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Feminicídios

Paula: atropelada e morta a facadas a caminho do trabalho em São Gabriel

Suspeito é o ex-companheiro, atualmente preso, com quem ela tinha um filho e manteve relacionamento por dois anos

02/11/2018 - 21h07min

Atualizada em: 02/11/2018 - 21h10min


Leticia Mendes
Leticia Mendes
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Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Jovem estava separada há dois meses do companheiro, quando foi assassinada

Katia Schultz Lopes Lacerda queria ser mãe e avó jovem para poder desfrutar da família. Dois meses após se casar, em São Gabriel, soube que estava grávida. Tornou-se mãe aos 17 anos. O nome do bebê, Paula, foi uma homenagem ao marido, Paulo, hoje falecido. Vinte e três anos depois, pensa que o tempo foi curto. Há sete meses, todos os domingos ela segue até o cemitério para visitar o túmulo da única menina entre os três filhos que teve. Quando retorna para casa, agarra-se ao neto, Benjamin, o Ben, para seguir em frente. 

— A gente tem o Ben. 

Era a frase que Paula Estefani Schultz Lopes Lacerda, 23 anos, repetia quando Katia a alertava sobre a possessividade do ex. A criança era a ligação que a mantinha atrelada a ele. Katia não se convencia. Temia que Paula pudesse sofrer alguma violência. Em março, ela foi assassinada enquanto ia para o trabalho

Apenas uma quadra separava as casas de Paula e da mãe, onde a jovem deixava o filho todas as manhãs. Naquele dia, deixou o menino com o padrasto. Ao sair, alertou para que fechasse as janelas porque poderia chover. Katia não estava: acordara cedo para ir ao centro da cidade. 

Segundo a Polícia Civil, o militar da reserva Rogério Biscaglia Righi, 32 anos, que está preso, perseguiu a ex-mulher por duas quadras em um Fiesta. Na Avenida Francisco Chagas, acelerou o carro na direção da jovem, que estava na calçada. Testemunhas relatam que ele saltou do veículo e cortou o pescoço dela. Righi foi detido por outro militar quando ainda estava com a faca na mão. 

José Dagoberto Almerom Vaz / Especial
Família guarda cordão que era usado por Paula no dia em que foi morta em São Gabriel

Quando o crime ocorreu, o casal, que havia vivido junto por dois anos, estava separado há dois meses. Após idas e vindas, Paulinha rompeu a relação. Recebeu apoio da família, que não concordava com os episódios frequentes de brigas e ciúmes. 

— Ele não podia ver nada no telefone dela. Se alguém curtia uma foto em uma rede social, já era discussão — recorda Katia. 

Apesar dos desentendimentos, Paulinha não registrou ocorrência contra o ex. Naquela fatídica segunda-feira, segundo uma amiga, pretendia procurar a polícia, porque o tom das ameaças aumentou. 

— Disseram que ela gritava: "Tu não pensa no Ben?". O filho era tudo para ela. Ela ainda lutou. Tinha cortes nas mãos. A corrente que ela comprou com o nome do Ben, ele cortou — recorda Katia. 

O avô de Paulinha, Rubem Araci Souza Lopes, 61 anos, sargento da Brigada Militar aposentado, ainda tenta entender o episódio. Ela planejava seguir a carreira de Rubem e se tornar policial militar. 

Quando acontece com os outros a gente pensa: "Como uma mãe vai sobreviver a isso?". Eu não sei como. Penso que tenho de cuidar do filhinho dela, que ficou sem mãe e também sem pai

KATIA LACERDA

Mãe de Paula

— Nossa família está destruída. Nesses sete meses, a gente não conseguiu assimilar. Não entra na cabeça da gente como uma pessoa faz uma coisa tão brutal — emociona-se o avô da vítima. 

Em poucos meses, Katia envelheceu mais do que nas últimas décadas. Os olhos entristeceram. Levanta todos os dias no mesmo horário em que costumava aguardar a chegada da filha com o neto. Estranha não ter a casa de Paulinha para arrumar e a companhia dela nos jantares do dia a dia. 

— Quando acontece com os outros a gente pensa: "Como uma mãe vai sobreviver a isso?". Eu não sei como. Penso que tenho de cuidar do filhinho dela, que ficou sem mãe e também sem pai — descreve a avó. 

José Dagoberto Almerom Vaz / Especial
Família organizou protestos após morte de jovem em março

No aniversário de dois anos, completados em 16 de outubro, o pequeno vestia uma camiseta com a fotografia da mãe. Quando vê alguma imagem dela, beija e chama por Paula. Entre as lembranças que Katia guarda da filha, está a correntinha dourada usada pela filha no dia de sua morte. 

Num último gesto de afeto com a neta, Rubem levou a joia para o conserto. O cordão repousa agora dentro de um pequeno porta-joias que pertencia a Paulinha. Quando Benjamin crescer, será entregue a ele, numa esperança de que os bons momentos permaneçam na memória da família.

Contraponto: 

Os advogados de Righi, Gustavo Teixeira Segala e Tiago Bataglin, se manifestaram por meio de nota enviada à reportagem:

A defesa entende que existe uma série de informações que são exclusivamente do processo e, em respeito a ele, não podemos revelar por meio da imprensa maiores detalhes do caso. Mas queremos adiantar a todos que não façam seu juízo sem conhecer os elementos que circundam o processo, pois, no momento certo, a defesa vai apresentar as provas e a população vai poder entender o real significado de não tomar nenhuma posição sem antes verificar tudo que existe nos autos do processo. 

A defesa, se manifesta, pedindo que a população gabrielense, aguarde, porque vem por ai, um arcabouço de informações e fatos importantes que, podem mudar o que aparentemente parece ser um crime de feminicídio, bem como, o que está sendo ou já foi alardeado tanto pela polícia como pela família da vítima Paula Schultz Lopes Lacerda, pois são pessoas nesta fase processual, alheias a tudo o que foi produzido no processo. De modo que, suas posições, opiniões e informações podem estar dissociadas da realidade dos fatos. 

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