Polícia



Extorsão

Estelionatários usam nome de delegado gaúcho para aplicar golpe dos nudes

Criminosos se passam pelo policial Alex Assmann, de Lajeado, para ameaçar e pedir dinheiro a pessoas que trocaram fotos íntimas na internet

22/09/2020 - 08h48min


Jeniffer Gularte
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Polícia Civil / Divulgação
Delegado Alex Assmann é titular Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento de Lajeado

O nome do delegado Alex Assmann tem sido usado por estelionatários para tirar dinheiro de vítimas do golpe dos nudes. Desde junho, o titular da Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento (DPPA) de Lajeado, no Vale do Taquari, recebe dezenas de ligações de pessoas que acreditam que estão sendo ameaçadas pelo policial via aplicativos de mensagens.

O crime começa a partir de um convite de amizade de uma mulher jovem pelas redes sociais e o início de uma conversa. A troca de mensagens migra para o WhatsApp e os diálogos avançam para a troca de fotografias íntimas, popularmente conhecidas como nudes. A jovem então some e entra em cena o estelionatário se fazendo passar pelo delegado Alex Assmann. 

Em outro numero do aplicativo de mensagens e usando fotos do delegado encontradas na internet, o suposto policial avisa que a jovem seria uma adolescente e que a vítima praticou crime de pedofilia ao trocar imagens íntimas com ela. A pessoa que se passa por delegado pede dinheiro para arquivar a ocorrência.

O golpe dos nudes não é novo. É investigado pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul há mais de um ano, mas o uso do nome de delegados se tornou uma forma de sofisticar o crime. O delegado André Anicet, da Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), afirma que já identificou o nome de pelo menos 10 policiais que são usados em extorsões desse tipo:

— Colocam a parte do "policial" para tentar dar mais credibilidade à história. Infelizmente, a gente vive em uma sociedade em que muita gente prefere pagar do que responder pelo crime. E a vítima acredita que pagando eles vão parar. Mas não é o que acontece, continua sendo extorquida para pagar mais e mais dinheiro.

Maioria das vítimas são homens

Delegado há 10 anos, Assmann conta que pessoas de outros Estados passaram a ligar para a DPPA de Lajeado pedindo para falar com ele, perguntando se o policial estava em contato com elas:

— Gente de Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Maranhão, Distrito Federal e Minas Gerais. Me perguntavam: "O senhor me ligou? Mandou mensagem?". 99% são homens, que falam constrangidos que precisam falar só comigo. Alguns demoram até a abrir a história. Muitos chegaram a depositar os valores de R$ 1 mil, R$ 2 mil até R$ 3 mil.

Anicet afirma que o golpe também tem feito vítimas gaúchas e orienta o registro de ocorrências _ que pode ser feito pela Delegacia Online. Assmann alerta que a mesma pessoa que se passa pela jovem pode se fazer passar pelo policial, sem que a vítima desconfie.

— O estelionatário compra um chip em qualquer lugar, cria um perfil falso e coloca uma foto minha que achou em pesquisas na internet. Na foto, estou com camisa da polícia. Chegam constrangendo a vitima dessa forma, que fica aflita e preocupada e acaba depositando. Às vezes, não deposita e se dá conta que é golpe — conta Assmann.

Antes de conversar com pessoas que se dizem delegados, é importante ter conhecimento de que a Polícia Civil não entra em contato com vítimas ou suspeitos de crimes por aplicativos de mensagem. Por ser um órgão público, suas ações passam por formalidades, como ofícios e intimações.

— Não vou ligar ou começar a conversar com alguém sobre investigação. Chamamos a vítima ou o suspeito na delegacia formalmente. É um trabalho que segue uma oficialidade. Se tu é suspeito, a polícia vai bater na tua porta, com uma intimação e te chamar na delegacia. É assim que funciona —  diz o delegado.

Em uma das ligações, uma vítima de Rondônia perguntou se Assmann trabalhava no Departamento Estadual da Criança e do Adolescente (Deca), pois a pessoa nas mensagens havia feito essa afirmação. Assmann nunca foi lotado no Deca.

— Os estelionatários são criativos e a tentativa de extorsão pode durar dias, até semanas _ avisa o delegado de Lajeado.

Crime tem origem nas penitenciárias gaúchas

Tudo na internet deixa rastros e são estas pistas que a Polícia Civil utiliza para chegar até os criminosos. Perfis falsos, números de telefones, contas bancárias e ligações podem ser rastreadas. No Estado, o crime é praticado por várias pessoas, segundo Anicet, e, na maioria das vezes, tem origem dentro das penitenciárias.

— Já cumprimos mandados de busca nas penitenciárias de Charqueadas e Montenegro e no Presídio Central. Pegamos celulares e elementos para apuração e responsabilização dos envolvidos. Todos os que conseguimos identificar até hoje vêm de dentro de presídio, usando pessoas de fora para arrecadar os valores.

Sobre as imagens de mulheres jovens enviadas às vítimas, Anicet afirma que são pegas na internet ou são de suspeitas que também podem estar envolvidas no golpe:

— É preciso desconfiar de supostos namoros repentinos, de alguém que a pessoa jamais viu na vida, sem conhecer pessoalmente, já dizer que está apaixonado, isso não existe.

Como não cair no golpe

  • Evite iniciar conversas por meio de aplicativos de mensagens com perfis desconhecidos
  • Não troque fotografias que possam ter conotação íntima por meio de aplicativos como WhatsApp ou Messenger
  • Evite conversas por meio de aplicativos com prefixo telefônico desconhecido
  • Policiais não irão mandar mensagens ou ligar para falar de investigações. Se a polícia lhe procurar, será intimado formalmente para ir até a delegacia
  • Se alguém dizendo que é policial lhe procurar, ligue para a delegacia que ele diz estar lotado
  • Não faça depósitos, transferências ou pagamentos para desconhecidos
  • Desconfie de pessoas desconhecidas que demonstrem interesse afetivo repentino
  • Evite envolvimento ou namoro com pessoas que você não conhece pessoalmente
  • Se for vítima de algum golpe ou de tentativa de abordagem desse tipo, procure a polícia e registre ocorrência

Fonte: Polícia Civil


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