Boletim de Ocorrência
Renato Dornelles: "ocorre um assassinato a cada 5 horas e meia na Região Metropolitana e a polícia não vai resolver"
Dados da planilha do Diário Gaúcho mostram que a milésima morte do ano chegou mais cedo em 2016.
À primeira vista, o título da coluna pode parecer uma crítica ao trabalho das polícias. Porém, é justamente o oposto.
Nunca se prendeu tanto neste Estado, como agora. O número de presos no sistema penitenciário não para de bater recordes. Ainda assim, as estatísticas comprovam um crescimento constante na criminalidade, principalmente a violenta.
O principal exemplo está nos dados relativos aos assassinatos. A milésima vítima na Região Metropolitana, desde que o DG iniciou seu levantamento, em 2011, chega em tempo recorde este ano.
Em 2016, a média é de um crime deste tipo a cada cinco horas meia. Isso, sem contar as tentativas.
Com autoridade, o diretor do Departamento de Homicídios da Capital, delegado Paulo Grillo, afirma que as causas da criminalidade começam bem antes do ponto de partida do trabalho policial.
Da mesma forma, o comandante do Policiamento da Capital, tenente-coronel PM Mario Ikeda, cita o acirramento da guerra entre facções e a falta de ressocialização de apenados como causas do fenômeno.
Estado ausente
Nas periferias, traficantes arregimentam adolescentes que abandonam a escola devido à carência de investimentos na educação. Esses mesmos jovens, em decorrência da falta de qualificação profissional e do baixo grau de escolaridade, são alijados do processo seletivo de empregos.
Enquanto isso, os aliciadores transitam livremente nesses locais ostentando armas, bens e poder obtidos mediante a prática de crimes. Com a combinação desses fatores, cada "soldado do tráfico" preso ou morto é substituído com tamanha rapidez que a facção nem chega a sofrer um abalo.
Nos presídios superlotados, líderes das organizações criminosas controlam as galerias. Cobram pedágios, "apoiam" na alimentação, nos artigos de higiene pessoal, enfim, suprem a massa carcerária ociosa com itens fundamentais. A conta é cobrada posteriormente, na forma de reincidência.
A verdade é que enquanto o Estado não se fizer presente, não apenas como repressor, mas no cumprimento de todos as suas atribuições, em todas as esferas da sociedade, principalmente nas acima citadas, o crime seguirá dominando.
E as polícias e a Susepe seguirão trabalhando muito, mas esse muito seguirá sendo pouco para controlar a criminalidade.