Sapucaia do Sul
"Só ouvi aquele estouro e não vi mais nada", diz idosa ferida por três tiros
Disparos atingiram rosto, pés e abdome de Ordalina da Silva na manhã desta segunda-feira (30) em Sapucaia do Sul. Ela recebeu alta no final da manhã
Sentada no sofá de casa, Ordalina da Silva, 67 anos, mal parecia ter sido vítima de três disparos na manhã desta segunda-feira (30), ao ficar em um meio ao fogo cruzado em Sapucaia do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre. Por cerca de meia hora, conversou com a reportagem de GaúchaZH e ainda arriscou dar alguns passos até a porta de casa.
— Para mim, representou um sonho. Só ouvi aquele estouro ali e não vi mais nada. Ia desmaiar, mas fui até o portão da vizinha e me agarrei na grade e aí a minha filha me socorreu — conta Ordalina.
Por volta das 7h, ela voltava para casa após deixar a nora em uma parada de ônibus quando se viu no meio de um tiroteio, de criminosos em direção à polícia. Três disparos atingiram o rosto, os pés e abdome da idosa.
Os tiros acordaram vizinhos e alertaram a filha de Ordalina, Cleonice da Silva, 38 anos. Ela estava em cima de uma carroça, recolhendo lixo com o filho de 12 anos, próximo de Ordalina.
Ensanguentada, a idosa foi socorrida por Cleonice que tirou a própria camisa para estancar o sangue das pernas. A dona de uma casa, no qual ela se apoiou, ofereceu uma cadeira para sentar enquanto não vinha socorro e alcançou uma toalha para conter o sangramento no rosto. Já o menino foi às pressas pedir socorro na casa da família, a poucos metros do local dos disparos.
No carro do filho de Ordalina, um vizinho a levou até a Unidade de Pronto Socorro Walderez. Em seguida, foi transferida para o Hospital Getúlio Vargas, para verificar a situação dos pés, atingidos por um tiro.
No final da manhã, recebeu alta e pôde voltar para casa, no bairro Camboim. Segundo médicos, ela vai precisar ficar dois meses se recuperando.
— Nem imagino, até agora não sai da cabeça, aquele momento que vi a mãe gritando, gritando, corria e não sabia o que fazer, tentei ajudar e ela dizia para mim toda hora: tô morrendo, me ajuda, me ajuda. Foi uma coisa que nunca imaginei passar na minha vida — conta a filha Cleonice.
Criminosos fugiam de assalto a caminhão
Antes de atirar em direção à polícia, os criminosos tinham assaltado um caminhão, carregado com cigarros em Esteio, cidade vizinha de Sapucaia do Sul. A informação da fuga deles já circulava entre PMs da região que começaram a fazer buscas a partir da descrição do veículo, um Corolla. De repente, uma viatura de Sapucaia encontrou o carro utilizado pelos ladrões na Avenida Justino Camboim.
Em depoimento, os PMs relatam que os criminosos começaram a atirar ao verem o carro policial, sem ter tempo para revide, explica o chefe de investigação da 2ª Delegacia de Polícia, Gilberto Primeiro. Quem estava na rua, como Cleonice e Ordalina, presenciou um dos criminosos ordenando atirar.
— Quando o carro branco parou, um deles gritou: "toca fogo" — relata Cleonice.
Os vidros da viatura foram quebrados pelos disparos e, em seguida, começou a perseguição. Para liberar caminho, o grupo armado chegou a atirar em direção a um caminhão que transitava em um trecho mais estreito da avenida.
— Eles estavam armados com fuzis e metralhadora — conta o chefe da investigação da 2ª DP de Sapucaia.
Dali, percorreram mais de dois quilômetros até invadirem um sítio no Morro do Chapéu, ainda em Sapucaia do Sul. Os criminosos abandonaram o carro e fugiram a pé, entrando por um matagal. O helicóptero do Batalhão de Aviação foi acionado para apoiar a polícia nas buscas pelo grupo. No Corolla, a BM achou cápsulas deflagradas de pistola e diversas caixas de cigarro.
Conforme o policial, o carro vai passar por perícia minuciosa para tentar localizar as digitais dos envolvidos. Até a publicação desta reportagem, ninguém havia sido preso.
Agora o caso vai ser investigado pela Delegacia de Roubo de Cargas do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).