Mistério
Motorista de app de Guaíba desaparece ao visitar ex-companheiro em São Paulo
Patrícia Martins da Silva, 34 anos, não é vista desde o dia 10 de novembro
Entenda a reportagem em três pontos
- A motorista de aplicativo Patrícia Martins da Silva, 34 anos, saiu de Guaíba em 8 de novembro para encontrar o ex-companheiro no interior de São Paulo. Dois dias depois, fez o último contato com a família, em Pontal (SP).
- No dia 17, Waltemires Gonçalves Ferreira, 28 anos, companheiro de Patrícia morreu atropelado. Para a polícia, ele cometeu suicídio. No dia 19, o carro de Patrícia, um Ka, foi encontrado em Araporã, interior de Minas Gerais, em um galpão de familiares de Ferreira.
- A Polícia Civil de Guaíba apura o caso como feminicídio seguido de suicídio.
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Mãe de três filhos e moradora de Guaíba, a motorista de aplicativo Patrícia Martins da Silva, 34 anos, desapareceu após viajar para encontrar o ex-companheiro em Pontal, no interior de São Paulo. Ela saiu de Guaíba, na Região Metropolitana, de carro, em uma sexta-feira, 8 de novembro, e fez o último contato com a família no domingo, dia 10, já em São Paulo. O carro da condutora de app foi encontrado no dia 19, em Araporã, em Minas Gerais, em um galpão de familiares do ex-namorado de Patrícia, Waltemires Gonçalves Ferreira, 28 anos.
O sumiço é investigado pela DP de Guaíba. A delegada Karoline Plocharski Calegari trata o caso como feminicídio seguido de suicídio. Ferreira morreu no dia 17 de novembro, data de seu aniversário, uma semana após o último contato de Patrícia. Segundo a delegada, o homem teria saído para colher mangas e foi atropelado. O motorista do veículo não teria parado para prestar socorro.
Pontal é uma cidade com quase 50 mil habitantes, na região de Ribeirão Preto. O local fica a 370 quilômetros de Araporã, onde o carro de Patrícia foi localizado. A delegada aguarda o resultado da perícia do veículo, que não tem sinais de colisão.
Não espero que ela chegue aqui viva, mas quero ter ao menos uma certeza. A morte vai doer sempre, mas precisamos ter certeza da morte. Não dá pra ficar sem nunca mais saber nada.
DEISIMAR MESQUITA
Irmã de Patrícia, que está desaparecida há 18 dias
— Os pais dele dizem que não sabiam nada da vida particular do filho. E também dizem que não sabiam de quem era o veículo — afirma a delegada Karoline.
Segundo familiares da motorista, Patricia e Ferreira chegaram a viver juntos por três anos em Minas Gerais e haviam retornado para Guaíba, onde se conheceram, há 10 meses. Há dois meses, haviam rompido o relacionamento. Ferreira voltou a viver no interior de São Paulo.
— Ninguém mais queria esse relacionamento na família. Foram cinco anos de idas e vindas. Era algo doentio — conta a irmã mais velha de Patrícia, a também motorista de app e segurança Deisimar Martins Mesquita, 38 anos.
Por saber que o relacionamento era desaprovado pela família, Patrícia não contou às irmãs que estava indo para São Paulo encontrar o ex. Aos familiares, disse que naquele final de semana iria trabalhar como motorista de app em Santa Catarina. Apenas uma amiga de Patrícia sabia o real motivo da viagem.
— Um dia antes de ir, ela me disse: 'Eu vou buscar o Walter. E vou comprar briga com todo mundo por isso, mas na volta resolvo' — recorda a empregada doméstica Marilea da Silva, 48 anos, amiga há 15 anos de Patrícia.
Marilea ficou com o filho mais novo de Patrícia, um menino de três anos que também é filho de Walter. Segundo ela, a amiga combinou que retornaria segunda-feira, às 6h, para buscar a criança.
— Na manhã de sábado (dia 9), por volta das 8h30min, fiz uma videochamada e conversei com ela. Ela estava com cara de cansada, tinha dirigido muito. E aí ela virou a câmera e Walter estava ao lado dela. Na hora, pensei: se acertaram, está tudo bem.
