Polícia



Justiça

Com condenação dos réus por morte de Bernardo, Três Passos descansa

Logo após o julgamento, moradores seguiram em caminhada até a casa onde o menino morava

15/03/2019 - 22h12min


Adriana Irion
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Eduardo Matos
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Leticia Mendes
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Vitor Rosa
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Isadora Neumann / Agência RBS
Cartazes estampidos nas grades da casa onde o menino morou foram retirados

Três Passos, a cidade que nos últimos cinco anos remoeu dor e revolta pela morte de Bernardo Uglione Boldrini e que esteve adormecida nos cinco dias de julgamento do crime, renasceu no início da noite desta sexta-feira (15). Logo após o anúncio da sentença, que condenou os quatro réus - Leandro Boldrini, Graciele Ugulini, Edelvânia e Evandro Wirganovicz -, houve mobilização para uma caminhada pelo menino. O trajeto começou no Fórum de Três Passos e seguiu até a casa onde ele morava com o pai, a madrasta e a irmã.

A cidade, que fez a repercussão do assassinato de uma criança ultrapassar fronteiras por causa de suas permanentes mobilizações, parecia irreconhecível na semana em que os quatro acusados estavam sentados no banco dos réus.

— Cadê a comoção que tanto falaram? — chegou a questionar Vanderlei Pompeo de Mattos, advogado de Graciele Ugulini, madrasta do menino.

Nos primeiros dias de sessão do júri, o plenário, com vaga para 40 pessoas, sequer ficava lotado. Por trás do silêncio, porém, havia uma estratégia: manter um ambiente tranquilo para que nada desse errado e pudesse atrapalhar o andamento do julgamento. Funcionou quase como um acordo entre comunidade e Ministério Público (MP). 

O promotor Bruno Bonamente teve participação no plano. Além de dedicado a estudar cada detalhe do processo a fim de apresentar uma acusação contundente contra os réus, Bonamente também buscou a parceria da população. Conversou. Explicou. Pediu apoio.

Com as ruas calmas, a tensão ficou apenas no plenário, onde muitas possibilidades poderiam interromper o tão esperado julgamento: a falta de jurados, um réu ficar doente, pedido de cisão. A segunda-feira (11) foi o dia mais difícil. Superada a formação do conselho de sentença, com o sorteio dos jurados, bastava dar andamento ao cronograma do julgamento.

Bares, restaurantes, mercados, comércios em geral e nas residências, a transmissão ininterrupta das sessões tomou conta da semana. Com imagens ou apenas áudio, o assunto estava presente. E as pessoas comentavam, arriscando palpites:

— Esse médico é muito querido aqui, perigam absolver. 

— Essa aí (uma das testemunhas ouvidas) é a única que via o Bernardo bem-vestido. Que vergonha falar isso.

A semana pareceu ter voado. Em plenário, as defesas dos réus adotaram estratégia de não responder a questionamentos dos promotores, que tiveram que direcionar suas questões para as horas de debates. A cada depoimento de réu, frases jurando inocência ecoavam pela transmissão ao vivo e repercutiam nas redes sociais. 

Já o MP levou Bernardo para dentro do plenário. Foi assim que Bonamente fez uma de suas falas, com a foto do menino no telão, disse que "Bê" estava presente e esperava Justiça. Foi na mesma sessão em que o horror do corpo franzino do menino em decomposição desfilou diante do olhar da plateia  e dos jurados. Leandro Boldirni, pai de Bernardo, quis sair da sala.

Nesta sexta-feira, ao fazer a réplica dos debates, o MP repetiu o vídeo em que Bernardo grita: "Socorro, socorro, socorro".

O clamor ainda ecoava na cidade até a nublada tarde desta sexta-feira. Agora, os manifestantes vão concluir o fim da saga de quase cinco anos. Cartazes e homenagens estampidos nas grades da casa serão retirados:

— É hora de ele descansar  — diz Tayná Petry.



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