Norte do RS
"Jamais se espera que aquele que tem o dever de proteger seja o algoz", diz advogado de família do refém morto por PM
Rodrigo Mocelin da Silva, 37 anos, estava no porta-malas do carro dos criminosos quando foi atingido por disparo feito por policial militar em Ibiraiaras
Sentimento de ausência, de perda e de insegurança com a forma como tudo ocorreu. É assim que a família do bancário Rodrigo Mocelin da Silva, feito refém por criminosos depois de assalto a dois bancos em Ibiraiaras, e morto por disparo feito por um policial militar (PM), se manifesta sobre o episódio. A perícia foi concluída e entregue à Polícia Civil, que divulgou o resultado na semana passada.
— Jamais se espera que aquele que tem o dever de proteger seja o algoz — diz Flávio Gonçalves da Silva, advogado da família do bancário, sobre o refém ter sido morto por um policial.
A viúva de Silva, mãe de duas filhas, prefere não falar sobre o caso. As crianças fazem tratamento psicológico desde a morte do pai, na época com 37 anos, ocorrida em 3 de dezembro do ano passado depois de criminosos atacarem duas agências bancárias em Ibiraiaras, no norte do Estado. Silva foi levado como refém no porta-malas do carro dos criminosos.
Para o advogado, a responsabilidade pela morte do subgerente do Banco do Brasil (BB) é de muito atores. Começa pelo Estado, devido à precariedade do policiamento na cidade e a suposta falta de preparo dos policiais militares envolvidos no confronto que resultou na morte do bancário. Depois, do próprio PM, por não ter avaliado o cenário com reféns sem camisa dentro de um porta-malas aberto antes de fazer disparos contra o carro dos ladrões. O Banco do Brasil entra na lista por ter deixado, segundo o advogado, de adotar medidas preventivas para reforçar a segurança, já que meses antes havia sofrido outro assalto. Por fim, aponta a responsabilidade dos criminosos, que expuseram a todos envolvidos ao perigo gerado pela ocorrência.
— Vamos buscar responsabilizar todos que permitiram que esta morte ocorresse. Não queremos que o Rodrigo seja só estatística. Um agente público, quando efetua disparo contra alguém, julga, sentencia e executa. Está sujeito a matar um inocente, pois falta preparo mínimo para interpretar esses confrontos — explica.
Conforme o advogado, a família entrará com ação judicial contra o Estado e contra o Banco do Brasil. Depois que o resultado da perícia foi noticiado, confirmando que o bancário foi morto por um PM, os familiares do subgerente emitiram nota dizendo que acompanham o processo judicial e o inquérito-policial militar que ainda tramitam.
Não queremos que o Rodrigo seja só estatística. Um agente público, quando efetua disparo contra alguém, julga, sentencia e executa.
FLÁVIO GONÇALVES DA SILVA
Advogado
"Quanto a autoria do disparo que vitimou Rodrigo, identificado pelo IGP como sendo da arma do policial militar, relata que, independentemente disso, buscará na esfera competente que a justiça prevaleça na medida em que a lei determina. E que a morte do pai, marido, filho e acima de tudo, do ser humano Rodrigo, não faça parte de mera estatística. Mas que sirva de exemplo para que, futuramente, outra família não venha sofrer dor tão intensa e desmedida", diz trecho da nota.
O coronel Ricardo Fraga Cardoso, comandante regional da Serra, diz que não se trata de falta de treinamento, mas sim, de uma fatalidade.
— Foi lamentável, mas foi uma fatalidade, não foi falta de treinamento. Se fosse falta de treinamento, haveria mais ocorrências assim e não temos. É fato raro. Não foi em perseguição. Eles depararam com os criminosos e tiveram de decidir numa fração de segundos o que fazer. Nós lamentamos. Não tem o que compense a morte de uma pessoa do bem — destacou Cardoso.
O PM que fez o disparo está atuando em funções administrativas e recebe tratamento psicológico, conforme o comandante.
Questionado sobre se havia ou não adotado medidas de segurança, o BB emitiu nota oficial por meio da assessoria de imprensa.
"O Banco do Brasil atende às exigências legais relativas à segurança privada constantes da Lei 7.102/83 e suas regulamentações provenientes do Departamento de Polícia Federal. Conforme as normas vigentes, os estabelecimentos financeiros onde haja guarda e movimentação de numerário, para que possam funcionar regularmente, deverão ter um Plano de Segurança aprovado pelo DPF, onde estarão descritos os elementos de segurança disponíveis em cada dependência. Além do rigoroso cumprimento dessas exigências, o BB implementa gradualmente outras soluções de segurança, que envolvem a adoção de novas tecnologias", afirma o documento.