Insegurança
Horário reduzido, servidores com atestado e reforço na vigilância marcam reabertura de posto assaltado na Capital
Unidade de Saúde da Zona Norte voltou a funcionar após três dias fechada por conta de ação de criminosos
Com horário reduzido, consultas canceladas e servidores visivelmente abalados, a Unidade de Saúde Barão do Bagé, no bairro Vila Jardim, na zona norte de Porto Alegre, alvo de um violento assalto na última quarta-feira (24), foi reaberta nesta terça-feira (30). Depois da ação dos criminosos, o posto permaneceu fechado na quinta, na sexta e na segunda-feira. A segurança foi ampliada, com reforço no número de vigilantes e a permanência de uma guarnição da Guarda Municipal na frente do prédio.
Pouco depois das 7h, os primeiros servidores começaram a chegar. Abraços apertados entre colegas marcaram o reencontro no local de trabalho, após quase uma semana. De acordo com o gerente de saúde do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), que administra a unidade, Antônio Selistre, sete não compareceram, por estarem afastados pela medicina do trabalho, com diagnóstico de estresse pós-traumático. Duas funcionárias lotadas na Gerência de Saúde do GHC foram deslocadas para a unidade, para amenizar as ausências.
— Está sendo bem difícil esse retorno. Optamos pelo funcionamento até as 14 horas como forma de concentrarmos os profissionais e servidores aptos durante esse período, uma vez que, entre os que trabalham à tarde e estavam no momento do assalto, muitos não puderam comparecer — explicou a supervisora da unidade, que pediu para não ser identificada.
O reforço na vigilância foi considerado um alento por alguns dos servidores.
— Graças a Deus tem Guarda Municipal aqui na frente — descreveu uma mulher ao chegar para trabalhar.
Para outros, contudo, permanecia uma sensação de insegurança em relação ao dia de trabalho.
— Fica uma expectativa, pois não se sabe o que vem pela frente — disse uma médica residente.
Do lado de fora, até a abertura do posto, às 8h, havia uma fila de 15 pessoas aguardando atendimento. Entre elas, o aposentado Lucemir Oliveira, 79 anos, que realiza tratamento para um problema no ouvido.
— Eu vim na quinta e na sexta-feira e estava fechado. Ontem, não vim pois fiquei sabendo que não iria abrir. Acho que hoje vou ser atendido — disse.
À sua frente estava a aposentada Leopoldina Souza, 84 anos, que desde a quinta-feira aguardava por um carimbo em uma receita. Já a auxiliar de serviços gerais Keitty Oliveira, 31 anos, que tinha consulta agendada com uma clínica geral, acabou não sendo atendida.
— A médica não veio. Vou ter que remarcar — disse.
No interior do posto, médicos explicaram para os usuários os motivos de a unidade ter permanecido fechada durante três dias e, nesta terça-feira, funcionar com horário reduzido. Além disso, convocaram para esta quarta-feira (31), às 13h, em frente ao prédio, uma assembleia entre servidores e comunidade para um debate sobre o contexto de violência. A estimativa é de que cerca de mil pessoas tenham deixado de ser atendidas nos dias em que o posto não esteve em funcionamento.
Violência e ameaças permanecem na memória
O assalto permanece de forma marcante na memória de servidores da Unidade de Saúde Barão do Bagé. Na quarta-feira da semana passada (24), por volta das 15h, após dominarem um vigilante, três homens armados invadiram o posto pela entrada dos fundos e, de sala em sala, foram ameaçando cerca de 25 servidores e 15 usuários, obrigando-os a deitarem no chão.
— Eram muito violentos e ameaçadores — lembra uma servidora.
Os ladrões exigiam que as pessoas lhes entregassem objetos pessoais, principalmente celulares. Uma médica que custou a perceber o que estava ocorrendo foi agredida com uma coronhada.
— Uma criança de apenas dois meses estava sendo vacinada e isso não fez a mínima diferença para eles — lembrou uma servidora.
O trio fugiu levando o carro de uma funcionária do posto de saúde.
A Secretaria Municipal de Saúde informou que foram roubados coletes dos agentes municipais de saúde que trabalham no posto. Por isso, emitiu um alerta para que moradores peçam o crachá de agentes que visitam suas residências. O assalto está sendo investigado pela 14ª Delegacia de Polícia.
Patrulha e reforço na segurança
Durante três dias, na quinta, na sexta e na segunda-feira — o local não abre nos finais de semana —, profissionais e demais servidores que atuam na unidade de saúde debateram com a Gerência de Saúde do Grupo Hospitalar Conceição medidas de segurança que possam ser adotadas. Entre elas, a solicitação de podas de árvores do entorno e a instalação de câmeras de segurança.
A Guarda Municipal, que guarnecia o posto na reabertura, avalia a possibilidade de tornar a medida permanente.
— Estamos dando um apoio e estudando uma forma de patrulha. Podemos adotar o mesmo trabalho realizado nos postos da prefeitura, uma vez que essa unidade, que é administrada pelo Grupo Hospitalar Conceição, funciona de forma semelhante as do município — explica o supervisor da Guarda Municipal, Ricardo Prado.
A Brigada Militar, através do 11º Batalhão de Polícia Militar, realiza rondas esporádicas pelo local. A vigilância do interior do posto é realizada por uma empresa terceirizada. Nesta terça-feira havia três guardas, dois a mais do que no dia do assalto.