Novo governo
Nomes do governo Leite para a Segurança são referências em suas áreas, dizem especialistas
Vice-governador Ranolfo Vieira Júnior (PTB) assumirá SSP e terá Nadine Anflor e Mario Ikeda à frente das polícias Civil e Militar
Os três nomes anunciados na tarde desta quinta-feira (20) pelo governador eleito Eduardo Leite (PSDB) para a segurança pública são considerados referências nas suas áreas por especialistas do setor. Ranolfo Vieira Júnior (PTB), além de vice-governador, acumulará o cargo de secretário da Segurança Pública, tendo como seus braços fortes a delegada Nadine Anflor, chefe da Polícia Civil, e Mario Ikeda, comandante-geral da Brigada Militar, função que exerce desde abril.
Analista de programa do escritório das Nações Unidas sobre drogas e crime, Eduardo Pazinato conhece bem o trio. Quando esteve à frente da Secretaria de Segurança de Canoas, entre 2009 e 2012, viu Ranolfo assumir a chefia da Polícia Civil. Ao mesmo tempo, Ikeda comandava a Brigada Militar de Canoas e Nadine coordenava as Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher (Deams).
— Foram escolhas bastante acertadas. Antes de qualquer aspecto, são quadros técnicos, todos referências em suas áreas —avalia.
Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, sociólogo, professor da PUCRS e coordenador do Núcleo de Segurança Cidadã da Faculdade de Direito de Santa Maria (Fadisma), considera o futuro vice-governador e secretário da SSP um hábil articulador político, que preza pelo trabalho integrado. Azevedo, que também é membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, acrescenta que a aposta nele é um indicativo de que a área será vista como prioridade pelo governo tucano:
— Ranolfo conhece bem a segurança do Estado por ter atuado como delegado, chefe de Polícia e secretário municipal.
Nadine é vista por ambos como protagonista na Polícia Civil, sempre ocupando cargos de destaque. Azevedo sublinha sua predileção ao diálogo com a academia e sociedade civil. Pazinato destaca sua experiência.
— São quase 15 anos de carreira. Ela goza de uma relação de prestígio junto à categoria. Vem para reforçar a agenda de enfrentamento da violência contra a mulher — sublinha Pazinato.
A política de integração também é uma característica do coronel Ikeda. Pazinato lembra que, ainda quando secretário de Canoas, foi convidado pelo oficial para visitar um local de crime.
— Fui na viatura da Brigada Militar — resume. —É um policial da elite. Atua de forma discreta e focada, sempre buscando a integração — acrescenta.
Azevedo sublinha seus discursos voltados à valorização da Brigada Militar e o foco em ações preventivas.
O diretor-executivo do Instituto Cidade Segura, Alberto Kopittke, salienta o fato de que foi escolhido um titular da pasta que não é ligado às Forças Armadas, e sim à área de segurança pública. Ele acredita ser um símbolo de empoderamento o anúncio da delegada Nadine Anflor como chefe da Polícia Civil no Estado.
— É muito importante que as polícias tenham cada vez mais a representatividade das mulheres nos espaços de decisão. É um avanço histórico no que diz respeito às relações internas. As nossas pesquisas mostraram números gigantescos de assédio na cidade. A escolha dela é impactante nesse sentido — diz.
A permanência do coronel Mario Ikeda no Comando da Brigada Militar também é vista com bons olhos pelo especialista:
— O fato de ele sair de um governo e entrar em outro mostra um quadro técnico que não tem uma postura ideológica, mas técnica — analisa.
Kopittke destaca ainda a necessidade do desenho de um plano de segurança por parte do Estado, de modo a definir estratégias que possibilitem o engajamento da sociedade. Em sua opinião, a boa atuação da Polícia Civil no combate à lavagem de dinheiro e aos homicídios deve ser mantida, mas há pontos que precisam evoluir.
— A prevenção à violência precisa avançar. Também é de extrema importância a estratégia com os municípios. Pelotas é exemplo disso, e temos expectativa de fortalecimento — afirma o diretor, que atua no programa Pacto Pelotas pela Paz desde 2017, quando Paula Mascarenhas assumiu a prefeitura, até então sob o comando de Eduardo Leite.
Em sua visão, o pagamento em dia dos servidores e a realização de investimentos logo no início do governo também são questões primordiais.
— A falta de pagamento desestimula muito a tropa. Os servidores da segurança expõem a vida e não têm salário em dia, isso não pode acontecer. Conter recursos no início provoca tragédias no Estado, como vimos entre 2016 e 2017. É necessário que haja um bom plano de investimento e concursos planejados — afirmou.