Polícia



Transporte coletivo

Cresce o número de registros de assaltos a lotações em Porto Alegre

31/10/2014 - 08h03min

Atualizada em: 31/10/2014 - 08h03min


Cristiane Bazilio
Cristiane Bazilio
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Fernando Gomes / Agencia RBS
Motoristas e passageiros das lotações convivem com o medo e a insegurança

"Em 20 anos no transporte coletivo, nunca vi a coisa como está agora. Tem assalto todos os dias. Isso está demais". O depoimento de um motorista de lotação da linha Alto Teresópolis é mais do que o relato de quem está exposto diariamente à criminalidade. Vai ao encontro do que revelam números divulgados pela Brigada Militar com exclusividade ao Diário Gaúcho. Faltando dois meses para terminar o ano, 2014 já supera o número total de assaltos a lotações registrado em 2013.

Se, em média, no ano passado, um registro era feito a cada dois dias, em 2014, só até o dia 28 de outubro, este número já havia subido para dois registros a cada três dias, uma alta de 34%. Dados que expõem os riscos aos quais estão submetidos cerca de 800 motoristas que, conforme a Associação dos Transportadores de Passageiros por Lotação (ATL), trabalham neste setor do transporte coletivo da Capital.

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Estes índices podem ser ainda maiores, uma vez que são contabilizados pelo Comando de Policiamento da Capital (CPC) apenas os casos registrados nos boletins de ocorrência.

- A gente registra ocorrência uma, duas, três vezes... Mas já virou rotina, e chega uma hora que a gente acaba nem fazendo mais  - admite um motorista.

Pelas ruas do Centro de Porto Alegre, não faltam depoimentos sobre a agilidade e ousadia dos assaltantes.

- Quanto mais rápido agirem, menos chances de serem pegos e mais lucram em um dia. Sobem aqui no fim da linha (na Rua Doutor Flores) e descem ali na Júlio de Castilhos. É questão de minutos, o tempo de limpar os passageiros, pegar o dinheiro do motorista e descer para embarcar em outro carro e atacar de novo - conta um condutor da linha Petrópolis-Sesc, que trabalha há 30 anos no ramo e diz já ter sido assaltado dezenas de vezes.

Nas rotas da Zona Sul da Capital, não é diferente. Inseguros, os profissionais convivem com o medo a cada parada e admitem que buscam maneiras de driblar o risco.

- Ficamos inseguros de parar, então, damos preferência a passageiros conhecidos, especialmente à noite. Se eu não conheço, não paro mesmo. Mas isso, às vezes, prejudica o passageiro de bem que não consegue pegar a lotação - diz um dos condutores.


BM vai analisar ataques

A Brigada Militar destaca que atua fortemente no combate aos assaltos nos coletivos através da operação Transporte Seguro. A ação consiste em barreiras policiais onde são feitas abordagens a ônibus, taxis e lotações, especialmente nas vias de maior movimento e nos terminais dos coletivos.

- Não estabelecemos horários nem locais para não criar uma rotina, mas estas abordagens são feitas diariamente _ explica o comandante do CPC, coronel João Diniz Godoi.

Segundo o oficial, para combater a alta nos índices de assalto a lotações, deverá ser avaliada a necessidade de reposicionamento destas operações.

- Talvez o que esteja acontecendo é uma migração da criminalidade para locais onde não estamos chegando. Vamos então identificar estes pontos vulneráveis e atacar nesse locais - garante o comandante.

Câmeras e parceria com a BM

Para a ATL, o aumento nos índices da violência contra motoristas e passageiros de lotações está relacionado, principalmente, à impunidade.

- Muitas vezes, as pessoas são detidas num dia e, no outro, estão na rua. Nossas leis são falhas, e a impunidade tomou conta do país - lamenta o gerente executivo da ATL, Rogério Lago.

A associação aposta em ações conjuntas com a Brigada Militar e na tecnologia para coibir os ataques. Atualmente, 403 carros atendem 29 linhas na Capital. Conforme o executivo, pelo menos 50% destes veículos estão equipados com câmeras de monitoramento.

- Estamos cientes de que houve um aumento dos assaltos nos últimos tempos e já estamos fazendo um trabalho de nos reunirmos periodicamente com a BM para estabelecer ações de prevenção. Além disso, a instalação de câmeras tem ajudado a inibir a ação dos bandidos e a identificar os criminosos. Em breve, todos os carros estarão equipados com este recurso - prevê.

Números dos assaltos

2014

janeiro - 13
fevereiro - 16
março - 23
abril - 16
maio - 15
junho - 10
julho - 25
agosto - 26
setembro - 37
outubro - 20 *
* Até o dia 28

2013

janeiro - 11
fevereiro - 17
março - 21
abril - 16
maio - 13
junho - 26
julho - 9
agosto - 25
setembro - 14
outubro - 18
novembro - 13
dezembro - 13

Violentos e debochados

Relatos de passageiros e motoristas evidenciam a truculência e a ousadia dos criminosos. Confira:

"Assaltam e descem caminhando, bem tranquilos, contando o dinheiro. Passam na frente da lotação te olhando e sorrindo."

"Tem um assaltante que escolhe os celulares. Ele faz as pessoas tirarem tudo das bolsas, mostrarem os telefones e pega só Samsung e Iphone. O meu e o da senhora do meu lado, que são bem simples, ele não quis."

"Estão cada vez mais violentos. Dão soco, agridem o motorista, colocam a faca com o fio no pescoço da gente."

"Uma senhora atacou a lotação e, quando parei, ele empurrou ela para dentro já com a faca no pescoço. Era o mesmo cara que tinha me assaltado no dia anterior."

"Não só assaltam como debocham. Um deles fez a limpa nos passageiros e, antes de descer, disse para uma menina: 'Não vai me dar um abraço de despedida?'"

"Não dá para reagir nem fazer nada. Até os gestos tem que ser controlados, porque estamos lidando com as vidas dos passageiros. Tem que ter sangue frio e coração forte."


Assalto terminou em tragédia

Os meses de julho e setembro deste ano registraram as maiores altas nos índices de assaltos a lotações na Capital. Em julho de 2014, foram 25 registros, contra nove ocorrências no mesmo período do ano passado. Uma alta de 177%. Já em setembro, 2014 teve 37 registros, mais do que o dobro de 2013, quando 14 ataques geraram ocorrência policial - um aumento de 164%.

Um dos casos mais graves e com desfecho trágico neste ano foi o assalto que causou a morte de José do Carmo, 53 anos, às 21h do dia 27 de fevereiro. Motorista da linha Otto/Teresópolis, ele foi abordado por dois assaltantes na Avenida Carlos Barbosa, no Bairro Medianeira. Teria enfrentado os bandidos e acabou morto com pelo menos três tiros.


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