É muito improvável que esteja viva. Era uma mulher comunicativa e, se pudesse falar, faria contato com a família.
KAROLINE CALEGARI
Delegada da Polícia Civil em Guaíba, que apura o caso como feminicídio seguido de suicídio
Na noite de sábado, Marilea conta que fez mais uma ligação em vídeo e a amiga confirmou que na segunda-feira (11) estaria de volta e buscaria o filho. No domingo, por volta do meio-dia, em novo contato, Marilea enviou uma foto que a amiga não chegou a receber. O celular estava desligado.
Um dos últimos contatos que Patricia teria feito com a família foi com o filho mais velho, de 15 anos, no domingo, por volta das 9h30min. Duas testemunhas, parentes de Ferreira, disseram à Polícia Civil de Pontal (SP) que Patricia tinha combinado de visitá-los no dia 10:
— Essas testemunhas dizem ter recebido a localização de Patricia pelo celular. E que em algum momento, o ponto de localização da vítima começou a se afastar do endereço delas. A dupla diz que foi até ela e que viu o veículo de Patrícia estacionado em um mato, que fica às margens do Rio Pardo (em Pontal). Eles teriam visto o carro, mas retornaram para casa — conta a delegada Karoline.
Segundo a delegada, horas depois, as mesmas testemunhas teriam retornado ao ponto e visto Ferreira se afastando do rio e mexendo no porta-malas do veículo.
— Elas dizem que viram a cena e retornaram novamente para casa.
Após isso, Ferreira teria voltado para casa destes parentes e dito que Patricia havia retornado para Guaíba.
Karoline afirma que já reiterou ao delegado Bruno Quidini, de Pontal, o pedido de buscas com cães farejadores em matagais próximos ao Rio Pardo. Ainda assim, ela reconhece que o trabalho é difícil devido ao tempo — Patrícia está sumida há 18 dias — e à forte correnteza das águas.
— É muito improvável que esteja viva. Era uma mulher comunicativa e, se pudesse falar, faria contato com a família — acredita a delegada.
Em Araporã, a Polícia Civil está ouvindo familiares de Ferreira e verificando os celulares que foram apreendidos com ele.
— Já verificamos se há sinal de arrastamento de corpo na mata e não achamos nada. Não temos certeza se ela foi jogado no rio. Mas se foi, é algo que dificulta ainda mais, pois é um rio extenso e que deságua em outro, que fica em Minas Gerais — afirma o titular da delegacia seccional de Sertãozinho, que integra a regional de Ribeirão Preto, Plaucio Fernandes.
"Dói no coração"
De personalidade forte, independente e trabalhadora, Patricia criava os três filhos de 15, seis e três anos sozinha. Sonhava em comprar uma casa própria em Guaíba e estava decidida a não mais viver no interior de Minas Gerais. Segundo a família, a irmã era comunicativa e estava sempre com o celular conectado à internet. Em outras viagens que fez sozinha, não deixava de fazer contato.
— Era uma mulher que tomava as decisões, forte, mas era doente de amor pelo Walter — resume a irmã.
Hospedada há 10 dias na casa de Patrícia em Guaíba, Deisimar, que está grávida de cinco meses, tem cuidado dos três filhos da irmã ao mesmo tempo que convive com a angústia da falta de respostas sobre o paradeiro da familiar.
— Eles mais ou menos entendem que está acontecendo algo com ela. Não espero que ela chegue aqui viva, mas quero ter ao menos uma certeza. A morte vai doer sempre, mas precisamos ter certeza da morte. Não dá pra ficar sem nunca mais saber nada. Meu único medo é não achá-la nunca mais e ficar para sempre nessa angústia.
Marilea conta que, ao receber a confidência do verdadeiro motivo da viagem de Patrícia nem desconfiou que algo de ruim poderia acontecer com a amiga:
— Dói no coração da gente. E estamos de mãos amarradas. Nunca imaginei passar por isso.