Violência contra mulher
"Meu sentimento é de terror", diz outra vítima de homem foragido após espancar a ex
Há 15 anos, Luciana Hoffmann registrou ocorrência contra Thiago Guedes Pacheco, que atualmente é procurado pela polícia
Quinze anos após passar momentos de terror, Luciana Hoffmann ficou estarrecida ao saber que Thiago Guedes Pacheco, 39 anos, contra quem já teve medida protetiva, estava foragido por espancar outra ex-namorada. A fotógrafa, de 37 anos, descobriu também que mais mulheres afirmam ter sido vítimas dele nos últimos anos. Morando fora do Brasil, ela soube dos casos pela imprensa. O músico é procurado desde dezembro por tentativa de feminicídio contra uma psicóloga de Porto Alegre. Desde que o episódio foi divulgado, outras vítimas relataram ter sido agredidas e ameaçadas. Seis delas — todas com ocorrência registrada — foram ouvidas por ZH.
Por cerca de três anos, Luciana manteve relacionamento com Pacheco. Os dois se conheceram na escola durante o Ensino Médio e se reencontraram algum tempo depois, quando ela estava na faculdade. A fotógrafa, que hoje vive em Barcelona, na Espanha, diz que o então companheiro não dava sinais de agressividade, embora fosse persuasivo. Convivia com a família dela e mantinha boa relação com todos. Chegou, inclusive, a morar algum tempo com ela e a mãe. Em 2005, no entanto, a jovem decidiu romper a relação. Após Pacheco aparecer na festa de um familiar dela, teria ocorrido a primeira agressão:
— Cheguei em casa, estacionei o carro na garagem e subimos para o apartamento. Ali, o horror começou. Ele me xingou muito, me agrediu com palavras e fisicamente. Depois de um golpe forte que me deu no rosto, fingi desmaio, caí deitada no chão da sala para ele se assustar e parar de me bater. Não consigo esquecer disso. Ele me pegou no colo, me levou até a minha cama e me cobriu. Pegou as chaves do meu carro e saiu. Essa foi a primeira vez —recorda.
Luciana diz que, depois de Pacheco deixar o apartamento, ela saiu para pedir socorro. Sem saber a quem recorrer, voltou para casa e encontrou o ex. O músico teria pedido perdão e chorado, prometendo que aquilo não se repetiria.
A jovem acabou aceitando retomar a relação. Cerca de três meses depois, decidiu outra vez romper o namoro. A fotógrafa conta que o homem pareceu aceitar o fim, mas algum tempo depois surgiu novamente e pediu para conversar.
— No que entrei no carro, ele trancou as portas, me puxou pelo cabelo e me deitou no colo dele. Lembro de detalhes. Ele tirou o relógio e começou a me dar golpes com a pulseira de metal no rosto e na cabeça. Fazia cortes no meu rosto. Quase quebrou meu nariz. Ele dizia: "Vou te matar. A gente vai sair daqui e vou te matar. Mas antes disso vou te deixar horrível. Para ninguém te reconhecer e ninguém te achar mais bonita" — recorda.
Dentro do carro, Luciana conseguiu chutar a porta, alcançar a chave que estava na ignição e arremessar para fora. Isso obrigou o homem a sair de dentro do veículo para poder recuperá-la. No momento em que o homem voltava para o carro, a fotógrafa conseguiu escapar pela porta e começou a gritar. Um policial ouviu os pedidos de socorro e saiu correndo na direção da mulher. Aquela foi a primeira vez em que a jovem procurou a polícia e registrou ocorrência contra o ex.
— A partir daí, começou a me perseguir. De carro, a pé, de ônibus. Uma vez eu estava dirigindo e ele me perseguindo. Quase bati o carro. Só parou quando estacionei na frente do Palácio da Polícia. Ele ia me atacar. Não podia ir na padaria, não podia fazer nada. Era uma pessoa presa — descreve.
Fórum
Para tentar acalmar a situação, a fotógrafa Luciana Hoffmann decidiu ficar longe de Porto Alegre. Viajou para a Bahia, onde permaneceu por mais de um mês na casa de familiares. Luciana diz que nunca mais foi agredida pelo ex, mas arrastou o trauma psicológico por anos. Sempre que começava um relacionamento, seguia até o Fórum com o nome do namorado e verificava o histórico dele. Foi assim, inclusive, com o homem com quem é casada e tem uma filha. Ela queria ter certeza de que não estava conhecendo um novo agressor.
— Não consigo lembrar do momento exato em que isso terminou. Mas lembro que durante anos andava na rua e tinha impressão de que estava sendo seguida. Sair na rua era um tormento — relata.
"Terror"
A fotógrafa diz que ficou indignada ao saber que, anos depois do que havia acontecido com ela, outras mulheres seguiam sendo vítimas do ex. Ela soube dos episódios após Nadia Krubskaya Bisch, 36 anos, relatar que havia sido agredida por Pacheco, contra quem tinha medida protetiva. O caso aconteceu em 8 de dezembro, 10 dias depois de ele permanecer uma noite detido e ser solto por decisão judicial. Depois disso, teve novamente a prisão preventiva decretada e continua sendo procurado.
— Não sabia que havia outras. Há 15 anos, essa história já estava num limite, mas ele continuou fazendo isso. Foi se empoderando. Se tornou profissional em aterrorizar mulheres. É um terror essa capacidade de manipulação. Nós somos vítimas. A culpa não é da vítima nunca. Ah, "porque a gente é mulher que gosta de apanhar, porque apanhou e ficou com o cara de novo". A vítima é sempre vítima. Meu sentimento é de terror absoluto. Eu, graças a Deus, consegui sair disso — conclui.