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São Leopoldo

Polícia Civil abre investigação sobre suásticas e ofensa racista e homofóbica escritas em sede de associação de bairro

Apuração iniciará pelo tomada de depoimento da presidente interina da entidade assistencial, que é transexual  

07/07/2020 - 09h21min


Carlos Rollsing
Carlos Rollsing
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A Polícia Civil iniciará a tomada de depoimentos em inquérito que apura a vandalização da sede da Associação de Moradores do Bairro Antônio Leite, em São Leopoldo. As paredes externas do imóvel receberam as inscrições de cinco suásticas e da frase “odeio viados (sic) e preto” na madrugada da última sexta-feira (3).

A polícia verificou as redondezas do local atacado na busca de câmeras de vigilância que ajudassem na identificação do autor, mas não foram encontrados pontos de monitoramento por imagens até o momento.  

O delegado Rodrigo Zucco, da 2ª Delegacia de Polícia de São Leopoldo, informa que a primeira ouvida será Sara Gonçalves, 51 anos, presidente interina da associação de moradores. 

Na condição de vítima, ela registrou ocorrência online no sábado (4) para relatar os fatos. Sara, conhecida no movimento LGBT+ como Sarita, acredita que as mensagens nazistas e de ódio tiveram ela como um dos alvos, já que é transexual. O vice-presidente da entidade, ressalta ela, é negro. 

A legislação define como crime a fabricação, distribuição e veiculação de emblemas, símbolos ou propagandas que “utilizem a cruz suástica ou gamada para fins de divulgação do nazismo”. As discriminações racial e sexual também são enquadradas como condutas delituosas no Brasil.

— Vi isso quando acordei no sábado. Nunca tinha acontecido algo parecido na comunidade, resido aqui há 50 anos. Me assustou bastante, é uma agressão direta à minha pessoa. Desejo que seja identificado o responsável — afirmou Sara.

O caso ganhou repercussão em redes sociais e artistas urbanos ofereceram ajuda ao tomarem conhecimento dos fatos. Grafiteiros iniciaram ainda no sábado (4) pinturas coloridas para cobrir as mensagens ofensivas. O trabalho segue em andamento e deverá ser finalizado na quinta-feira (9), com obras que representem a “diversidade a partir do desenho de rostos anônimos de diferentes etnias”.

— Quando vi a situação, logo pensei em cobrir. Não é justo o morador do bairro acordar e dar de cara com isso. Alguns se sentiram ameaçados. É difícil trabalhar com arte em uma cidade em que as paredes gritam ódio, mas vamos defender. Se surgir novamente, vamos responder com arte — diz Mateus da Silva Greff, grafiteiro e educador social que iniciou a revitalização das paredes da associação. 

O delegado Zucco lamentou o fato de as coberturas terem “destruído provas”. 

— Algumas coisas poderiam ter sido identificadas com uma perícia sobre os grafismos, como ver se a pessoa é destra ou canhota. Desfizeram as provas materiais — disse. 

Mateus da Silva Greff / Arquivo Pessoal
Grafiteiros cobriram as ofensas, mas delegado disse que isso pode ter apagado provas

A Associação de Moradores do Bairro Antônio Leite estava praticamente desativada, conta Sara, que há três meses decidiu liderar a retomada das atividades para auxiliar vulneráveis durante a pandemia de coronavírus.

— Fazemos trabalho social com a doação de alimentos não perecíveis, agasalhos e cobertores — descreve a presidente interina da entidade.

A Secretaria Municipal de Direitos Humanos de São Leopoldo emitiu nota de repúdio diante do episódio.


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