Polícia



Sob suspeita

Anel de R$ 175 mil, relógio de R$ 250 mil e 36 carros de luxo: o que foi apreendido em empresa investigada pela PF

Empresa prometeria investimentos em criptomoeda, mas não tem autorização do Banco Central para fazer transação

21/05/2019 - 22h04min


GZH

Dezenas de objetos de luxo foram apreendidos nesta terça-feira (21) em operação desencadeada contra a inDeal, com sede em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. A empresa prometeria lucros de 15% aos mês para investimentos em criptomoeda, mas a operação financeira não é autorizada pelo Banco Central. De acordo com a Polícia Federal, parte do dinheiro seria aplicada em investimentos convencionais.

Além dos crimes de operação de instituição financeira sem autorização legal, gestão fraudulenta, apropriação indébita financeira, lavagem de dinheiro e organização criminosa, o inquérito apura o envolvimento de pessoas que teriam tentado obter informações sigilosas da investigação e que foram identificadas.

Dez pessoas foram presas. São cinco sócios, sendo que dois deles são casados. Outras três pessoas presas são esposas de sócios e demais colaboradores, segundo a PF. Em 15 meses, a inDeal teria recebido mais de R$ 1 bilhão em três contas bancárias. Deste valor, estimado pelo auditor fiscal da Receita Federal Heverton Luiz Caberlon, pelo menos R$ 850 milhões foram movimentados entre fevereiro de 2018 e fevereiro de 2019 e estão comprovados pela quebra do sigilo bancário obtida pela PF. Segundo Caberlon, atualmente a empresa — que não teve o nome divulgado, mas GaúchaZH confirmou a identificação —, não tem como devolver o que foi pago aos investidores.

— São R$ 300 milhões somente para que a empresa pudesse saldar os investidores que fizeram o aporte — observa Caberlon.

Segundo o delegado da Receita Federal Eduardo Godoy Correia, só foi identificado investimentos em criptomoedas a partir de fevereiro deste ano, quando o Ministério Público Federal (MPF) anunciou que a inDeal era uma das empresas investigadas em suposto esquema de pirâmide.

— Dos R$ 850 milhões aplicados na empresa, não chegou a 10% o total investido em criptomoedas.

Extratos bancários demonstram compras de alto valor por parte dos investigados. Entre os objetos, está um anel de ouro feminino de R$ 175 mil, um relógio de pulso masculino de R$ 250 mil e mais de R$ 1,1 milhão em esmeraldas — R$ 500 mil para  esposa de um sócio e R$ 600 mil para outro sócio. Ao todo, os investigadores identificaram seis transferências no valor de R$ 849 mil para uma empresa que vende joias.

Um outro participante da empresa desembolsou R$ 960 mil reais em uma loja de grife em São Paulo. Pelo menos 36 carros foram apreendidos durante a ofensiva — 35 no Rio Grande do Sul e um em São Paulo. Entre os automóveis, há modelos de luxo, um deles avaliado em R$ 500 mil.

Cerca de 60 imóveis foram localizados em nomes de sócios ou pessoas diretamente ligadas aos empresários. Entre os imóveis adquiridos está um apartamento de R$ 6,5 milhões em Florianópolis, em Santa Catarina; uma mansão estimada em R$ 3,5 milhões em Novo Hamburgo e outra casa de R$ 1,5 milhão em Estância Velha. Um colaborador teria comprado, segundo a PF, em Porto Alegre, um imóvel de R$ 1,5 milhão. A investigação agora tenta o sequestro desses bens para ressarcir o possível prejuízo dos investidores.

Foram apreendidos R$ 828 mil em dinheiro, 12.310 euros, 31.953 dólares e 5.340 francos suíços.

55 mil investidores

A investigação identificou 55 mil investidores cadastrados no banco de dados da empresa. Foram localizados depósitos dos 26 Estados, exceto Roraima. Os valores foram depositados em 823 cidades do País, em três mil agências bancárias.

Ainda conforme a Polícia Federal, na Região Sul, 477 cidades movimentaram valores para a empresa, sendo 288 no Rio Grande do Sul. Dentre as cidades gaúchas, três lideram a lista em valores investidos: Caxias do Sul, com R$ 128 milhões, Porto Alegre com R$ 77 milhões e Novo Hamburgo, com R$ 61 milhões.

Em relação aos investidores, 80% teriam feito aporte de recursos de até R$ 20 mil.

O nome da empresa não foi divulgado pela PF, mas a reportagem confirmou a identificação ao ir até a sede onde os mandados foram cumpridos. 

O advogado da inDeal, Julião Ludwig, afirmou que ainda não teve acesso ao inquérito e, por isso, não tem detalhes da investigação. Entretanto, o defensor salienta que em outra operação em janeiro já foi comprovado a inexistência de pirâmide, o que, segundo ele, deve ocorrer novamente agora. O nome da empresa não foi divulgado pela PF, mas a reportagem confirmou a identificação ao ir até a sede onde os mandados foram cumpridos.


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