Vale do Paranhana
Eu tinha pedido para ele se aposentar, diz mulher de PM atropelado em Taquara
Sargento daria uma festa de Natal para crianças no dia seguinte ao atropelamento
O sargento da Brigada Militar João Batista dos Santos Rogério, 51, anos, aguardou o ano inteiro por um compromisso marcado para o sábado passado (23). Como faz todos os anos há mais de duas décadas, o PM reuniria dezenas de crianças da periferia de Taquara, no Vale do Paranhana, para oferecer uma festa beneficente de Natal com direito a presentes, lanche e refrigerante.
Os planos de Rogério foram frustrados na véspera da celebração, quando um motorista em fuga o atropelou em uma blitz e fugiu. Até o final da tarde de segunda (24), o militar seguia internado em estado grave no Pronto Socorro de Canoas.
A mulher de Rogério, Elisete Ribeiro da Silva, 48 anos, conta que o marido costuma organizar o festejo para as crianças do bairro Empresa, de Taquara, vendendo rifas para a comunidade. Neste ano, havia conseguido levantar R$ 3,2 mil para comprar brinquedos, comida e contratar serviços como cama-elástica. Mas, pela primeira vez em mais de 20 anos, o PM não pôde participar da festa com as crianças do bairro. O evento acabou adiado.
Na noite de sexta-feira, quando Rogério e o restante da guarnição já desmontavam a blitz organizada na Rua Tristão Monteiro, um Corsa aproximou-se e acelerou. Atropelou o PM, que havia feito sinal para o veículo reduzir a velocidade, e seguiu adiante em alta velocidade.
O crime confirmou os piores pressentimentos da mulher da vítima: Elisete havia implorado para o sargento da BM pedir sua aposentadoria após três décadas de trabalho, mas ele decidiu continuar trabalhando para subir mais alguns postos na hierarquia da corporação e dar uma vida melhor à família — que inclui três filhos.
— Eu disse pra ele "Deus te guardou por mais de 29 anos. Está na hora de parar". Mas ele dizia que eu precisava ter paciência, porque nós ficaríamos velhos e ele queria se aposentar em uma condição melhor — conta Elisete.
Em vez de pendurar a farda, Rogério entrou em um curso de formação e, recentemente, foi promovido de terceiro para segundo sargento. Seu objetivo é subir a primeiro sargento e, com a promoção automática que acompanha a ida para a reserva, um dia se aposentar como tenente.
— Ele ama o trabalho dele, e houve vezes em que foi trabalhar doente só pra não apresentar atestado — diz Elisete.
Em uma dessas oportunidades, segundo a mulher, uma crise de labirintite lhe tirou o equilíbrio e ele acabou sofrendo uma lesão na coluna. Nesta segunda-feira, Rogério seguia internado no hospital de Canoas em coma induzido.
A mulher do policial reza para que ele se recupere. Quando o PM sair do hospital, querem agradecer ao apoio recebido de amigos, familiares e policiais militares e, assim que possível, oferecer a festa com direito a presentes, lanches e brincadeiras para as crianças do bairro Empresa.
Homem e namorada foram presos embaixo de ponte
O comandante do 32º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel João Ailton Iaruchewski, responsável pelo município de Taquara, conta que, logo após o atropelamento do sargento João Batista dos Santos Rogério, teve início a busca pelos responsáveis pelo atropelamento.
Depois de analisar imagens de vídeo que registraram o ataque, localizaram um Corsa que seria de Marlon Schneider, 28 anos, que tem antecedentes por ocorrências de trânsito e posse de entorpecentes. Segundo o tenente-coronel, o veículo estava na casa de uma vizinha da mãe de Schneider, em Igrejinha. Ao seguir pistas do rapaz e da namorada (que não teve o nome divulgado), que também estaria no veículo, policiais encontraram o casal escondido embaixo de uma ponte na zona rural de Taquara.
— Os dois foram presos, conduzidos à delegacia, onde foi lavrado um flagrante, e depois tiveram prisão preventiva decretada — afirma Iaruchewski.
Um terceiro ocupante do Corsa, que também fugiu, ainda era procurado no final da tarde de segunda-feira. Segundo informações preliminares, o grupo teria avançado sobre o policial porque estava com uma pequena quantidade de maconha no carro.
GaúchaZH não conseguiu contato com o advogado de Schneider. Conforme a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento de Taquara (DPPA), ele teria negado em depoimento estar conduzindo o carro no momento do atropelamento, e dito que o motorista seria o terceiro ocupante do Corsa que seguia desaparecido.