Marau
Após dois meses, família cobra resultado de investigação sobre morte de engenheiro em abordagem da BM
Polícia Civil e Corregedoria-Geral da BM prometem novidades para a próxima semana sobre apurações
A família de Gustavo dos Santos Amaral, engenheiro morto aos 28 anos em uma barreira da Brigada Militar em Marau, no norte gaúcho, ainda cobra das autoridades um esclarecimento sobre a morte do rapaz. Após quase dois meses do fato, ocorrido em 19 de abril de 2020, ainda estão abertas as duas investigações.
Irmão gêmeo de Gustavo, o também engenheiro Guilherme dos Santos Amaral diz que não houve um dia ou hora, desde a morte, em que não pensasse em Gustavo. Junto com seus pais, eles chegaram a contratar um advogado para acompanhar as investigações, mas, até agora, possuem poucas informações.
Para a família, o rapaz negro foi confundido com um bandido durante a abordagem.
— Em dois meses, aconteceram dois casos iguais. O caso do Gilberto (Andrade de Casta Almeida, atingido por policiais militares em Gravataí), angolano, e o do meu irmão. Não são fatos isolados — critica o irmão gêmeo de Gustavo.
Guilherme e os parentes não entendem a demora dos prazos das corporações. Para eles, o prazo da investigação é longo:
— Cinquenta e nove dias e tanto o inquérito da Polícia Civil e tanto o inquérito da Brigada Militar não foram finalizados. Através disso, começamos a entender como as coisas funcionam no Brasil e porque acontece esse tipo de violência por parte da polícia.
Nesses 59 dias, família, amigos e outras pessoas incomodadas com o fato fizeram protestos em Marau, Santa Maria, onde a família mora, e também em Porto Alegre. A morte de Gustavo também foi usado como exemplo no protesto do movimento Vidas Negras Importam, em Porto Alegre.
Uma página no Facebook, Justiça para Gustavo, reúne depoimentos de amigos e pessoas que conheciam o engenheiro morto. Até esta quinta-feira (18), a página tinha 6 mil curtidas.
O pai do engenheiro, Gilmar Ferreira do Amaral, chegou a ir com pessoas que apoiam a família ao Palácio Piratini pedir uma audiência com o governador Eduardo Leite. Ele foi recebido por um assessor que prometeu encaminhar um documento levado pelos familiares.
O que dizem as autoridades
A Polícia Civil afirmou que está finalizando o relatório da investigação, que deve ser remetido ao Judiciário no máximo na segunda-feira (22). Onze pessoas foram ouvidas. Três delas são os policiais que participaram da ocorrência.
O delegado Norberto Rodrigues disse que o prazo de dois meses para a investigação é necessário para que tudo se esclareça:
_ O prazo é de fazer o trabalho mais minucioso e melhor possível. É um caso grave e que temos de enfrentar todos os ângulos. Eu acho que pela complexidade do caso, está dentro do prazo.
Ainda segundo o delegado, a polícia desistiu de fazer a reconstituição do fato em função de não identificar "divergências nos relatos".
A Brigada Militar informou que o inquérito policial militar foi finalizado pelo encarregado e está sendo analisado pela Corregedoria-Geral, em Porto Alegre. A corporação detalhou que a conclusão deve ser encaminhada ao Tribunal de Justiça Militar na próxima semana.