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Clima de tensão continua na Vila Cruzeiro

Escolas abriram pela manhã, mas os postos de saúde voltaram a fechar pela tarde

25/04/2014 - 08h02min

Atualizada em: 25/04/2014 - 08h02min


Ruas da Vila Cruzeiro ficaram vazias um dia após criminosos decretarem toque de recolher

Ruas vazias, janelas fechadas e um clima tenso. Esse era o cenário na Vila Cruzeiro na manhã de quinta-feira. As poucas pessoas que precisaram sair de casa, caminhavam a passos rápidos e de cabeça baixa. Os colégios da região, que fecharam as portas na quarta-feira por causa do toque de recolher - Escola Estadual de Ensino Fundamental Almirante Álvaro Alberto da Mota, Creche Maria Dolabella Portella e Escola Municipal de Educação Infantil Osmar dos Santos Freitas - abriram as portas. Porém, segundo os professores, mais da metade dos alunos não foi à aula.

As Unidades Básicas de Saúde Cristal e Vila Cruzeiro abriram normalmente. O posto do Programa Saúde da Família Cruzeiro do Sul, que fica bem no foco dos conflitos (Travessa A da Rua Dona Otília), também abriu as portas pela manhã. Mas duas viaturas da Brigada Militar estavam na frente do local.  À tarde, porém, todos os postos fecharam.

Segundo o comandante do Território da Paz de Santa Teresa, major José Carlos Pacheco Ferreira, o patrulhamento na área foi reforçado.

- Mesmo com a tranquilidade desta manhã, estamos trabalhando com o efetivo do Território da Paz junto com o Pelotão de Operações Especiais do 1º BPM, num total de 60 PMs - afirmou.

Menos da metade dos alunos na escola

A Escola Municipal de Educação Infantil Osmar dos Santos Freitas, na Rua Dona Otília, tem 120 alunos (de zero até quatro anos e 11 meses), mas na quinta-feira, só metade das crianças apareceu.

- Ontem nós tivemos que fechar, mas hoje a Secretaria Municipal de Educação liberou o funcionamento. Até agora está tudo tranquilo - disse a diretora, Naiara Frota.

Na Creche Maria Dolabella Portella, também na Rua Dona Otília, a frequência foi ainda menor: dos 70 alunos, apenas 16 compareceram.

- Os pais não tinham com quem deixar as crianças, por isso elas vieram para cá. A maioria não veio porque tinha onde ficar - explicou a diretora da creche, Irmã Adriana Corrêa.

Retrato de um cotidiano cruel

A Escola Estadual de Ensino Fundamental Almirante Álvaro Alberto da Mota também reabriu normalmente. No turno da manhã, que tem aproximadamente 400 alunos, apenas 180 foram para a aula. Os funcionários estavam assustados.

- Ontem presenciamos uma cena de guerra. Ainda estamos em pânico, as crianças estão muito agitadas - relatou uma professora.

Em uma sala de aula, estavam quatro guris, de uma turma de 20. Enquanto a professora atendia com a mãe de um aluno, pediu que as crianças ficassem desenhando. A explicação dada por um deles, de sete anos, para o desenho que fez, mostra o cruel cotidiano da gurizada.

- Aqui tem um canhão mandando várias balas. Esse é o helicóptero da polícia e aqui tem um homem com uma arma - disse, retraído.

- Por que ele tem uma arma? - perguntou a professora.

- Para se proteger do canhão - explicou o menino.

Bomba prestes à explodir

Um morador, que pediu para não ser identificado, afirmou que a população está com medo de sair de casa. Ele contou que a Vila Cruzeiro é um território sem lei nem regra.

- Aqui não existe patrão, a guerra saiu do controle, eles não respeitam mais ninguém. É como um pavio que está queimando, uma bomba que está prestes à explodir. Aqui, quem pode mais, chora menos.

Secretaria determinou fechamento de postos

À tarde, a situação nos postos de saúde mudou. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) determinou o fechamento de quatro postos: as Unidades Básicas de Saúde (UBS) Cristal, Tronco e Vila Cruzeiro, e as Unidade de Saúde da Família (USF) Cruzeiro do Sul e Mato Grosso. Em nota, a SMS informou que o ambiente estava "tenso" e os funcionários, "assustados".

Funcionários dos postos relataram à reportagem que dois médicos teriam pedido demissão na terça, no dia do tiroteio. Ontem, um salvadorenho do Programa Mais Médicos teria feito o mesmo, por causa da violência. A assessoria da Secretaria Municipal da Saúde disse que nenhum pedido foi feito, mas confirmou que um médico de El Salvador ficou muito assustado com os conflitos e, por isso, não foi trabalhar na quinta-feira.


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