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Zona Sul 

Ataques com ácido em Porto Alegre completam dois meses sem pistas de autor

Entre 19 e 21 de junho, cinco pessoas foram alvo de criminoso que usou substância química para causar ferimentos nas vítimas

20/08/2019 - 07h39min


Leticia Mendes
Leticia Mendes
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Divulgação / Câmera de segurança
Polícia ainda tenta localizar veículo usado em sequência de crimes

Dois meses após o início de uma série de ataques com ácido na zona sul de Porto Alegre, a Polícia Civil ainda tenta desvendar a autoria do crime. Quatro mulheres e um adolescente de 17 anos foram surpreendidos pelo criminoso nos bairros Nonoai e Hípica, entre os dias 19 e 21 de junho. O homem arremessou o líquido na direção das vítimas, que tiveram queimaduras em áreas como rosto e pescoço.

— As investigações não avançaram. Nenhuma informação — afirma o delegado Luciano Coelho, da 13ª Delegacia de Polícia.

As únicas certezas são o veículo usado em quatro dos casos — um HB20, branco, modelo 2019 — e a substância empregada: ácido sulfúrico (identificada pela perícia). Em 21 de junho, quando três mulheres e um adolescente foram atacados, 12 mil veículos circularam na zona sul da Capital na primeira hora da manhã. É desse universo que os investigadores tentam identificar o carro usado nos crimes.

A partir das características do veículo, identificadas por câmeras e depoimentos, a polícia chegou a quatro carros que condiziam com a descrição e circularam pela região em horário aproximado ao dos crimes. Os proprietários foram ouvidos e convenceram os investigadores de que não tinham envolvimento. 

— Chegamos aos quatro e nenhum deles está envolvido nisso. Tinham álibi, como estar trabalhando no horário dos ataques. Isso nos faz pensar que possivelmente tenha sido usada placa fria (clonada) — explica o delegado. 

A forma como o criminoso agiu antes e depois dos ataques, circulando em baixa velocidade, sem pressa para deixar o local, faz a polícia suspeitar de que ele não estava preocupado com a identificação do carro. Mais um indício de que poderia estar dirigindo um veículo roubado ou furtado. 

Acervo Pessol / Leonardo Fassina
Uma das vítimas, atacada na Rua Francisca Bolognesi, exibe roupas danificadas por substância

— Ele ataca a primeira vítima, estaciona e fica uns seis minutos parado. Então ataca a segunda. Depois, por volta das 7h30min, quando o dia já está mais claro, ataca uma senhora na praça e fica circulando por oito ou nove minutos ali. Passa de novo pelo local onde tinha atacado essa mulher duas vezes. Ele não estava muito preocupado em esconder esse carro. É uma dedução — conta o policial, referindo-se aos casos do dia 21 de junho

O delegado acredita que a mesma pessoa tenha sido responsável pelos cinco ataques. Além do modo de agir, no qual gritou "olha a água" e, em seguida, arremessou um líquido ácido, o autor escolheu pessoas que estavam sozinhas caminhando na calçada. 

Pensei que fosse um assalto. Eu dei dois passos, aquilo queimou e eu saí correndo. Não vi para onde ele foi — relatou uma das vítimas à reportagem, ainda em junho. 

Neste caso, o primeiro da série, ocorrido na noite de 19 de junho na Rua Santa Flora, no bairro Nonoai, o autor utilizou uma bicicleta. Nos demais ataques, dois nesta mesma rua e dois na Rua Francisca Prezzi Bolognesi, no Hípica, estava no carro branco. 

— A única coisa que dá para ver, pelas imagens, por meio da janela aberta do carro, é que se trata de um homem de pele branca — diz o delegado Coelho. 

Segundo a polícia, nenhuma das vítimas se conhecia. O policial afirma ainda que não vê relação entre uma carta enrolada em uma pedra arremessada contra uma residência no bairro Cavalhada dias depois e o autor dos ataques. Havia instruções para jogar ácido em pessoas e intimidações caso as ordens não fossem obedecidas. Câmeras registraram um homem atirando a mensagem, mas ele não foi identificado. As ameaças, segundo a polícia, não se confirmaram. 

Caso seja identificado, o criminoso deve responder por lesão corporal. Sobre a hipótese de o inquérito não chegar ao autor, o delegado reconhece que isso pode ocorrer, mas afirma que as investigações continuam:

— Estamos sempre com trabalho de inteligência na rua para tentar levantar alguma informação. A gente nunca desiste.

A investigação

IGP / Divulgação
Análise feita por peritos identificou o ácido sulfúrico como substância usada contra vítimas

Veículo -  Para a polícia, o automóvel usado pelo autor foi um HB20, 1.0, Unique, branco, quatro portas, modelo 2019. A placa não foi identificada. No dia 21 de junho, em horário aproximado ao dos ataques, circularam pelas proximidades quatro veículos com essas características. Os proprietários, segundo a investigação, tinham álibis.  

Perfil do autor - A única certeza que a polícia tem, por meio de câmeras e do depoimento das testemunhas, é que trata-se de um homem branco. A primeira vítima descreveu ainda como sendo um jovem. 

Câmeras - A polícia chegou a traçar parte do trajeto feito pelo criminoso, por meio de imagens de câmeras. No entanto, por conta da qualidade das gravações, não conseguiu identificar a placa do automóvel e nem a fisionomia do autor. 

Substância usada - A análise do Instituto-Geral de Perícias (IGP) nas roupas das vítimas conseguiu confirmar que foi usado ácido sulfúrico. Esse tipo de substância está presente, por exemplo, no fluido de bateria. Segundo a investigação, esse tipo de líquido é adquirido no mercado.

— Se encontra facilmente à venda, isso não nos permite limitar a investigação por meio dos pontos de venda, por exemplo — explica o delegado Luciano Coelho. 

Carta arremessada - Para o delegado Coelho, não há vinculação entre o caso de uma carta contendo ameaças, arremessada contra uma residência no bairro Cavalhada, e os ataques. A única imagem foi registrada à noite e não permitiu identificar o autor. 

— Para nós, não tem relação nenhuma. A vítima nunca mais foi incomodada e as ameaças não se confirmaram — afirma. 

Boatos x informações - No início do caso, a polícia recebeu relatos sobre novos ataques que, conforme o delegado, não se confirmaram. 

— Eram boatos. Não contribuíram com a investigação. E não houve novos casos. 

Informações podem ser repassadas pelos telefones 197 ou (51)3242-1108.



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