Vale do Sinos
Vídeo mostra comerciante reagindo e atirando em assaltante dentro de mercado em São Leopoldo
Dono de estabelecimento entregou à polícia na segunda-feira a arma usada e as imagens do fato
Quando atendia em seu mercado em São Leopoldo, no Vale do Sinos, um homem de 54 anos se viu mais uma vez na mira de uma arma. Segundo a polícia, pouco mais de um mês antes, o mesmo proprietário já havia sido vítima de assalto.
Desta vez, enquanto o ladrão retirava o dinheiro do caixa, na quinta-feira (18), o dono sacou um revólver e disparou contra ele. Atingido no pescoço, o assaltante fugiu e, conforme a investigação, acidentou-se logo depois e morreu. O caso só foi desvendado no início desta semana, quando o próprio comerciante se apresentou à Polícia Civil e entregou as imagens do caso.
No vídeo é possível ver o momento em que o assaltante aguardava junto ao balcão – ele usava boné e máscara de proteção contra o coronavírus. Quando o proprietário fez a volta para atendê-lo, o ladrão sacou uma pistola e anunciou o assalto. A arma era de brinquedo, tecnicamente chamada de simulacro – mas naquele momento o comerciante não sabia disso. Cerca de um mês antes, o mesmo local havia sido assaltado. O comerciante relatou à polícia que o autor seria o mesmo homem.
— Esse rapaz, que cometeu o roubo e depois morreu, seria o mesmo do assalto anterior. Na hora que chegou, anunciou “dessa vez, quero mais dinheiro” — descreve o delegado Ivair Matos Santos, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que apura o caso.
Enquanto o criminoso se debruçou sobre o balcão, olhos fixos no caixa, de onde retirava o dinheiro, o dono do mercado se aproximou de uma caixa de papelão. De dentro dela, retirou um revólver calibre 38 — segundo o relato dele à polícia, a arma havia sido adquirida por medo da violência.
O comerciante lutou com o assaltante, que acabou sendo baleado com um tiro no pescoço e caiu no chão — deixando o dinheiro e a arma falsa. O proprietário manteve a arma apontada e ele fugiu na sequência, sem levar nada. Segundo o delegado, embora se tratasse de uma arma falsa, era bastante parecida com uma pistola verdadeira.
— O comerciante correu o risco, pois não percebeu. Parecia de verdade — explica.
O caso chegou à polícia, no entanto, depois que o suspeito de ser esse assaltante — um homem de 39 anos — foi encontrado baleado dentro de um Peugeot, no bairro Duque de Caxias. Ele havia batido o carro contra o muro de uma residência, nas proximidades do mercado. Segundo o delegado, ao tentar fugir, o criminoso acabou perdendo o controle da direção e colidiu o veículo. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu — a perícia irá apontar se a causa da morte realmente foi o tiro, hipótese que a polícia acredita ser a mais provável.
A equipe da DHPP foi ao local, acreditando que se tratava de um homicídio. Por meio de testemunhas, os policiais apuraram ainda na noite de quinta-feira que o motorista envolvido no acidente teria sido baleado ao tentar cometer um assalto no mercado. No entanto, depararam com o comércio de portas fechadas. Depois disso, o advogado do proprietário fez contato com a polícia e informou que ele iria se apresentar — o que aconteceu na tarde desta segunda-feira (22).
À polícia, o comerciante entregou, além do vídeo que registrou o roubo e o disparo, o revólver dele e a arma de brinquedo usada pelo ladrão. Para o delegado, as imagens do crime e o que foi apurado até o momento levam ao entendimento por legítima defesa. No entanto, o comerciante não tinha registro da arma e deverá responder pela posse ilegal de arma de fogo de uso permitido.
— Se não tiver nenhum novo elemento, este deve ser nosso posicionamento. Ele agiu em legítima defesa, mas tinha uma arma em situação ilegal. Acreditamos que o assaltante tenha agido sozinho — diz o delegado.
Dono pretende fechar comércio
Responsável pela defesa do comerciante, o advogado Lindomar de Oliveira afirmou que o comerciante está decidido a fechar o mercado, por medo da violência. Ele reafirma que o cliente agiu em legítima defesa.
— Ele está abalado, pelo acontecimento, pelo assalto, que não foi o primeiro. Decidiu que vai vender o local e fechar o comércio. Pela constância de assaltos. Ele e a esposa estão com medo de trabalhar sob essa tensão, por isso estão fechando o estabelecimento. Ele tentou tirar a arma dele, e nesse momento houve o disparo — disse.
O morto, que não teve o nome divulgado, tinha antecedentes por ameaça e injúria, descumprimento de medida protetiva e falsidade ideológica.