Crime no Vale do Sinos
Casal e filho são indiciados por encomendar morte de açougueiro em São Leopoldo
Família teria pago R$ 2 mil para atirador assassinar ex-funcionário que os processava na Justiça do Trabalho
Proprietário de minimercados em São Leopoldo, no Vale do Sinos, um casal é considerado foragido pela Polícia Civil. Delvio Pinheiro Medeiros, 63 anos, e Dede Noal Medeiros, 55 anos, assim como o filho Cristian Fernando Medeiros, 31 anos, foram indiciados e tiveram prisão preventiva decretada como mandantes da execução do açougueiro Maycon Douglas dos Santos Michel, 27 anos, em 5 de setembro do ano passado. O motivo seria uma ação trabalhista movida pela vítima. O atirador ainda não foi identificado.
Cristian foi detido em 29 de janeiro. Delvio e Dede, possivelmente ao tomarem conhecimento da prisão do filho, saíram da casa onde moravam, fecharam os minimercados e não foram mais encontrados pelos policiais. Cerca de um mês após a captura de Cristian, o delegado Vinicius do Vale, da Delegacia de Homicídios de São Leopoldo, concluiu o inquérito.
Michel foi morto com 12 tiros, em frente ao mercado de sua família, no qual trabalhava. Antes, havia sido empregado em um dos estabelecimentos de Delvio, Dede e Cristian. Os ex-patrões não assinaram sua carteira de trabalho. Por isso, ele ingressou com uma ação na Justiça do Trabalho no dia 21 de agosto do ano passado.
De acordo com o que apurou a Polícia Civil, após ter entrado com a ação trabalhista, Michel passou a sofrer ameaças. Testemunhas afirmaram que Delvio disse ao açougueiro que ele “sabia como a família (Medeiros) era” e, caso seguisse adiante com o processo, “iria ver”. Além disso, em agosto, o comerciante teria feito uma ligação por WhatsApp para o ex-empregado. Neste telefonema, não teria falado nada.
No site do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região ainda aparece o processo movido por Michel. Após a morte dele, houve 23 movimentações. Na última, com data de 15 de fevereiro, consta como “decorrido o prazo de Maycon Douglas dos Santos Michel”. A notificação dos réus havia sido feita em 5 de setembro. Foi Dede quem recebeu a citação do oficial de Justiça. Naquele mesmo dia, Michel seria morto.
Cerca de duas horas antes do crime, o atirador esteve no mercado. Usando boné, entrou no estabelecimento da família do açougueiro, no bairro Campina, comprou um doce, pagou com uma moeda de R$ 1 e não quis o troco. Uma testemunha afirmou ter visto Cristian nas proximidades. Imagens de câmeras de segurança flagraram tanto o momento em que o homem desceu de uma picape Montana, quanto o que entrou no comércio. De acordo com a polícia, era Cristian quem estava ao volante da caminhonete.
Por volta de 20h10min, o açougueiro conversava com familiares na frente do mercadinho, enquanto comiam churrasquinhos. O atirador, usando moletom e capuz, aproximou-se de Michel pelas costas e começou a disparar. Depois de dar 12 tiros, saiu caminhando até um carro, não identificado, que estava em uma esquina próxima. Na fuga, atirou contra a guarita de um condomínio, mas não feriu ninguém. Em frente ao mercado, foram recolhidos oito estojos de munição .40.
— Cristian levou o atirador ao local antes para ele ver quem era o alvo — afirma o chefe de investigações da Delegacia de Homicídios de São Leopoldo, Odilei Betanin.
Suspeitos negam envolvimento na morte
Embora o autor dos disparos não tenha sido identificado, com o depoimento da testemunha e com as imagens de câmeras, a Polícia Civil chegou a Cristian e, depois, ao pai dele como mandante. Dede foi a última a ser identificada como participante.
— Nas investigações, ficou evidenciado que, além de pai e filho, a mãe não só sabia como participou ativamente, pagando R$ 2 mil para o atirador — relata o chefe de investigações.
O delegado Vinicius do Vale indiciou o trio por homicídio duplamente qualificado (mediante pagamento ou promessa de recompensa e à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido) e por crime de associação criminosa.
O casal e o filho haviam sido ouvidos antes da decretação das prisões. Todos negaram os crimes e as ameaças. Seus depoimentos foram semelhantes. Dede e Cristian, no entanto, caíram numa contradição: enquanto a mãe afirmou que no dia do crime o filho trabalhava em um dos mercados da família, ele disse que prestava serviço voluntário em uma entidade beneficente.