Golpe das casas de papel
Comerciante de Gravataí teve prejuízo de R$ 66 mil ao pagar por moradia e não receber
Duas construtoras investigadas fizeram vítimas em nove cidades gaúchas. Esquema é similar ao descoberto por GaúchaZH, em agosto
Para um comerciante de Gravataí, na Região Metropolitana, o sonho da casa própria durou cerca de um ano, entre a assinatura de contrato e a confirmação de que havia caído em uma fraude. O homem, de 62 anos, que pede para não ter o nome divulgado, perdeu R$ 66 mil no chamado "golpe das Casas de Papel".
A construtora com a qual o comerciante assinou o contrato foi alvo de operação da Polícia Civil nesta quinta-feira (20). Na ofensiva, duas pessoas foram presas. Um dos suspeitos é Denator Ramos da Silva, 50 anos, que, segundo a polícia, já tem 18 antecedentes por estelionato. O outro investigado foi identificado como Airton Gonçalves Coelho, 31 anos. Os dois são suspeitos de abrir e fechar empresas após ações na Justiça.
De acordo com o comerciante, o contrato foi assinado em setembro de 2017. No ato, ele pagou R$ 44 mil, correspondentes a 50% do total cobrado pela casa. A obra, no entanto, não avançava.
— Foram muitos dias de sol em que não aparecia ninguém para trabalhar. Ligava para cobrar e sempre davam uma desculpa. Com o tempo, passaram a trocar de número de telefone — conta a vítima.
Pelo contrato, uma segunda parcela, de R$ 22 mil (25% do total) deveria ser paga 45 dias após a entrada. Mas, passado um mês, alegando que precisava de dinheiro para dar sequência à obra, o homem que lhe vendeu a casa pediu o valor adiantado.
— Fiquei meio desconfiado, mas infelizmente depositei o dinheiro. Minha mulher já tinha desconfiado muito — relata.
O vendedor da casa seria um familiar de Denator Ramos da Silva, que não foi encontrado pela polícia e é considerado foragido.
Da obra, de acordo com o comerciante, foi feito apenas o alicerce. Além disso, algumas madeiras teriam sido deixadas no terreno.
— Tentei construir a casa com meus recursos, mas estava descapitalizando e prejudicando a minha loja. Agora, não sei quando conseguirei — desabafa.
Contrapontos
Questionado pela reportagem, Airton Gonçalves Coelho negou ser sócio das empresas. Ele afirmou ter sido apenas vendedor por três meses, período em que teria comercializado mais de 10 casas. Disse ainda que só entregou uma delas e, quando se deu conta da situação, saiu do negócio.
Já Denator Ramos da Silva declarou trabalhar no ramo há 30 anos e negou que tenha dado golpe nos clientes. Alegou ter tido problemas financeiros e, por isso, deixou de entregar mais de 20 casas.