Porto Alegre
Crime no Sarandi: adolescente foi morto no dia em que completava 15 anos
Gabriel Moraes Maciel aguardava chegada de carro de aplicativo quando foi alvejado
Era dia de aniversário de 15 anos. Depois de passar a terça-feira (30) com amigos e com a família, Gabriel Moraes Maciel se arrumou para ir à casa de seu pai. Colocou os tênis e boné recém ganhos de presente, e deixou a residência onde mora com a mãe, em um beco no bairro Sarandi, na zona norte de Porto Alegre.
Caminhou menos de 150 m até chegar ao bar da Rose, na Avenida Souza Melo, onde iria aguardar um carro chamado por um aplicativo. Pouco tempo depois, um Fiat vermelho se aproximou, mas não era o veículo esperado. De dentro do carro, dois homens passaram a atirar com pistolas calibre 380 e 9 mm em direção ao adolescente. Gabriel caiu no chão.
Em seguida, um dos atiradores desceu do carro e disparou para dentro do bar. A proprietária do estabelecimento conseguiu se desvincilhar das tiros e se escondeu no interior do local.
Já o pintor de carros Amarildo Fernandes dos Santos, 53 anos, não teve a mesma sorte. Ele tinha acabado de sair do trabalho e passara no bar para tomar um cerveja antes de assistir ao jogo de Grêmio e River Plate, pela semifinal da Libertadores. Mas não conseguiu nem ver o apito inicial da partida. Foi baleado enquanto estava sentado na cadeira de plástico do bar, com um tiro na região do peito e outro no abdômen.
Os tiros foram ouvidos de dentro da casa de Gabriel. Parentes e amigos do garoto correram para o bar e encontraram o menino ensanguentado. Não acreditaram no que viram. Tentaram ainda socorrê-lo, mas sem sucesso. Na volta dos dois corpos, havia nada menos que 19 cápsulas e estojos das pistolas.
A morte precoce acabou frustrando uma festa de aniversário, planejada para esta quinta-feira (1º) na casa da família. Ao som de muito funk, a confraternização incluiria passinhos de dança elaborados pelo próprio jovem e conhecidos por amigos e até pela vizinhança.
— Ele era uma lombriga dançando — se alegra uma tia, em meio às lágrimas.
O "bebê" da família tinha outros cinco irmãos e estava no 6º ano da Escola Municipal Décio Martins Costa. Perto do local do crime, colegas de colégio entraram em choque ao verem ele caído no chão.
— Era querido por todos. Meu filho de 16 anos chorou muito — relata outra mulher, que também preferiu o anonimato.
"Sempre alegre", lembra irmão de Amarildo
A outra vítima também vinha de uma família grande. Amarildo tinha nada menos que nove irmãos. Dois deles já haviam morrido - um de acidente de carro em Santa Catarina e outro afogado em Guaíba. Um familiar de 59 anos destaca o bom humor da vítima.
—Ele era sempre alegre — sintetiza.
Divorciado, ele se dividia entre sua casa e o trabalho de autônomo com a pintura de carros. Deixa três filhos, todos já adultos.
Crime pode ter relação com tráfico de drogas
Para a polícia, o duplo homicídio pode ser mais um capítulo da guerra entre facções ligadas ao tráfico de drogas. Conforme o delegado Cassiano Cabral, da 3° Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), a região é conhecida pelo comércio de entorpecentes. Entretanto, as duas vítimas não tinham antecedentes criminais.
— Não tinham um alvo específico. A região é de tráfico de drogas e a suspeita é de que os atiradores pertenciam a um grupo rival, passaram pelo local e atiraram em quem estivesse por ali — afirma o delegado.
Ainda se desconhece o que teria motivado o crime. Investigadores foram para as ruas nesta quarta-feira (31) para encontrar câmeras de segurança que possam ter flagrado a movimentação do carro ou mesmo o tiroteio. O veículo utilizado pelos atiradores ainda não foi encontrado.