Polícia



Parceira inusitada

Vira-lata ajuda policiais a evitar que drogas e celulares entrem em prisão de Caxias do Sul

Acolhida pelos PMs há cerca de três anos, a cachorrinha Mel já recolheu um pacote de maconha jogado por cima dos muros da penitenciária

08/07/2020 - 09h28min


Leonardo Lopes
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Antonio Valiente / Agencia RBS
Um dos PMs até tentou levar Mel para sua casa, mas ela não se adaptou e precisou voltar à cadeia

Com a suspensão das visitas para conter o avanço do coronavírus nas cadeias, as apreensões de drogas nas prisões, muito em função de como elas entram agora, cresceram no Rio Grande do Sul. De março a maio, foram encontrados 64,6 quilos de drogas nos presídios do Estado — o aumento é de 41% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados da Secretaria da Administração Penitenciária (Seapen). E a estratégia mais utilizada pelos criminosos ultimamente é o arremesso dos ilícitos por cima dos muros. 

Só que, em Caxias do Sul, na Serra, a segurança ganhou uma aliada na Penitenciária Estadual, no distrito do Apanhador. É a cachorrinha Mel, que vem ajudando a evitar que drogas entrem na cadeia. A última ação da vira-lata foi na quinta-feira (2), quando ela recolheu um pacote com 1,2 quilos de maconha.

O policial militar Fabiano Oliveira, 43 anos, lembra que era aquela era uma noite de neblina e pouca visibilidade a partir dos muros da casa prisional que fica na RS-453, na divisa com São Francisco de Paula.

— O clima estava bem fechado, era difícil enxergar. Ela percebeu alguma coisa e ouvimos os latidos. Na sequência, ela voltou com o pacote na boca. Ela já tinha feito alarde em outras ocasiões, o que nos ajuda a identificar algo suspeito. Mas, dessa forma, de trazer o pacote, nunca tinha acontecido. Acho que aprendeu nas brincadeiras que fazemos — diz.

Mel é uma cadela de pequena porte e que vive no presídio do Apanhador há três anos, quando o seu dono, um policial militar que também atuava na guarda externa da cadeia, foi transferido para outra cidade. O soldado Jeverton Jardim, 36, tentou levar a cachorrinha para sua casa, mas não teve êxito.

— Ela ficou muito quietinha, não comia direito. Ficou uns 30 dias lá, mas não se acostumou. Só ficou faceira quando trouxe ela de volta. (Sobre o pacote de drogas), acho que foi o instinto dela ao ver algo de fora. A Mel nos acompanha o dia inteiro, sabe como funciona. É a casa dela, então defende, né? — conta Jardim.

Além da maconha, o pacote recolhido pela Mel ainda continha 146 gramas de cocaína, 10 chips de celulares, um cabo e quatro fones de ouvido. E a cachorra mostrou ter tomado gosto pela função. Por volta do meio-dia desta segunda-feira (6), os policiais militares viram quando dois homens em uma motocicleta se aproximaram dos muros e arremessaram três sacolas. Quando desceram da guarita, os PMs encontraram a Mel já com um pacote na boca. Três celulares e três carregadores foram apreendidos.

Antonio Valiente / Agencia RBS
Mel recolheu pacote com maconha

A penitenciária conta com seis cães de porte grande que ficam entre as duas cercas que separam o prédio das muralhas. Além da Mel, outros cinco vira-latas receberam abrigo na casa prisional. O grupo vive solto próximo da cadeia e recebem cuidados, alimento e medicamentos dos brigadianos que fazem a guarda externa.

— Acho que as pessoas abandonam os cachorros por ali porque sabem que damos comida. Já encontramos um atropelado, um outro cachorro de caça que não tinha um olho. Compramos ração e medicamentos com nosso dinheiro  quando precisa. Gostamos dos cachorrinhos, são nossos companheiros. Nos dias frios, colocamos para dentro da guarita com a gente, com tapete e cobertas — conta o soldado Oliveira.

Arremessos de drogas viram rotina na pandemia

O arremesso de drogas por cima dos muros não era um problema na penitenciária antes do início da pandemia do coronavírus. Após a suspensão das visitas, virou um combate diário. O diretor Jeferson Rossini estima que a maioria não tem êxito, principalmente pela altura do muro e a distância para área dos apenados. A maioria dos pacotes de drogas e celulares param na cerca interna, onde ficam os cães de guarda — o que não impede os criminosos de continuarem tentando.

— Antes não era comum. Quando acontecia, era uma exceção. Logo depois da suspensão das visitas, começaram as tentativas e aumentou bastante os índices de apreensão. Tanto por arremesso, quanto nas sacolas que são entregues pelas familiares. Encontramos maconha camuflada em pacotes de fumo ou erva mate e até cocaína dentro de comprimidos (remédios). Tudo vem lacrado, como se fosse um pacote novo, mas quando abrimos o produto está modificado — relata o diretor.

Antonio Valiente / Agencia RBS
Criminosos fazem arremessos por cima dos muros

Na soma de março, abril e maio, foram encontrados 64,6 quilos de drogas nos presídios do RS — o período é o mais recente compilado pelo governo do Estado. A maconha está no topo dos narcóticos mais localizados nas cadeias gaúchas: 83% do total, com 53,8 quilos apreendidos. Na sequência vem a cocaína, com 7,3 quilos, e crack, com 3,5 quilos.


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