Avaliação da medida
"O Exército está preparado para a guerra, não para o policiamento", diz Schirmer sobre intervenção no Rio
Secretário da Segurança Pública do Rio Grande do Sul avalia com cautela medida adotada no Estado fluminense
O secretário da Segurança Pública do Rio Grande do Sul, Cezar Schirmer, analisa a intervenção federal na área no Rio de Janeiro com cautela. Na sua avaliação, as Forças Armadas estão preparadas para a guerra — não para o policiamento. Em entrevista ao GaúchaZH, Schirmer cobra a presença da União no controle da criminalidade por meio da fiscalização de fronteiras e do tráfico de drogas e afirma que o cenário de violência gaúcho está longe do caos fluminense.
Como o senhor avalia a intervenção federal na segurança pública no Rio de Janeiro?
Não conheço os detalhes que motivaram a adesão, mas se sabe que o Rio de Janeiro enfrenta um problema gravíssimo na área de segurança. Acredito que existem outras razões, não públicas, que desconheço. Em tese, a União tem responsabilidades específicas de sua estrita competência — o tráfico de drogas, a política de fronteiras , o controle de rodovias federais e a legislação. Seria um avanço notável se a União cuidasse dessas questões. O Rio de Janeiro é peculiar e chegou a um quadro de extrema gravidade, só que a insegurança não é uma exclusividade sua.
Para o senhor, havia necessidade de intervenção?
Não sei dizer. Lá, o quadro é extremamente grave e muito peculiar. Um caos total. Por isso, algo deveria ser feito.
O senhor acredita que, em momentos ainda mais conflagrados, essa medida foi deixada de lado?
Acho que, agora, perdeu-se completamente o controle, com a acefalia do governo estadual.
E o senhor teme que o Rio Grande do Sul caminhe para a mesma direção?
Não. Não há nenhuma semelhança entre o Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro.
Essa solução do Rio de Janeiro não serve para o resto do Brasil. Não resolve. Aqui, a realidade é totalmente diferente. Mesmo com as dificuldades financeiras, não há descontrole.
Por quê?
Porque o que acontece lá não acontece aqui. Ao menos, não na mesma dimensão. Na verdade, não acontece aqui e em nenhum outro Estado. Além do mais, os indicadores criminais vêm se reduzindo no Rio Grande do Sul.
Quando o senhor assumiu a Segurança Pública, a violência havia eclodido no Rio Grande do Sul. Naquele momento, a intervenção das Forças Armadas seria a solução?
Não. O Exército não é para isso. É para a defesa externa do país. Claro que pode ajudar, mas não se transformar em polícia. O Exército tem outra natureza em seu preparo psicológico e conduta. Está preparado para a guerra, não para o policiamento.
Essa medida representa a admissão da derrota do Estado em enfrentar a criminalidade?
O Rio de Janeiro é atípico. Por se tratar de uma cidade turística, de certa forma, é o retrato do país. O mundo olha o Brasil pelo Rio. Talvez seja uma resposta internacional, mas é um ponto fora da curva. O governo federal tem de cuidar do que é de sua estrita competência constitucional.
Então, é uma medida equivocada?
O Exército pode ajudar muito. Aqui, nos ajudam em barreiras conjuntas, inteligência e tecnologia. Mas tem essa peculiaridade: está preparado para a guerra externa do país, não para o policiamento.