Violência urbana
Em meio à guerra do tráfico, líder comunitário vai buscar roupas em casa e é morto a tiros em Porto Alegre
Leandro Ribas teria enfrentado criminosos em defesa dos moradores da Vila São Luís, na Zona Norte
Já fazia pelo menos quatro dias que a família do líder comunitário Leandro Altenir Ribeiro Ribas, 43 anos, não dormia em casa, na Vila São Luís, uma ocupação que tomou forma há cinco anos, no bairro Rubem Berta, zona norte de Porto Alegre. Eles, assim como muitas outras entre as 250 famílias que moram na região, temiam os recentes tiroteios na vila. No começo da noite de domingo, porém, Ribas voltou à vila para buscar roupas, e acabou morto a tiros.
— Ele estava dormindo em um restaurante próximo à vila pois já não havia mais condições de entrar nem sair. Era um lugar maravilhoso até 15 dias atrás, quando começou o desespero — conta uma familiar que prefere não ser identificada.
Conforme as investigações iniciais do Departamento de Homicídios, mesmo sem qualquer relação com a criminalidade, ele foi vítima de traficantes que há pelo menos uma semana invadiram a localidade e passaram a dominar pontos de tráfico. Há suspeita de que ele tenha sido executado justamente ao se apresentar como líder comunitário, insatisfeito com o fato de que o grupo estaria agredindo e invadindo casas de moradores sem envolvimento com o tráfico.
— Tudo sobre a vila passava por ele. Ele que conseguiu a luz, a água, e conserto das ruas. Ele conseguiu o terreno e tinha um advogado cuidando da questão judicial. Ele era eletricista. Todos gostavam dele. Ele deu a vida por essa vila — lamenta a familiar.
Inicialmente, não era o alvo, diz delegada
A vila, como apura a 5ª DHPP, teria se tornado mais um palco da disputa entre facções criminosas na zona norte de Porto Alegre. No fim de semana anterior, um grupo armado teria invadido a vila à caça do até então gerente do tráfico de drogas local. O alvo conseguiu fugir e, em meio aos tiros, um comerciante teria ficado ferido. Já na terça-feira, um adolescente de 17 anos foi executado quando novamente a quadrilha entrou na vila. Conforme testemunhas, os tiroteios prosseguiram ao longo da semana.
Por volta das 19h de domingo, homens teriam chegado à Vila São Luís, próximo à Avenida Baltazar de Oliveira Garcia, no limite com Alvorada, em dois carros e invadiram algumas casas, outra vez, à procura dos desafetos.
— Neste momento, chegou o líder comunitário ao local. Ele ainda tentou fugir, mas acabou baleado. Pelo que apuramos inicialmente, ele não era o alvo — diz a delegada Roberta Bertoldo, que atendeu ao local do crime.
Com o aprofundamento das investigações, no entanto, a polícia não descarta que Ribas tenha sido ameaçado anteriormente pelos criminosos.
— Eles estão matando todo mundo. Estão matando trabalhadores — alerta a parente da vítima.