Polícia



Vale do Paranhana

Eu tinha pedido para ele se aposentar, diz mulher de PM atropelado em Taquara

Sargento daria uma festa de Natal para crianças no dia seguinte ao atropelamento

25/12/2018 - 20h55min

Atualizada em: 25/12/2018 - 20h57min


Marcelo Gonzatto
Marcelo Gonzatto
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Camila Domingues / Agencia RBS
Mulher do PM internado em estado grave, Elisete da Silva (que pediu para não ter o rosto identificado) temia a violência

O sargento da Brigada Militar João Batista dos Santos Rogério, 51, anos, aguardou o ano inteiro por um compromisso marcado para o sábado passado (23). Como faz todos os anos há mais de duas décadas, o PM reuniria dezenas de crianças da periferia de Taquara, no Vale do Paranhana, para oferecer uma festa beneficente de Natal com direito a presentes, lanche e refrigerante.

Os planos de Rogério foram frustrados na véspera da celebração, quando um motorista em fuga o atropelou em uma blitz e fugiu. Até o final da tarde de segunda (24), o militar seguia internado em estado grave no Pronto Socorro de Canoas.

A mulher de Rogério, Elisete Ribeiro da Silva, 48 anos, conta que o marido costuma organizar o festejo para as crianças do bairro Empresa, de Taquara, vendendo rifas para a comunidade. Neste ano, havia conseguido levantar R$ 3,2 mil para comprar brinquedos, comida e contratar serviços como cama-elástica. Mas, pela primeira vez em mais de 20 anos, o PM não pôde participar da festa com as crianças do bairro. O evento acabou adiado.

Na noite de sexta-feira, quando Rogério e o restante da guarnição já desmontavam a blitz organizada na Rua Tristão Monteiro, um Corsa aproximou-se e acelerou. Atropelou o PM, que havia feito sinal para o veículo reduzir a velocidade, e seguiu adiante em alta velocidade.

O crime confirmou os piores pressentimentos da mulher da vítima: Elisete havia implorado para o sargento da BM pedir sua aposentadoria após três décadas de trabalho, mas ele decidiu continuar trabalhando para subir mais alguns postos na hierarquia da corporação e dar uma vida melhor à família — que inclui três filhos.

— Eu disse pra ele "Deus te guardou por mais de 29 anos. Está na hora de parar". Mas ele dizia que eu precisava ter paciência, porque nós ficaríamos velhos e ele queria se aposentar em uma condição melhor — conta Elisete.

Em vez de pendurar a farda, Rogério entrou em um curso de formação e, recentemente, foi promovido de terceiro para segundo sargento. Seu objetivo é subir a primeiro sargento e, com a promoção automática que acompanha a ida para a reserva, um dia se aposentar como tenente.

— Ele ama o trabalho dele, e houve vezes em que foi trabalhar doente só pra não apresentar atestado — diz Elisete.

Em uma dessas oportunidades, segundo a mulher, uma crise de labirintite lhe tirou o equilíbrio e ele acabou sofrendo uma lesão na coluna. Nesta segunda-feira, Rogério seguia internado no hospital de Canoas em coma induzido.

A mulher do policial reza para que ele se recupere. Quando o PM sair do hospital, querem agradecer ao apoio recebido de amigos, familiares e policiais militares e, assim que possível, oferecer a festa com direito a presentes, lanches e brincadeiras para as crianças do bairro Empresa.

Homem e namorada foram presos embaixo de ponte

O comandante do 32º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel João Ailton Iaruchewski, responsável pelo município de Taquara, conta que, logo após o atropelamento do sargento João Batista dos Santos Rogério, teve início a busca pelos responsáveis pelo atropelamento.

Depois de analisar imagens de vídeo que registraram o ataque, localizaram um Corsa que seria de Marlon Schneider, 28 anos, que tem antecedentes por ocorrências de trânsito e posse de entorpecentes. Segundo o tenente-coronel,  o veículo estava na casa de uma vizinha da mãe de Schneider, em Igrejinha. Ao seguir pistas do rapaz e da namorada (que não teve o nome divulgado), que também estaria no veículo, policiais encontraram o casal escondido embaixo de uma ponte na zona rural de Taquara.

— Os dois foram presos, conduzidos à delegacia, onde foi lavrado um flagrante, e depois tiveram prisão preventiva decretada — afirma Iaruchewski.

Um terceiro ocupante do Corsa, que também fugiu, ainda era procurado no final da tarde de segunda-feira. Segundo informações preliminares, o grupo teria avançado sobre o policial porque estava com uma pequena quantidade de maconha no carro.

GaúchaZH não conseguiu contato com o advogado de Schneider. Conforme a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento de Taquara (DPPA), ele teria negado em depoimento estar conduzindo o carro no momento do atropelamento, e dito que o motorista seria o terceiro ocupante do Corsa que seguia desaparecido.


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