Decisão judicial
Criminoso que deixou cadeia em BMW e rompeu tornozeleira teve transferência negada para presídio federal
Segundo chefe da Polícia Civil, Emerson Wendt, Gordo Dé tem relação com crimes violentos ocorridos na região do bairro Rubem Berta
O líder de facção que deixou o Presídio Central de Porto Alegre beneficiado por uma prisão domiciliar e 39 minutos depois rompeu a tornozeleira eletrônica e passou a ser considerado foragido era motivo de preocupação por parte da Polícia Civil. Considerado importante não só nas ruas, mas um dos "plantões" de galeria na cadeia, André da Silva Dutra, o Gordo Dé, teve pedido de transferência a um presídio federal negado pela Justiça. Ele era um dos alvos iniciais da Operação Pulso Firme, que transferiu 27 presos de alta periculosidade do Rio Grande do Sul para outros Estados.
Conforme o chefe de Polícia Civil do Rio Grande do Sul, delegado Emerson Wendt, além do pedido inicial, a corporação tentou pedir reconsideração para forçar a ida do criminoso para um presídio federal, também negado. Alegados problemas de saúde do preso, principalmente uma hérnia abdominal, embasaram as decisões judiciais de não transferi-lo.
— É lamentável que tenha tido essa decisão (pela progressão), porque a gente sabe da importância desse preso no sistema prisional e sabe o que ele pode ocasionar na rua — critica o chefe de polícia.
Havia três prisões preventivas contra Gordo Dé. Duas delas eram relacionadas a homicídios e outra por lavagem de dinheiro. Ele já havia sido libertado do regime fechado em duas delas, mas ainda restava uma única que o mantinha preso. Em sua decisão, a juíza Sonáli da Cruz Zluhan manifestou que havia parecer favorável do Ministério Público para sua progressão ao semiaberto e considerou que "existem vários laudos médicos demonstrando o estado de saúde do preso".
Conforme o chefe de polícia, Gordo Dé é um dos principais líderes do tráfico de drogas no bairro Mario Quintana, na zona norte de Porto Alegre. Sua facção criminosa também teria influência nos municípios de Viamão, Gravataí, Alvorada e Cachoeirinha — município onde possui uma casa com piscina, na qual sua mulher cumpre prisão domiciliar.
— Os principais conflitos nos últimos tempos no Rubem Berta e imediações tinham relação com ele. É um preso extremamente perigoso no sentido de que homicídios e delitos relacionados à facção dele são com requinte de crueldade, como decapitação, esquartejamentos — afirma Wendt.
O chefe de polícia ainda afirma que sua soltura pode causar uma "nova disputa do tráfico" na zona norte e cidades da Região Metropolitana.
A soltura de Gordo Dé
Após decisão judicial, foi instalada uma tornozeleira eletrônica em Gordo Dé às 19h45min de sábado (8). Ele deixou a cadeia em uma BMW X1, que era acompanhada de uma caminhonete Captiva. Trinta e nove minutos depois, às 20h24min, o equipamento foi rompido. No sinal do GPS, o trajeto feito por ele inicia-se no Central, percorre a Avenida Bento Gonçalves, entra em Viamão pela RS-040 e é finalizado no Morro de Nossa Senhora Aparecida.
Em fevereiro de 2018, o criminoso foi alvo de investigação após comprar uma Captiva blindada e tentar legalizá-la na Polícia Civil. Constam como bens do traficante também uma caminhonete Santa Fé e imóveis de luxo na Região Metropolitana.
Em 2017, o mesmo foragido foi indiciado pela decapitação de quatro jovens em Alvorada, na Região Metropolitana. O plano, segundo a investigação, foi arquitetado de dentro do Presídio Central por ele e um comparsa. Além deste caso, ele também foi indiciado em outros nove assassinatos, segundo o Departamento de Homicídios da Polícia Civil.