O último gesto de Denise Inácio de Souza, 33 anos, foi o mais nobre possível. Entre tiros que partiam de todos os lados, jogou-se à frente da filha de 18 anos para protegê-la. Acabou atingida por um disparo fatal no peito. Era final da noite de ontem, quando mãe e filha estavam sentadas em uma lancheria da Avenida Itacolomi, Bairro Santa Cruz, em Gravataí, esperando por um lanche.

De acordo com os investigadores da Delegacia de Homicídios, a morte foi ocasionada por bala perdida. Teria havido um confronto a tiros, envolvendo o dono do Xis Panela e dois homens em uma moto.

Testemunhas afirmam que o comerciante fugiu do local com um ferimento na perna. A polícia encontrou no local cápsulas de pistolas calibres 45 e 9mm. Até ontem, ninguém havia sido preso. E a motivação do desentendimento ainda não estava clara.

- Sabemos que, pouco tempo antes, esses dois homens em uma moto vermelha haviam discutido com o comerciante. Foram embora e voltaram armados - conta o chefe de investigação, Jair Gonçalves.

Perícia vai mostrar de onde saiu o tiro

De acordo com testemunhas, os criminosos teriam chamado o comerciante até a rua. O homem já teria saído da lancheria atirando. Denise e a filha, sentadas próximo da porta, não tiveram tempo para fugir. A polícia aguarda a perícia para determinar de onde partiu o tiro que a matou.

Na manhã de ontem, as portas do estabelecimento, a poucos metros da casa de Denise, permaneciam fechadas. No chão e nas paredes, estavam as marcas dos disparos. Foram recolhidos no local pelo menos 14 cápsulas.

Amiga ficou com a última lembrança

No celular de Viviana Padilha de Farias, 29 anos, ficou gravado o vídeo enviado por Denise, sua melhor amiga, às 23h30min de terça. Era uma mensagem gravada no Xis Panela, onde Denise costuma esperar a filha quando a menina voltava do trabalho.

- Nós estávamos muito faceiras. A Denise tinha conseguido uma entrevista de emprego para mim no shopping onde ela trabalhava. Tinha acabado de sair aqui de casa e me convidou para ir no xis tomar uma cervejinha, não fui de preguiça - conta a amiga.

Foi da casa da amiga que Denise caminhou por cerca de 700m até a lancheria, pouco depois das 23h de terça. Menos de uma hora depois, acabou vitimada por uma bala.

As duas se conheciam desde crianças. Atualmente, Denise, que trabalhava como encarregada no estacionamento do shopping de Gravataí, criava sozinha os três filhos - duas jovens de 16 e 18 anos e um menino, cinco anos.

- Era uma batalhadora de verdade. Não consegui acreditar quando me ligaram para avisar. Ela nunca fez nada de errado, não merecia isso - lamenta Viviana.