Caso Rafael
"Mesmo com remédio, ele não dormiu. Aí, acabei fazendo o que fiz", disse mãe que confessou ter matado o filho em depoimento à polícia
GaúchaZH teve acesso a última versão dada por Alexandra Dougokenski aos investigadores, quando mãe admite matar Rafael com uma corda de varal
O fato de Rafael Mateus Winques, 11 anos, não obedecer às ordens da mãe Alexandra Dougokenski, 33 anos, é apontado pela Polícia Civil como a principal motivação da morte do garoto. Indiciada nesta quinta-feira (2) por homicídio triplamente qualificado, falsidade ideológica e ocultação de cadáver, a mãe detalhou no sábado (27) porque perdeu o controle e tirou a vida do filho caçula na madrugada de 15 de maio, em Planalto, no norte do RS, mudando a versão que vinha sustentando até então. GaúchaZH teve acesso ao último depoimento dado por Alexandra aos investigadores em Porto Alegre.
"Naquela noite, meu filho estava muito agitado, estava assim já há alguns dias, acabei dando remédio para ele. Mesmo com o remédio, ele não dormiu. Ele ficou acordado até tarde. Aí, acabei fazendo o que fiz", disse Alexandra.
Nesta versão, que se conecta aos indícios já levantados no inquérito, Alexandra afirma que, por volta da meia-noite do dia 15 de maio, após tê-lo repreendido por passar diversas noites em claro mexendo no celular, deu dois comprimidos de Diazepam ao filho. O objetivo era que o menino dormisse. Alexandra foi para cama e dormiu. Porém, por volta das 2h, ela acordou, retornou ao quarto e Rafael ainda estava acordado, mexendo no celular.
Alexandra diz que pegou a corda na lavanderia e que já tinha o objeto desde a época em que morava em Bento Gonçalves, na Serra – há três anos, após se separar do pai de Rafael, a mãe e os dois filhos foram viver em Planalto. Na sequência, relata que foi ao quarto do menino, não disse nada e o amarrou.
"Peguei a corda e fui até o quarto dele e o amarrei. Eu amarrei ele e quando puxei, ele caiu da cama. Saí do quarto dele puxando a corda, mas não vi se ele se debatia ou não. Quando vi que ele não se mexia mais, eu cobri a cabeça dele. Em seguida, comecei a tirar ele do quarto. Tentei tirá-lo carregando pelo tronco e depois pelos braços".
A mãe disse que depois foi buscar um saco no seu quarto e o colocou na cabeça de Rafael antes de tirá-lo do quarto dele.
"Depois de colocar o saco na cabeça de Rafael, tirei ele do quarto carregando em meus braços. Levei os óculos e o chinelo junto."
Alexandra relata como fez o transporte do garoto até a garagem da casa do vizinho, que fica ao lado da sua, no mesmo terreno. Também explica porque decidiu colocar o corpo do filho naquele local:
"Tirei ele do quarto e pelos braços levei para casa do vizinho, pois eu sabia que lá não tinha ninguém. Já tinha visto a caixa no local uns dias antes mas não sabia se ainda estava naquele local. Aí lembrei da caixa, mas minha intenção era colocar Rafael atrás do tapume, mas como a caixa ainda estava lá, resolvi retirar as coisas da caixa e colocar Rafael dentro."
Durante o depoimento, a mãe fala que não viu se o filho mais velho, de 17 anos, estava acordado no momento do crime. Também disse não saber se o adolescente ouviu algum barulho na casa naquela noite pois ele não saiu do quarto em momento algum. Naquela noite, segundo a polícia, o adolescente estava acordado. Também mexia no celular e usava fone de ouvido, porém, estava debaixo da coberta e passou despercebido por Alexandra. O irmão não ouviu ruídos da cena do crime, de acordo com a investigação, porque Rafael, ao se debater enquanto era asfixiado, caiu no chão e, ao ser estrangulado, perdeu a voz.
"Rafael estava agitado e dormia por volta das 3h. Não parei para pensar na razão de ter feito isso. Achei que os dois compridos fariam efeito", disse a mãe no depoimento.
Na conversa com os delegados, Alexandra nega a participação de outras pessoas e garante que agiu sozinha, sem ajuda de ninguém. Ela disse ainda que nenhuma pessoa sabia do crime antes confessar, parcialmente, em 25 de maio na delegacia de Planalto.
A mãe diz acreditar que a lesão no lado esquerdo tórax de Rafael, apontado no laudo da necropsia, ocorreu durante queda do corpo do garoto da cama para o chão, enquanto era asfixiado.
"Logo após amarrar a corda, ele caiu da cama. Saí do quarto, mas não fechei a porta."
O diretor de investigação do Departamento de Homicídio, delegado Eibert Moreira Neto, em coletiva de imprensa na manhã de quinta-feira, reforçou que Alexandra tinha um comportamento perfeccionista e metódico e que isso, associado ao fato de Rafael ser uma criança ingressando na fase da pré-adolescência, levou a mãe a perder o controle:
— Para ela, isso tinha se tornado algo inconveniente. Por isso, ela resolveu matá-lo.
Ainda nesta quinta-feira, o inquérito policial será remetido ao Judiciário. Caberá a promotora de Planalto Michele Kufner oferecer denúncia ou não. Como Alexandra esta presa, o Ministério Público tem cinco dias para se manifestar.
Contraponto
Em nota, a Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul, responsável pela defesa de Alexandra, informou que ainda não foi possível conversar com a investigada sobre detalhes do caso penal, já que ela encontra-se, desde a última segunda-feira (29), internada em um hospital da Grande Porto Alegre para tratamento de saúde. A Defensoria teve acesso parcial aos autos do inquérito e aguarda laudos pericias para ter mais informações.