Crime organizado
Investigação confirma que assassinato do maior delator de facções do RS foi cometido por grupo gaúcho
Douglas Gonçalves Romano dos Santos, 23 anos, foi morto em fevereiro, em Balneário Camboriú (SC)
Uma investigação que uniu as polícias do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina identificou oito pessoas envolvidas na morte de Douglas Gonçalves Romano dos Santos, 23 anos. Ele foi executado a tiros em 23 de fevereiro, em Balneário Camboriú, no litoral catarinense, onde estava residindo. Delator de uma facção com berço na zona leste de Porto Alegre, chegou a integrar programa de proteção a testemunhas, do qual se desligou em janeiro deste ano.
O inquérito concluído nesta segunda-feira (26), quase oito meses após o crime, indiciou sete pessoas por homicídio qualificado — uma adolescente também será responsabilizada em procedimento separado. Dos sete, cinco tiveram prisão preventiva decretada, sendo três presos atualmente e dois foragidos, um já estava preso (e não teve nova prisão expedida) e um está em liberdade.
Segundo o delegado Divisão de Investigação Criminal (DIC) de Balneário Camboriú, Ícaro Freitas Malveira, três participaram efetivamente da execução — um deles está entre os foragidos. Dois foram identificados como lideranças que teriam ordenado o crime — os dois estão presos (um teve nova prisão preventiva decreta e o outro não). Os dois foragidos, segundo a polícia, são moradores de Porto Alegres. São eles Nathanel dos Santos Fernandes e Daiana Fontela Camilo.
— Reunimos provas diferentes que levam até as mesmas pessoas. Todos vão responder pelo homicídio qualificado, uns como autores, outros como partícipes. E seis vão responder também por organização criminosa — explica o delegado.
Em 2017, Douglas realizou uma colaboração premiada no RS e, por conta disso, várias pessoas foram presas, drogas apreendidas e homicídios solucionados. Ele passou a integrar programa de proteção a testemunhas, mas se desligou em janeiro deste ano. Em Santa Catarina, chegou a sofrer um atentado a tiros em uma boate dias antes de ser morto.
A polícia gaúcha já vinha acompanhando as movimentações do delator em Santa Catarina. Sabia-se do risco de ele ser executado. Segundo a delegada Vanessa Pitrez, do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), chegou a ser feito contato com a polícia catarinense, alertando para essa possibilidade.
— Antes dele ser morto, houve pelo menos dois atentados. Ele sofreu o atentado na boate, onde levou o tiro na perna e também invadiram a casa onde estava morando com outras pessoas, mas ele não se encontrava. E o terceiro, quando acabou sendo morto. Foi uma queima de arquivo — afirma.
Segundo a delegada, uma força-tarefa chegou a viajar ao Estado vizinho, onde permaneceu por uma semana, e no retorno continuou em constante troca de informações. Diligências, como buscas, depoimentos e prisões foram realizadas no RS, durante as investigações. Atuaram na força-tarefa agentes da Divisão de Inteligência do DHPP e policiais da 5ª DHPP de Porto Alegre, que também trabalharam na delação.
A polícia descobriu que o grupo criminoso usou um veículo roubado para viajar até Santa Catarina e cometer o crime. O paradeiro de Douglas, no entanto, foi descoberto após uma postagem feita por ele mesmo no Facebook.
— Uma equipe daqui deslocou para Santa Catarina, fez diligências preliminares lá e averiguou-se a grande possibilidade, a qual veio a se conformar, de que os executores seriam do Rio Grande do Sul, especificamente de Porto Alegre, e teriam ido a Santa Catarina para matar o Douglas — explica a delegada.
A delação
Douglas respondia 18 processos por homicídio e era testemunha em pelo 40 casos envolvendo a organização criminosa. Mais de 150 prisões preventivas foram obtidas pela polícia contra o grupo, após a delação. Lideranças do grupo também foram isoladas em penitenciárias federais. Mesmo com a morte do delator, segundo o Tribunal de Justiça do RS, os processos seguirão. Os relatos feitos por ele foram gravados.