Medo até depois morte
Velório é cancelado após bandidos ameaçarem familiares de homem executado
Parentes de homem executado no sábado em Sapucaia do Sul foram ameaçados em pleno velório. Só conseguiram sepultar Cristian Ribeiro na segunda-feira
O velório de um homem assassinado na noite de sábado passado, na Vila Vargas, em Sapucaia do Sul, precisou ser cancelado no domingo, depois que prováveis desafetos de Cristian Jeferson Dias Ribeiro, 26 anos, em atitude ameaçadora, rondaram o cemitério, na Avenida Primor. O medo dos familiares era de que eles invadissem o local e executassem mais algum parente.
- Eu só queria enterrar o meu filho com um pouco de dignidade. E aconteceu isso. Não temos nada a ver com o que ele pode ter feito e estamos pagando por isso. Não é justo - lamenta o pai de Cristian, José Dias Ribeiro, 75 anos.
Eles chegaram a acionar a Brigada Militar e a Guarda Municipal, mas nada teria sido feito. Segundo o pai, pelo menos metade da família já não havia comparecido ao sepultamento. Seriam moradores da Vila Vargas, respeitando um suposto aviso dos traficantes de que mais pessoas poderiam ser mortas.
O caso é apurado pela 2ª DP de Sapucaia, que investiga um Palio branco. Este veículo teria passado pelo menos oito vezes diante do velório. Primeiro um homem e, depois, um casal, teriam descido do veículo e encarado as pessoas que estavam no local.
A suspeita é de que Cristian tenha sido morto por rivais do tráfico. Foi atingido por nove disparos - três deles na cabeça - na frente de casa, no Beco Assis Brasil, onde um ponto de venda de drogas estaria em disputa.
A ameaça, mesmo que inusitada, está longe de ser exceção. Na última semana, o Diário Gaúcho mostrou os riscos que correm testemunhas de homicídios na Região Metropolitana com o aumento do poder dos criminosos.
O sepultamento acabou acontecendo somente na manhã de segunda-feira.
Fugiu da cadeia para não morrer
O assassinato pode envolver uma disputa entre facções que dominam as prisões gaúchas. Há pouco mais de um mês, Cristian, que cumpria pena por roubos e tráfico, teve confirmada sua progressão para o regime semiaberto. Foi levado da Penitenciária Estadual do Jacuí (Pej), em Charqueadas, para o Instituto Penal de Montenegro. Mas ficou poucos dias naquela prisão.
De acordo com a família, Cristian foi ameaçado de morte e precisou ser transferido para o Instituto Penal de São Leopoldo. Mas caiu em território inimigo. Cristian é integrante da facção dos Bala na Cara, e a casa é dominada pelos Manos. Novamente ameaçado de morte, fugiu do instituto na noite de sexta-feira passada.
Fugitivo, de volta às ruas, ele teria comentado com familiares não admitir que rivais tivessem tomado a boca de fumo na Vila Vargas.