Crime organizado
Refém morto em assalto a banco morava há três meses em Ibiraiaras
Subgerente da agência do Banco do Brasil, Rodrigo Mocelin da Silva foi levado no porta-malas de um dos veículos usados por assaltantes. Ainda não se sabe a autoria do disparo que o atingiu
Morto após o roubo às agências bancárias de Ibiraiaras, Rodrigo Mocelin da Silva, 37 anos, era um novato no município. Há apenas três meses, foi transferido da agência de Marau do Banco do Brasil para a da cidade em que morreu.
Enquanto trabalhava como subgerente da agência em Ibiraiaras, a esposa e as filhas de 10 e seis anos seguiam a vida em Passo Fundo, distante pouco mais de uma hora, para onde viajava mais de uma vez por semana para ficar próximo da família.
Servidor do banco desde 2005, Silva é descrito como um sujeito quieto e simples. Desde 13 de setembro de 2018, hospedava-se durante a semana no Hotel Perinotto, o mais confortável de Ibiraiaras.
— Ele era gremista, costumava chegar à tardinha, ficava bastante no quarto. Quando conversávamos, era principalmente sobre futebol — recorda Arnildo Perinotto, proprietário da hospedaria.
Ao meio-dia, Silva costumava almoçar no hotel. Seu hobby preferido na cidade era jogar bola. Por intermédio de colegas de banco, foi apresentado aos grupos que jogavam mais de uma vez por semana na Associação Ibiraiaras de Futebol (AIF), um clube com ampla estrutura de piscinas, gramados esportivos, bocha e espaços de acampamento. Associou-se à agremiação para ter a possibilidade de frequentá-la.
— Ele jogou pelo menos três ou quatro vezes aqui. A gente soube que, um dia, ele jantou com o pessoal no quiosque depois do jogo. É comum sair churrasco — relata Almir Massotti, zelador da AIF.
Após a morte, a mulher de Almir, Marinês Massotti, recebeu em seu celular uma foto em que Silva, orgulhoso, posava ao lado da Taça Libertadores da América conquistada pelo Grêmio no ano passado.
De pele clara e barba cerrada e farta, é descrito pelos vigilantes do Banco do Brasil como um sujeito "paciente". Apesar de trabalhar na rotina bancária, não costumava ter "estouros" de estresse.
Na segunda-feira do ataque (3), ele havia chegado a Ibiraiaras vindo diretamente de Passo Fundo no seu Fiat Stilo. Ainda não havia passado no hotel e tampouco aparecera para almoçar. Estava trabalhando quando, por volta das 13h50min, os bandidos adentraram a agência. Forçado a se despir parcialmente, deixou a camisa sobre a sua mesa de trabalho, que leva o número 3.
Foi colocado junto de outros dois homens feitos reféns no porta-malas que permaneceu aberto em um dos carros usados na fuga. Há relatos de que ele teria sido atingido — ainda não se sabe por disparo de quem — no primeiro embate entre bandidos e policiais.
Abalados, colegas de trabalho foram acompanhar o velório em Passo Fundo e evitaram comentar o episódio. Segundo relatos, ele sangrou nos braços do gerente do Banco do Brasil após eles terem sido deixados para trás pelos bandidos.