FAROESTE CABOCLO
PF prende vice-cacique e mais oito caingangues da reserva da Guarita
Entre os presos está um líder indígena que foi candidato a deputado estadual
A operação desencadeada na manhã desta terça-feira (19) pela Polícia Federal na maior reserva indígena do Rio Grande do Sul, a Guarita, resultou na prisão de nove pessoas até as 10h30min. Entre os detidos está o vice-cacique dos caingangues, Vanderlei Ribeiro, o Vandinho. Ele é suspeito de organizar tentativa de homicídio contra o cacique, Carlinhos Alfaiate - cuja casa e veículo foram alvejados com mais de 20 tiros, em 19 de outubro.
Além de Vandinho a PF prendeu outra liderança indígena aliada do vice-cacique. É Zaqueu Claudino, professor e doutorando, que foi candidato a deputado estadual em 2014 pelo PCdoB. Na ocasião, ele obteve 5.066 votos.
Zaqueu vivia na Grande Porto Alegre, mas voltou para a reserva da Guarita (situada próximo à fronteira da Argentina) e se aliou ao vice-cacique Vandinho. Testemunhas ouvidas pela PF apontam os dois como envolvidos na trama para assassinar o cacique. Liderados deles também seriam os responsáveis pela emboscada que matou um caingangue ligado ao cacique e feriu outros três, no dia 7 de novembro.
Os policiais buscam armas que estariam estocadas com o grupo. Um dos nove presos portava uma espingarda calibre 36. Os 14 mandados de prisão e 38 de busca e apreensão foram concedidos pela Justiça Federal a pedido do Ministério Público Federal (MPF).
Todos devem ser enquadrados em formação de milícia, uma novidade do Código Penal, que prevê pena de quatro a nove anos de reclusão. Em alguns casos, serão também enquadrados em homicídio e tentativa de homicídio.
A Guarita fica entre os municípios de Tenente Portela, Miraguaí e Redentora, região noroeste do RS. É uma área com 24 mil hectares, cerca de 800 vezes o tamanho do Parque da Redenção, em Porto Alegre. A disputa pela liderança entre os índios está relacionada a poder e dinheiro. O cacique tem a última palavra sobre cerca de mil vagas de trabalho na reserva: professores, agentes de saúde e trabalhadores em frigoríficos, entre outros serviços. Ele tem poder de veto sobre quem irá trabalhar ali ou não. Além disso, as lideranças indígenas costumam fazer arrendamento ilegal de terra para plantio. Metade da Guarita é destinada a lavouras e a maior parte é alugada para plantadores brancos, que destinam um percentual da renda aos indígenas. Os líderes dos índios ficam com uma parte de cada arrendamento.
A ação da PF nesta terça, com apoio das polícias Civil e Militar, mira envolvidos em homicídio, tentativa de homicídio, incêndio e formação de milícia. Outros inquéritos, que não estão finalizados, investigam arrendamento ilegal de terras e extorsões praticadas pelas lideranças indígenas.
A procuradora da República Camila Bortolotti, uma das que atuou no caso, diz que as investigações agora seguirão o seu curso.
— O importante é garantir a normalização da rotina da população indígena local, sua segurança, e o adequado funcionamento dos serviços públicos disponíveis.