Região Metropolitana
Autor confesso de três assassinatos em Canoas matou mulher por furto de botijão de gás
Um corpo e duas ossadas foram encontrados pela Polícia Civil em terreno na Avenida Guilherme Schell entre os dias 30 de novembro e 4 de dezembro
O homem que não tinha antecedentes criminais e confessou ter matado três pessoas em Canoas tinha, entre suas vítimas, um homem e uma mulher. O caseiro Lacir Lopes, 43 anos, confessou à Polícia Civil autoria dos três assassinatos e está preso preventivamente desde o dia 30. Na manhã desta quinta-feira (18), o titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Canoas, Thiago Carrijo, revelou mais detalhes sobre o caso. Nomes de vítimas não são divulgados porque a investigação aguarda o resultado das perícias para confirmação das identidades.
Entre os dias 30 de novembro e 4 de dezembro, um corpo e duas ossadas foram encontrados em um terreno que abriga uma empresa de gesso desativada, em ampla área entre a Avenida Guilherme Schell e a Rua Cairú, no bairro Fátima. O primeiro é de um jovem de 25 anos, que estava desaparecido desde 23 de novembro, morto com golpes de barra de ferro no rosto no dia 30 do último mês. Ao insistir nas buscas, a polícia encontrou outros dois corpos: o de uma mulher de 34 anos e o de um homem de 27 anos, ambos mortos em março de 2018.
A mulher teria sido assassinada a marteladas por Lopes, com a participação do homem de 27, que dias depois se tornaria vítima do autor confesso. Segundo a polícia, a mulher tinha convivência com Lopes e realizaria pequenos furtos em sua casa. Lopes chegou a registrar uma ocorrência contra ela em 2018, queixando-se que a vítima subtrairia itens como furadeira, esmeril e botijão de gás.
— Muito provavelmente ela foi morta por ter furtado o botijão de gás, porque ele lembra disso até hoje. Isso marcou ele. A vítima era usuária de drogas e por isso cometia os furtos. A família dela tinha registrado o seu desaparecimento em Porto Alegre — afirma o delegado.
Conforme Carrijo, a mulher foi enterrada em uma cova rasa. Para disfarçar o cheiro do corpo, Lopes teria colocado fogo sobre o local.
A investigação aponta que a segunda ossada encontrada pertence a um jovem de 27 anos que teria sido morto dias depois com um pedaço de madeira.
— É o tipo de homicídio da oportunidade. Olha na volta e pega o que está à mão e comete o crime — considera o delegado.
Para a família, o rapaz era considerado desaparecido, embora não houvesse registro de ocorrência. O homem morava com Lopes e seria familiar de sua ex-esposa. A motivação, neste caso, seria uma ameaça.
— Esse rapaz estava ameaçando de morte pessoas da relação do Lacir e, por isso, ele o matou — afirma Carrijo.
Segundo o delegado, tanto a mulher de 34 anos quanto o homem de 27 anos conviviam com Lopes e eram usuários de drogas, assim como o suspeito.
— Um grupo de amigos, amantes e usuários de drogas que começaram a se matar. É complexo porque é um quebra-cabeça: quem viu está morto, quem disse que viu também morreu e as primeiras ossadas têm muito tempo. Temos três corpos, dentro de um terreno com muito espaço. E ainda temos trabalho pela frente — afirma Carrijo.
O caso é investigado em três inquéritos. O que investiga a morte do jovem de 25 anos já foi remetido à Justiça. Nele, Lopes é indiciado por homicídio e ocultação de cadáver. Os demais seguem em andamento na DHPP de Canoas.
Separado há alguns anos e sem relação próxima com familiares, Lopes vivia desde janeiro de 2018 em uma fábrica de gesso desativada e era caseiro da área. Pelos policiais, é descrito como um homem quieto, frio, que não altera o tom de voz ou demonstra violência. Ele morava sozinho:
— Ele não é um cara que sai na rua matando. Todas as pessoas foram mortas na casa dele e conviviam. Ele vivia ali há um ano e meio com pessoas que matou, queimou e enterrou, tudo na volta dele. No intervalo entre os crimes, Lopes comentava com algumas pessoas que havia matado e enterrado gente naquele terreno, mas ninguém levava sério. Não acreditavam que ele seria capaz — diz o delegado.
Primeiros passos
O gatilho para a investigação da DHPP de Canoas foi o sumiço do jovem de 25 anos, em 23 de novembro. A polícia chegou ao terreno da Avenida Guilherme Schell quando uma testemunha contou ter visto esse homem caído com o rosto desfigurado. No primeiro dia de buscas, em 30 de novembro, os policiais localizaram o corpo do jovem desaparecido e a ossada da mulher de 34 anos.
— Esse jovem foi levado aos fundos do terreno com um carrinho de mão. Conseguimos descobrir o trilho de cinzas desde o local onde ele queimou o corpo, em um sofá, nos fundos da casa, até onde o cadáver estava enterrado — explica o delegado.
Ao receber informações de que mais corpos estavam escondidos no terreno, a polícia seguiu as buscas e, no dia 4, encontrou mais uma ossada, do homem de 27 anos.