Transporte coletivo
Motoristas, cobradores e passageiros relatam traumas de assaltos em ônibus de Porto Alegre
Número de casos reduziu 81% entre 2016 e 2019
A queda de 81% no número de assaltos em ônibus e lotações de Porto Alegre, entre 2016 e 2019, reflete no movimento nas dependências da Delegacia de Polícia de Repressão a Roubos em Transporte Coletivo (DRTC). A sala de espera e o cartório, onde são formalizados os depoimentos de vítimas, estão sendo bem menos frequentados.
Ainda assim, como os casos não estão zerados, motoristas, cobradores e passageiros se encontram e trocam relatos de suas experiências como vítimas de assaltos em ônibus e lotações.
Um motorista, que atua em coletivos há 14 anos, afirma que até um ano atrás, nunca havia sido vítima de ladrões quando estava em serviço. No entanto, depois disso, a situação mudou.
— Está ocorrendo quase que um assalto por mês. É que tem uma área descampada onde os roubos costumam ser praticados. Teve um dia em que os assaltantes, eram quatro, desceram de um ônibus e tentaram embarcar no meu, no sentido contrário. Por sorte, não parei — contou o profissional, que pediu que seu nome e a linha em que trabalha, na Zona Sul, não fossem divulgados.
Uma cobradora de outra linha, que aguardava atendimento no mesmo momento, falou a respeito de uma inquietação:
— Tem assaltante que se irrita quando a gente diz a eles que o grosso do dinheiro está no cofre.
Um motorista de lotação, assaltado na semana passada na Avenida Wenceslau Escobar, também na Zona Sul, fala de outra preocupação, compartilhada pelo motorista de ônibus e pela cobradora:
— Agora, com a chegada do inverno, eles (assaltantes) costumam usar casacos e moletons e escondem armas com mais facilidade — diz.
Assaltos à luz do dia
Apesar da queda nos números, crimes deste tipo continuam acontecendo em locais e horários em que, teoricamente, as pessoas se sentem mais tranquilas. No dia 30 de maio, uma auxiliar de serviços gerais de 47 anos foi vítima de assalto por volta de 13h30min, antes que o veículo que a transportava deixasse o Centro Histórico de Porto Alegre.
— Eu estava indo de um trabalho para o outro e embarquei na (Avenida) Salgado Filho na linha Cohab (165). Mal o ônibus saiu, um homem chegou perto de mim e me mostrou que tinha uma arma na cintura. Ele disse para eu não falar nada, se não me matava — contou a mulher.
A auxiliar de serviços gerais teve de entregar o celular e o cartão de ônibus para o assaltante. Segundo ela, ele desembarcou no primeiro ponto depois do Viaduto dos Açorianos, aparentemente, sem roubar outros passageiros ou o cobrador e o motorista. A mulher registrou ocorrência na DRTC.
— Menos mal que foi só o celular. O cartão é só bloquear, e o mais importante é a vida — desabafou.