Boletim de Ocorrência - Arquivo do Crime
Renato Dornelles: "Porto Alegre já teve canibalismo"
Sem saber, parte da população de Porto Alegre cometeu canibalismo no ano de 1863. A cidade, na época, tinha um pouco mais de 20 mil habitantes, cerca de 4 mil casas em ruas mal iluminadas por lampiões que funcionavam à base de óleo de peixe.
Um morador da Rua do Arvoredo (atual Fernando Machado) e quatro cúmplices mataram seis pessoas e, de suas carnes, fizeram uma linguiça muito elogiada e consumida por boa parte da população, inclusive por autoridades da então província, que desconheciam a origem do produto.
O líder do grupo era José Ramos, um descendente de portugueses de 26 anos. A principal cúmplice era sua companheira, Catarina Palse. Eles matavam para roubar os pertences das vítimas. A eles, em determinado momento, associou-se o açougueiro Carlos Claussner, que sugeriu a utilização da carne dos mortos na fabricação de linguiça. Outros dois homens passaram a auxiliá-los na tarefa macabra.
José Ramos costumava seguir um ritual para cometer seus crimes: atraía as vítimas, convidava-as para jantar em sua casa, na Rua do Arvoredo, degolava-as com um machado, esquartejava-as e levava a carne, em caixas, para o açougue de Carlos, na Rua da Ponte (Atual Riachuelo). Depois disso, tomava um banho demorado, enchia-se de perfume e ia assistir a algum espetáculo no Theatro São Pedro.
Nos meses de julho e julho de 1863, foram seis as vítimas do grupo. Em setembro daquele ano, José Ramos matou Carlos, como queima-de-arquivo. Em abril do ano seguinte, matou um comerciante, um menino e o cachorro dele.
Os crimes acabaram descobertos em uma batida policial, feita de carruagem, quando, na casa, além de manchas de sangue, foram descobertos pertences das vítimas. No pátio, foram encontrados ossos humanos.
Todos foram condenados à prisão, mas escaparam da forca. Catarina foi libertada em 1877 e morreu em 1891, como indigente. José Ramos, cego e com hanseníase, morreu dois anos depois na Santa Casa.