facções criminosas ganharam, segundo ele, é que as vagas deste regime sejam gradualmente absorvidas pelas tornozeleiras.
- Tínhamos a expectativa de já termos mais tornozeleiras, mas é um sistema ainda em implantação. A tendência é acabar com o vácuo entre a saída do regime fechado e a migração ao monitoramento. Já atingimos quase um terço da população carcerária do semiaberto na região - aponta. As vantagens, para ele, vão do controle maior pelo Estado até os custos para monitorar o preso. Os atuais 910 detentos monitorados correspondem a quatro casas do semiaberto.
O Instituto Pio Buck já foi reaberto. O plano da Susepe é abrir mais vagas, de casas atualmente interditadas, a partir do concurso de servidores que será aberto no mês que vem.
- Nosso plano é aumentar a presença de agentes e adequar os espaços. Mas não esperem que façamos muros ao redor das casas do semiaberto, isso não é previsto por lei - avisa Alberi.