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Superação

Como está a vida do bebê atingido por bala perdida em Passo Fundo há seis meses

Erick Boeira foi atingido por um tiro na cabeça quando estava no colo da mãe na noite de 21 de agosto de 2020

19/02/2021 - 10h23min


Jeniffer Gularte
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Seis meses depois de ser atingido por uma bala perdida quando estava no colo da mãe, Erick Boeira, dois anos e dois meses, já engatinha, para em pé e come sozinho. A família Boeira Pena, de Passo Fundo, no Norte, teve sua vida virada no avesso na noite de 21 de agosto do ano passado, quando, a bordo de um Gol vermelho, dobrava a esquina de casa no bairro São Luiz Gonzaga e viu o caçula ser atingido com um tiro na cabeça. Na época, a criança tinha um ano e nove meses.

Após 33 dias internado, duas cirurgias e uma semana de sedação no centro de terapia intensiva (CTI) do Hospital São Vicente de Paulo, Erick teve uma recuperação improvável. À família, os médicos davam 98% de chance do quadro da criança evoluir para morte cerebral. O bebê chegou em coma à instituição, após ter o primeiro atendimento no Hospital de Clínicas de Passo Fundo. A bala entrou do lado direito, atrás do ouvido, e se alojou no meio do cérebro, do lado esquerdo. Depois de uma semana desacordado e sob medicação para a diminuição do metabolismo cerebral, o bebê passou a apresentar evolução do quadro e começou a acordar gradativamente.

Em casa desde o final de setembro, Erick se recupera com a supervisão dos pais e a companhia do irmão mais velho, Enzo, quatro anos. O próximo desafio da criança, que deu os primeiros passos com 11 meses, é voltar a andar.

— Ele não caminha ainda, mas está melhorando dia a após dia. Evoluiu muito e já brinca com o mano. A recuperação está mais rápida do que a gente imaginava. Come de tudo e sozinho. Ele voltou ao que era antes, só a parte motora que ainda não recuperou por completo — afirma o pai, o gesseiro Robson Boeira, 33 anos.

Parte do tratamento de Erick inclui fisioterapia três vezes por semana. Os esforços são concentrados em recuperar os movimentos e a força dos membros do lado esquerdo do corpo, debilitados após o tiro. A criança mantém acompanhamento com pediatra e neurologista e toma apenas um medicamento diário, para evitar convulsões.

Carinho da comunidade

A vida da família mudou desde que Erick voltou do hospital, a criança exige mais atenção e a superação do menino despertou a curiosidade de vizinhos e desconhecidos. Toda vez que é reconhecido na cidade, o garoto é observado com olhares de perplexidade.

Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Erick já consegue se equilibrar de pé

— Temos contato com pessoas de longe que mandam mensagem querendo saber dele, a história sensibilizou muita gente. Algumas passavam na frente de casa para ver se enxergavam ele. Fomos levá-lo para cortar o cabelo e quando ele foi reconhecido, o cabeleireiro ficou emocionado. As pessoas criaram um carinho — conta a mãe, a dona de casa Juliana Lima Rodrigues, 31 anos.

Devido a pandemia, a família não comemorou o aniversário de dois anos do garoto, em 23 de novembro, mas espera que neste ano possa reunir amigos e familiares para uma festa. A cada novo movimento do filho, os pais vibram. Erick consegue descer do sofá e da cama, para de pé apoiado no portão ou se equilibra sozinho. A partir de agora, a criança vai começar a usar uma bota ortopédica e uma tala na mão esquerda para auxiliar na reabilitação.

— Achávamos que ele teria algumas restrições, que iria precisar de sonda para se alimentar, mas não. Quando ele voltou do hospital, não mexia praticamente nada do lado esquerdo e caia para o lado quando sentava. Fomos surpreendidos por essa recuperação. No começo da fisioterapia, não conseguia engatinhar e agora circula pela casa toda, brinca. Fala de tudo e se expressa muito bem. Ele é superesperto, adora ver desenho e brincar com o irmão. Ele não mudou a personalidade, voltou a ser a mesma criança. O mano conta os minutos para ele voltar a andar e sempre pede isso nas orações — relata a mãe.

Além de se esforçar para a recuperação do caçula, a família também lida com o trauma do que viveu na noite de 21 de agosto do ano passado. Trocaram de veículo e, nos primeiros meses, evitavam sair à noite.

— Passar no local onde tudo aconteceu, especialmente à noite, me dá uma sensação ruim, faz lembrar de tudo. Com o tempo vai passando. Foi um susto muito grande. A família se uniu muito mais. Já éramos bem apegados, mas isso aumentou. Olho para o meu filho e, às vezes, nem acredito que ele está com a gente depois de levar um tiro com a gravidade que foi. Os médicos mesmo nos disseram que ele tinha chances de sequelas graves, como ele é muito novo, não nos deram um diagnóstico certo.

Autor confesso responde a processo em liberdade provisória

Cinco dias após o crime, Tailor Rodrigues Fortes, 31 anos, apresentou-se à polícia e admitiu que realizou três disparos na noite do dia 21 de agosto de 2020. Em depoimento, o autor confesso afirmou que estava caminhando acompanhado de um casal quando dois homens ameaçaram atacá-lo com uma faca. Foi então que efetuou os disparos. Segundo ele, um tiro foi efetuado para o alto e dois em direção à dupla.

A Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Passo Fundo, indiciou o homem por tentativa de homicídio e porte ilegal de arma. O Ministério Público ofereceu denúncia em 3 de setembro por tentativa de homicídio qualificado. 

Fortes foi preso preventivamente e detido no Presídio Regional de Passo Fundo em 26 de agosto. Recolhido, pediu transferência para o Presídio Estadual de Carazinho. Em 26 de janeiro de 2021, em audiência, a 1ª Vara Criminal de Passo Fundo concedeu o benefício de Fortes responder o processo em liberdade provisória.



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