Crime sexual
"Tinha esperança que ele não tivesse feito nada", diz mãe de adolescente estuprada após festa
Suspeito pelo crime, motorista de Uber foi preso na última terça-feira (11)
Dois meses após ser estuprada supostamente por um motorista de Uber, uma adolescente de 17 anos convive com as consequências do abuso. Não sai de casa sozinha, chora constantemente e faz tratamento com antidepressivos. No último dia 28, tentou tirar a própria vida.
A mãe de 36 anos voltava do trabalho em um ônibus de Porto Alegre para Cachoeirinha quando recebeu a mensagem da filha: "Te amo".
— Estranhei porque ela não costuma mandar essas mensagens. Daí perguntei o que era aquilo, e nada de resposta — conta a mãe.
Em seguida, recebeu a ligação de uma amiga da jovem que pediu para ir às pressas para casa, porque a filha iria se matar. Desesperada, a mãe passou a telefonar insistentemente para quem estivesse perto da adolescente. O visível nervosismo da mulher deixou outros passageiros do coletivo em pânico.
— Minha vontade era de pular daquele ônibus. Nunca imaginei que ela iria fazer isso — conta a mãe.
Por último, conseguiu falar com uma vizinha, que correu até a casa e encontrou a jovem caída no chão, inconsciente. A mãe desceu do ônibus no caminho e ainda conseguiu carregar a filha para o atendimento, onde passou por lavagem estomacal.
Adolescente luta para esquecer abuso
Após o estupro, a jovem luta para esquecer as lembranças do abuso. Segundo a mãe, foi a primeira vez que a filha saiu sozinha para uma festa — o evento era um galpão às margens da RS-020. Chegou ao local próximo da meia-noite e, às 2h, amigos chamaram um carro pelo aplicativo para ela. Em seguida, foi colocada no veículo, um Sandero.
A polícia confirmou por meio de GPS do carro que Antônio Carlos de Oliveira Rodrigues não parou na frente da casa da passageira, passando pelo local a 6 km/h e indo para Alvorada, onde teria ocorrido o estupro. O homem acabou preso na noite de terça-feira (11) no Morro da Cruz, na zona leste de Porto Alegre.
— Até o DML (Departametno Médico Legal) eu tinha esperança que ele não tivesse feito nada. Aí no DML, vi que ela estava toda machucada — relata a mãe.
Segundo a mãe, a jovem chegou a sua casa às 5h50min e foi direto para o quarto dormir. Por volta das 10h, entrou no quarto e chamou a filha, que se deu conta que não estava mais com o celular.
— Disse: "eu não acredito!" Recém tinha comprado, um celular simples, de R$ 800, e xinguei ela. E ela disse: "não foi só isso" e começou a chorar.
A adolescente correu para a casa de uma vizinha e, logo depois, a mãe foi chamada.
— A vizinha disse: "vem que é sério" — conta a mãe.
Ao chegar ao banheiro da residência, encontrou a filha ensanguentada. Aos poucos, a adolescente foi lembrando do que tinha acontecido.
— Ela não sabia o que tinha acontecido porque ela não lembrava do ato. Ela disse que estava atordoada, não ligava as imagens da festa com as imagens daquele cara em cima dela, com as imagens da casa, com as imagens do cachorro, com a imagem do colchão no chão, com a imagem do cara colocando a roupa dela. Para ela, era um pesadelo. Ela se deu conta quando o corpo começou a doer e quando foi no banheiro e estava cheio de sangue — relata a mãe.
A adolescente só voltou à escola na terça-feira, dois dias após o estupro. Mas a notícia tinha se espalhado e, envergonhada, foi liberada naquela semana que antecedia as férias. Ela segue fazendo acompanhamento com psicólogo e psiquiatra.
Homem teria falsificado antecedentes
Segundo o delegado Leonal Baldasso, o motorista estava com a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) cassada e falsificou documentos de antecedentes policiais para locar
um carro de uma terceira pessoa e para apresentar à empresa de transporte de aplicativo.
A polícia aguarda novos exames periciais para ter mais provas sobre o abuso sexual e mais informações com a Uber. Baldasso disse que Rodrigues responde pelos crimes de estupro, cárcere privado, furto de celular e falsificação de documentos. Ele é apontado também por ter levado o celular da adolescente. Questionado pelos policiais civis, disse que não se lembrava dos fatos e só se manifestará em juízo. Ele foi encaminhado a uma casa prisional da Região Metropolitana.
O que diz a Uber
Em nota, divulgada nesta quinta-feira (13), a Uber informou que os antecedentes criminais dos motoristas são analisados por empresa especializada. Após o estupro da adolescente, a empresa afirmou que está verificando o que pode ter acontecido, já que o homem tinha antecedentes criminais.
Leia a íntegra o posicionamento da Uber:
"Todos os motoristas parceiros cadastrados na Uber passam por checagem de antecedentes criminais realizada por empresa especializada que, a partir dos documentos fornecidos para cadastramento na plataforma, consulta informações de diversos bancos de dados oficiais e públicos de todo o País em busca de registros de crimes ou infrações que possam ter sido cometidas. No caso específico, a empresa solicitou que uma rechecagem da verificação sobre o ex-motorista fosse feita, para entender o que pode ter ocorrido.
A Uber lamenta o crime terrível que foi cometido. Nenhum comportamento dessa natureza é tolerado e o motorista foi banido da plataforma assim que a denúncia foi feita. A Uber repudia qualquer tipo de comportamento abusivo contra mulheres e acredita na importância de combater, coibir e denunciar casos de assédio e violência.
A empresa está sempre à disposição para colaborar com as autoridades no curso de investigações ou processos judiciais. Nenhuma viagem com a Uber é anônima e todas são registradas por GPS. Isso permite que em caso de incidentes nossa equipe especializada possa dar o suporte necessário, sabendo quem foi o motorista parceiro e o usuário, seus históricos e qual o trajeto realizado."