Crime na Zona Norte
Policiais militares acusados de matar dois homens em Porto Alegre vão a júri
Carro em que estavam Juliano Andrade Ferreira e Cristiano Severo Lima foi atingido por 26 disparos em 18 de agosto do ano passado
A Justiça determinou que dois policiais militares acusados de matar dois homens, na Avenida Sertório, no bairro Navegantes, na zona norte de Porto Alegre, em agosto de 2017, sejam julgados pelo Tribunal do Júri. A decisão, de terça-feira (18), ainda determinou a soltura dos dois militares _ eles estavam presos preventivamente desde dezembro do ano passado. Ainda não há data marcada para o julgamento.
Os soldados Samuel Curtinaz de Freitas e Ricardo Pedroso de Almeida são acusados de duplo homicídio doloso qualificado, com recurso que dificultou a defesa das vítimas, pelo assassinato de Juliano Andrade Ferreira e Cristiano Severo Lima, ambos de 40 anos.
O crime aconteceu na manhã do dia 18 de agosto. Os amigos, que não tinham antecedentes policiais graves, voltavam para casa em um Golf quando foram mortos. Os PMs alegaram que haviam saído de uma festa e que as vítimas teriam anunciado assalto e, por isso, reagiram. Eles estavam em um carro blindado.
A investigação da Polícia Civil não confirmou a versão dos PMs. A perícia apontou que o Golf dos amigos foi atingido por 26 disparos. O veículo dos soldados apresentava três marcas de tiros, mas o laudo do Instituto Geral de Perícias (IGP) não encontrou sinal de que os disparos tenham sido dados pelas vítimas. Também não apontou nenhum indício de que as armas apresentadas pelos PMs pertenciam a Ferreira e Lima.
Na denúncia, o Ministério Público também entendeu que os dois amigos não atiraram contra o carro dos policiais. "As vítimas não efetuaram nenhum disparo de arma de fogo, ao passo que os denunciados efetuaram mais de 30 disparos, fato extremamente descomunal", escreveu a promotora Lúcia Helena Callegari na denúncia.
GaúchaZH não conseguiu contato com o advogado Ricardo Cantergi, que defende os dois PMs. Ouvido outras vezes pela reportagem, a defesa alega que os policiais reagiram à abordagem dos homens.
— Alguém atirou contra a polícia e a polícia revidou. A má sorte dos dois é que tentaram levar o carro de PMs preparados. O que nos aborrece é que parece que os policiais eram criminosos e que as vítimas não fizeram absolutamente nada — declarou Cantergi, em maio deste ano, quando pediu a liberdade de Curtinaz e Almeida.