Sexta vítima
Mais um ciclista relata ter sido perseguido e ameaçado por motorista de Voyage branco em Porto Alegre
Jovem procurou polícia na manhã desta segunda-feira, após saber que outras pessoas tinham sido atacadas
Após acompanhar o pai até o trabalho, um morador de Porto Alegre retornava para casa de bicicleta na manhã de 10 de agosto quando passou por um susto. O jovem de 26 anos conta que seguia pela Avenida Edvaldo Pereira Paiva, a Beira-Rio, quando foi perseguido por um Voyage branco. Logo depois, o mesmo condutor teria parado e feito ameaças com uma chave inglesa.
Nesta segunda-feira (31), ao saber, por meio da reportagem publicada em GaúchaZH, que outras pessoas contam ter passado por situações semelhantes, o rapaz procurou a polícia.
O jovem diz que pedalava pela Beira-Rio, em direção à Avenida Ipiranga, logo atrás de um caminhão. Próximo à Rótula das Cuias, o carro branco passou perto, em um comportamento que ele estranhou. No início, o ciclista chegou a pensar que pudesse ter irritado o condutor de alguma forma.
— Veio jogando o carro para cima de mim. E começou a me xingar, de forma gratuita. Eu desviei a bicicleta. Na hora, até pensei que podia ter feito algo. Ele passou e foi embora. Entrei na ciclovia e ele ficou no sinal, parado, baixou o vidro e ficou me olhando, encarando — diz o jovem, que pediu para ter a identidade preservada.
O ciclista seguiu o trajeto até a travessia para a Avenida Ipiranga, acreditando que o veículo já havia seguido seu caminho. Quando pretendia atravessar a faixa de pedestres, mais uma vez, o motorista — que seguia em direção à Zona Sul — tentou atingi-lo.
— Quando fui atravessar a rua, ele veio com uma velocidade muito alta, para me pegar. Segurei a bicicleta e ele passou com o carro, e parou mais adiante, a uns cinco metros — recorda.
Neste momento, segundo o ciclista, um homem desceu do carro com uma chave inglesa na mão. Ele teria intimidado o jovem e feito provocações.
— Quer brigar? Quer brigar? — teria insistido.
— Na hora que ele desceu, fiquei olhando porque pensei que ele poderia estar armado. Mas desceu com essa chave inglesa grande. Ficou me chamando para a briga. Atravessei a faixa de pedestres, para a ciclovia, e perguntei se ele estava doido. Fiquei assustado, mas pensei que era algo do calor do momento. Continuei meu trajeto — conta.
O horário relatado pelo jovem coincide com o de outros ciclistas ouvidos pela reportagem — o caso dele aconteceu por volta das 7h30min. O rapaz, que começou a pedalar no início deste ano como forma de deslocamento e atividade física, por conta da pandemia do coronavírus, diz que mudou o trajeto após o episódio, para evitar de se encontrar com o mesmo motorista. Até então, ele não havia procurado a polícia porque acreditava que tinha sido um caso pontual.
— Hoje de manhã, meu pai ouviu na rádio (Gaúcha) que tinha acontecido com outras pessoas. Não estou mais utilizando aquela via, mas fiquei preocupado com outras pessoas, que podem acabar caindo, se machucando. Esse é meu receio. Por isso, decidi registrar, para que não aconteça com outras pessoas — afirma o rapaz, formado em Direito, que nesta segunda-feira registrou o caso no Palácio da Polícia.
Outros casos
Além do caso relatado pelo jovem, pelo menos outros cinco já chegaram ao conhecimento da Polícia Civil. A investigação é conduzida pela Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), sob responsabilidade do delegado Marco Antônio Duarte de Souza. A orientação, segundo o policial, é para que as pessoas façam o mesmo que o rapaz e registrem os fatos.
Um dia após o ataque ao rapaz, um casal foi alvo também na Beira-Rio, em horário aproximado. O arquiteto de 33 anos e a engenheira civil de 28 anos pedalavam em direção à Zona Sul. Eles contam que o motorista começou a buzinar, derrapar e empurrá-los para fora da pista. Assustados, os dois precisaram ingressar na ciclovia apressados, batendo no meio-fio. Eles também registraram o episódio e foram ouvidos na investigação.
Embora os ciclistas relatem que se trata do mesmo Voyage branco, e tenham anotado as placas, a polícia diz que ainda precisa confirmar, com provas, de que se trata deste carro e do condutor. Em todos os casos, as vítimas contaram ter sido perseguidas, mas nenhuma chegou a se ferir. Ainda assim, segundo a polícia, o motorista poderá ser responsabilizado por tentativa de lesão corporal ou mesmo tentativa de homicídio, dependendo da análise de cada situação. Além da autoria, a polícia apura também a motivação dos ataques.
— Não identificamos que seja um ataque contra pessoa específica. Trabalhamos na confirmação do veículo e da autoria — afirmou o delegado.