São Leopoldo
Morte por engano em hospital: o que se sabe e o que ainda é mistério sobre o crime
Digitais e câmeras de segurança estão sendo analisadas para chegar aos responsáveis
A morte de um paciente dentro de um hospital, na madrugada de sexta-feira (9), voltou a colocar nos holofotes da polícia a cidade de São Leopoldo, a pouco mais de 38km de Porto Alegre. O município, de pouco mais de 214 mil habitantes, vinha apresentando queda de homicídios. Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), 36 pessoas foram assassinadas de janeiro a outubro deste ano na cidade. No mesmo período de 2017, foram 88 vítimas. A morte de Gabriel Vilas Boas Minossi, 19 anos, foi o segundo homicídio ocorrido na cidade no mês de novembro.
Horas após o crime, investigadores da delegacia especializada em homicídios refizeram o caminho dos criminosos após a fuga do hospital. Percorreram ruas e avenidas em buscas de câmeras que pudessem flagrar o movimento do Fiesta de cor prata até o local onde foi abandonado, no bairro Vicentina. O veículo foi deixado a pouco mais de 2km do hospital.
— Fizemos todo o trajeto ontem (sexta-feira) para identificar câmeras e ver se gravaram — observa o chefe de investigação da delegacia, Odilei Betanin.
Já outra equipe tentava detalhes do veículo. Descobriram que o carro foi tomado no dia anterior de uma mulher em Esteio, na região metropolitana de Porto Alegre, especialmente para cometer o crime no hospital. A equipe acabou indo até Esteio para fazer uma varredura por câmeras e, com as imagens, chegar aos autores do assalto.
GaúchaZH reúne abaixo uma série de pontos sobre o crime conhecidos pela polícia e os que ainda são mistério.
Quem era o verdadeiro alvo?
O verdadeiro alvo dos criminosos que invadiram o hospital era Alex Junior Abreu Tubiana, o Gordo, 28 anos. Ele foi sentenciado a 25 anos e seis meses de cadeia pelo assassinato de dois homens, sendo obrigado a cumprir pena até 2034.
Por que ele estava solto?
Em outubro, ele foi transferido para o regime semiaberto e aguardava em casa a colocação de uma tornozeleira eletrônica — prevista para esta sexta-feira (9) — devido à falta de vagas nos albergues.
Tubiana estava no hospital porque, na quarta-feira passada (7), se envolveu em outro assassinato — o de Samuel Lima da Rosa, 19 anos. Segundo a polícia, Tubiana reagiu a disparos efetuados por Samuel, que teria invadido uma oficina no bairro Santos Dumont com dois comparsas para matá-lo. Na troca de tiros, Samuel foi alvejado 10 vezes e não resistiu. Ferido, Alex foi internado no Hospital Centenário.
Onde está agora Alex Tubiana, o verdadeiro alvo?
Não se sabe. Tubiana assinou um termo se responsabilizando pela saída do hospital e foi liberado ainda na sexta (9). Conforme o chefe de investigação da delegacia, ele precisava se apresentar naquele dia para colocar a tornozeleira eletrônica. Mas isso não ocorreu e, tecnicamente, pode ser considerado foragido. Porém, como ele ainda estava internado até sexta-feira, ainda pode apresentar um atestado médico e colocar a tornozeleira.
Quantos participaram da ação no hospital?
Quatro pessoas. O grupo chegou à emergência do hospital em um Prisma. Segundo a polícia, os quatro descem do veículo e dois seguem para o interior da casa de saúde. A outra dupla fica na volta do carro — um cuidando o movimento da rua e outro observando o saguão do hospital. Câmeras de segurança flagraram o momento da invasão do hospital. Veja abaixo:
Quantos tiros foram efetuados?
Segundo a polícia, foram disparados 29 tiros. Outras duas pessoas que estavam no local ficaram feridas nas pernas. As vítimas são outro paciente da instituição e a madrinha de Gabriel, que o acompanhava. Os dois passam bem.
Onde estava Tubiana no momento dos disparos?
O verdadeiro alvo dos criminosos havia sido transferido para outro quarto, em um andar superior ao que ocorreu o crime, a pedido de outros pacientes.
Por que ele não estava custodiado pela polícia?
Conforme o comandante da Brigada Militar (BM) em São Leopoldo, tenente-coronel Daniel Coelho, não foi identificado risco de um novo crime. Horas antes dos disparos, um coordenador de serviço da BM foi até o local e conversou com Tubiana.
— Ele se mostrou bastante tranquilo e não entendia que tivesse essa situação. Também, mais à noite, mandamos um oficial de serviço no local e não tivemos a informação de risco iminente — salientou o oficial em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade.
Os suspeitos já foram identificados?
Segundo o delegado Alexandre Quintão, um dos suspeitos já foi identificado com uso de imagens de segurança. A Polícia Civil e o Departamento de Criminalística encontram dificuldades para reconhecer os envolvidos no crime pelas imagens porque os criminosos estavam usando máscaras típicas de fantasias, bonés e capuzes para cobrir os rostos. Por causa disso, Betanin descarta pedir um retrato falado.
Foram encontradas digitais dos criminosos?
A perícia coletou digitais em todo o caminho dos criminosos dentro do hospital. Nas imagens das câmeras de segurança, é possível perceber que os dois executores encostam na parede da casa de saúde. O material está em análise e o resultado deve chegar às mãos dos investigadores nos próximos dias.
O que teria motivado o crime?
Antes de ser preso, Tubiana era ligado ao tráfico de drogas na região da Vila Brás. Com a saída dele do sistema prisional, era considerado uma ameaça para os traficantes que assumiram o ponto.
— Como ele era do tráfico antes de ser preso, o atual "patrão" da área pode ter ficado com receio de que o Alex voltaria a atuar, fazendo concorrência. Sentiu-se ameaçado — observa o chefe da investigação da especializada em homicídios, salientando que a hipótese ganha força pelo fato de Tubiana andar armado.