Mapeamento
Pesquisa aponta que 3,3% dos policiais militares gaúchos já se contaminaram com o coronavírus
Levantamento foi realizado em dez cidades gaúchas e prevalência é maior do que na população em geral
Na linha de frente, trabalhando nas ruas e em contato direto com a população, a taxa de exposição e contaminação dos policiais militares do Rio Grande do Sul chega a pelo menos 3,3% da corporação. O dado foi revelado por uma pesquisa realizada em dez cidades gaúchas pela Santa Casa de Porto Alegre, em parceria com o Instituto Cultural Floresta (ICF) e a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). O objetivo foi avaliar qual a prevalência da produção de anticorpos em profissionais da Brigada Militar (BM) que estão atuando na pandemia.
— Os estudos que tínhamos, até então, não refletiam muito bem as populações mais expostas. Além disso, a maior parte utiliza os chamados testes rápidos, menos sensíveis do que o Elisa, utilizado nessa pesquisa — explica o infectologista Alessandro Pasqualotto, chefe do Laboratório de Biologia Molecular da Santa Casa e um dos coordenadores do estudo.
Participaram da pesquisa 1.592 brigadianos das cidades de Porto Alegre, Canoas, Santa Cruz do Sul, Santa Maria, Lajeado, Caxias do Sul, Pelotas, Passo Fundo, Ijuí e Uruguaiana — 81% eram homens, com média de 34 anos e, em sua maioria, soldados. O contingente representa 32,3% do efetivo das dez localidades participantes do estudo.
Segundo a pesquisa, 27,5% dos entrevistados tiveram exposição a casos de covid-19. Outro dado destacado pelo estudo é quanto ao uso dos equipamentos de proteção individual (EPIs): 99,2% disseram sempre usar máscaras, 23,2% luvas e 9,6% protetores faciais.
— Temos acompanhado, desde o início, o nosso efetivo de mais de 18 mil brigadianos. Desde maio, todos que apresentarem síndrome gripal realizam o exame PCR. O dado de prevalência de 3,3% é muito compatível com o que observamos na incidência da doença — avaliou a major Andressa Prestes Stolz, do Departamento de Saúde da Brigada Militar.
Para efeitos de comparação, os testes aplicados na última etapa da pesquisa Epicovid19-RS, da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), estimaram que 1,22% da população gaúcha já tenha desenvolvido anticorpos. O estudo coordenado pela Santa Casa ocorreu nas mesmas dez cidades em que a Epicovid é realizada e no mesmo período.
Avaliação dos resultados
Foram submetidos aos testes somente policiais da BM que não tiveram sintomas. Conforme os pesquisadores, o estudo buscou verificar quem eventualmente estivesse com o vírus em atividade, mas também aqueles agentes que já tivessem tido contato anterior com o coronavírus.
Os policiais de Passo Fundo, no norte do RS, foram os que mais apresentaram anticorpos para a doença. Na sequência, aparecem as cidades de Canoas, na Região Metropolitana e Caxias do Sul, na Serra. Já Pelotas e Santa Cruz do Sul não apresentaram agentes que desenvolveram os anticorpos para a doença.
— Isso mostra o que é a covid-19: uma doença desigual. Ela acontece em grupos, em bolsões. Por algum motivo, Passo Fundo teve, pelo menos na BM, uma concentração maior dessa exposição e produção de anticorpos. No caso de Pelotas, esses números podem mostrar que a doença chegou depois na região sul — afirma Pasqualotto, alertando que o estudo avalia os policiais militares e não toda a população.